Empresas de torres melhoram índices de telecom na América Latina, aponta estudo

Antena de telecomunicações. Foto: Pexels

Países da América Latina com maior presença de operadoras independentes de torres possuem melhores índices de cobertura, qualidade e investimentos em telecomunicações, concluiu um estudo ao qual TELETIME teve acesso.

Realizado pela consultoria Telecom Advisory Services a pedido da SBA Communications, o levantamento avaliou a relevância do setor em 12 países da região. Das cerca de 191 mil torres presentes nos mercados, metade era detida por empresas especializadas. A maior participação ocorreu justamente no Brasil, onde 72% do parque de cerca de 70 mil torres estaria nas mãos de empresas independentes de infraestrutura.

Participações relevantes também foram notadas no Chile (58% das torres com "torreiras") e na Costa Rica (53%). Todos são parte do grupo de "líderes" quando o assunto é a presença de operadoras independentes – e que também teriam melhor desempenho em importantes indicadores de serviços de telecom.

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Segundo o estudo, os mercados com mais de 52% de torres detidas por empresas independentes contam com uma cobertura 4G maior do que os demais (97% da população contra 90%), uma banda larga sem fio 12% mais rápida (em média 33 Mbps contra 29 Mbps) e investimentos em telecom 31% maiores (US$ 21 per capita em comparação com US$ 16 per capita).

Outro reflexo seria sobre os custos, com a banda larga móvel custando um terço nos países líderes em comparação com os demais, em termos de renda per capita. "Os países com mais torres de empresas independentes oferecem melhor serviços, menores preços e mais competição. Todas as métricas apontam que [as empresas de infraestrutura passiva] são boas contribuidoras para a indústria", resumiu o presidente da Telecom Advisory Services e um dos autores do estudo, Raul Katz.

Em entrevista ao TELETIME, o especialista colocou o crescimento dos players especializados em torres como parte de uma busca das operadoras móveis por eficiência iniciada há alguns anos com a alienação estratégica de parte dos ativos. A possibilidade de redução dos investimentos diretos na infraestrutura seria ainda mais importante no momento atual, no qual as teles buscam se tornar empresas digitais para evitar uma "comoditização" pelas empresas de aplicações na Internet (OTTs).

"As operadoras de telecom estão passando por grandes transformações, como deixar de ser empresas de infraestrutura para se tornarem empresas digitais, que precisam saber as necessidades do consumidor. A habilidade de compartilhar infraestrutura e se apoiar em empresas independentes faz parte dessa migração", notou Katz, citando investimentos em novas tecnologias (como inteligência artificial) e talentos como melhores empregos para recursos das teles.

Em comunicado, a Abrintel (associação que reúne empresas de infraestrutura de telecom) também destacou as descobertas do estudo encomendado pela SBA – que faz parte da entidade.

"O modelo de negócios com base em atores independentes de infraestrutura, consolidado mundialmente e em crescimento na América Latina – e, em particular, no Brasil –, traz benefícios econômicos ao aliviar os custos dos prestadores de serviços de telecomunicações, aliviando seus caixas para investimentos em novas tecnologias e melhorias urbanísticas e ambientais", notou o presidente da Abrintel, Luciano Stutz.

Políticas

Raul Katz explicou ao TELETIME que a correlação entre qualidade dos serviços e a presença das empresas de torres já era apontada por pesquisas em nível global. A diferença sobre o estudo para a América Latina é que apenas players independentes (ou sem ligação societária com as operadoras da região) foram considerados.

Mundialmente, a região seria uma das mais avançadas na presença de empresas de infraestrutura, ficando atrás de países do sudeste asiático (91% das torres detidas pelo setor, segundo dados do Banco Mundial) e do sul da Ásia (75%). Ainda assim, novas políticas públicas seguem consideradas necessárias em mercados latino-americanos, afirma Katz.

Entre os desafios, a falta de harmonia entre diferentes níveis de governo foi apontada pelo consultor como um dos fatores críticos regionalmente. Um exemplo seria a Argentina, onde a grande autonomia de municipalidades para definição de preços e prazos ajuda a explicar os apenas 10% de torres nas mãos de especializadas. Mesmo no Brasil – que tem lei nacional desde 2015 -, essa harmonização em nível local é complexa.

Dessa forma, a garantia de aprovações rápidas para infraestrutura de suporte a telecom e limitações para cobranças em licenciamentos puxam a lista de propostas para a região. Políticas específicas para cobertura de áreas rurais e para a tecnologia 5G – que deve exigir maior densificação das redes de acesso – também foram lembradas, bem como a manutenção do status imobiliário do ramo de negócios.

O aspecto urbanístico foi outro recordado por Raul Katz – que defendeu a importância de regras de distanciamento mínimo para prevenir impactos como a poluição visual. "A redundância de torres não é boa economicamente nem ambientalmente", afirmou o presidente da Telecom Advisory Services. No Brasil, legislação que exigia o distanciamento de 500 metros entre torres foi extinta em 2021.

Segurança jurídica a partir da estabilidade de regras foi outro ponto destacado pelo especialista da consultoria norte-americana. "O setor precisa de garantias de longo prazo, pois o retorno para investimentos em torres pode variar entre cinco e 10 anos", apontou Raul Katz. Já o crescimento das empresas do ramo para segmentos como fibra óptica e energia alternativa foram relembrados como indicativo da importância crescente dos players de infraestrutura passiva para a indústria.

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