A maior operadora de TV a cabo e banda larga dos EUA, a Comcast, está trabalhando no desenvolvimento de um serviço de CDN (Content Delivery Network) que já está sendo oferecido a clientes que tenham interesse em distribuir seus conteúdos especificamente aos usuários de banda larga da Comcast, de maneira otimizada. A informação foi tornada pública pela primeira vez pelo noticiário Streamingmedia.com esta semana, e provocou uma certa polêmica por ser, potencialmente, uma ameaça à neutralidade da rede. O serviço da Comcast, entretanto, em nada difere de concorrentes que hoje dominam o mercado de CDNs, como a Akamai, Amazon e a Limelight. A novidade é que é um produto da empresa que tem acesso aos usuários finais. A Comcast também não esconde que sua ideia é customizar o serviço às suas redes, que devem chegar a 30 milhões de usuários até o final do ano, com a compra da Time Warner Cable. No entanto, a operadora negou que o serviço crie qualquer forma de privilégio ou via exclusiva para os conteúdos dessa CDN, justamente porque para a Comcast é importante, nesse momento, não colocar em questionamento os princípios das regras de Open Internet, da FCC, que estão em consulta mas já sinalizaram que em hipótese alguma será admitido bloqueio ou degradação a conteúdos.
O caso é mais um dos exemplos de quão complexa e intrincada ficou a questão da priorização do tráfego nos modelos de negócio praticados hoje. Por exemplo, a Comcast tem uma estrutura muito semelhante à que está oferecendo para seus conteúdos on demand, e ela não é a única empresa a fazer isso. Todas as grandes operadoras de banda larga que nos últimos anos investiram no serviço de VOD têm hoje grandes estruturas de servidores e links dedicados apenas a assegurar que os conteúdos sejam entregues com qualidade para os consumidores.
Outro complicador na análise da estratégia da Comcast é que ela corta um intermediário, o que em tese reduz custos para o usuário final, mas pode prejudicar o quadro competitivo. Provedores tradicionais de CDN teriam dificuldade de competir com a própria empresa que controla a rede de acesso e as estruturas dos headends. Da mesma maneira, quando a Verizon e a Comcast celebraram acordos de interconexão direta com a Netflix para streaming de conteúdos em suas respectivas redes de banda larga, grandes empresas que faziam esse serviço, como Level 3, Cogent e a própria Akamai, protestaram por se sentirem vulneráveis na disputa com os grandes provedores de banda larga.