A Associação Brasileira de Infraestrutura e Serviços de Cloud (AbraCloud) quer avançar na defesa da soberania dos dados brasileiros a partir do fortalecimento da cadeia local de nuvem e de hardware. Em entrevista ao TELETIME, o presidente da entidade e CEO da Under, Roberto Bertó, afirmou que a urgência em debater o tema está relacionada ao crescimento recente do mercado de inteligência artificial (IA).
A preocupação, de acordo com o executivo, é de que o Brasil possa ficar para trás na corrida global da IA. "Precisamos preparar o Brasil", explicou Bertó. Ao garantir um cenário de indústria e cadeia digital forte, com desenvolvimento nacional de tecnologia, o País poderia depender menos da importação de softwares e processamento oriundos de outros países, segundo o presidente da associação.
Caso esse cenário não se concretize, o presidente da AbraCloud prevê um ambiente com desafios regulatórios. "Qualquer política que a gente precise como sociedade brasileira para utilizar ou regular a IA, não vamos conseguir, porque [as empresas do ramo] vão estar lá fora", comentou Bertó. Com isso, o executivo afirmou que a associação vai pleitear melhorias regulatórias, fiscais e de investimentos para fortalecer o setor de cloud no Brasil.
Diálogos
Para atingir os objetivos de fomentar o mercado de hospedagem nacional, a entidade (que representa 50 empresas de hospedagem) informou que pretende conduzir diálogos com a sociedade civil e, posteriormente, recorrer ao parlamento. Além disso, estão em vista ações de conscientização por meio de parcerias com entidades dos setores da indústria de Internet e telecomunicações.
"As pessoas ainda não estão tão sensíveis a isso porque é algo novo. O Chat GPT, por exemplo, tem pouco mais de um ano e foi por ele que o ser humano passou a ter contato pela primeira vez e em larga escala a uma inteligência artificial que consegue fazer algo muito prático. […] Isso é similar a grandes fatos históricos, como quando o homem pisou na Lua", disse Bertó.
O presidente disse ainda que a nova diretoria da AbraCloud (cuja posse ocorreu em setembro de 2023) está formando um grupo de trabalho para analisar possíveis projetos no Congresso, as ações já em andamento pelos governos federal e estaduais e oferecer sugestões de melhorias. O grupo ao qual Bertó se refere também irá apontar os impactos na indústria de nuvem gerados pela Reforma Tributária (em implementação no Brasil) e propor as alterações necessárias, se for o caso.
Indústria
Bertó apontou a alta carga de impostos sobre insumos tecnológicos como um dos grandes desafios para o avanço tecnológico das empresas nacionais. De acordo com ele, é necessário reduzir as taxas para que a indústria brasileira possa ter melhor desempenho frente ao resto do globo.
"O cenário tributário nacional precisa ser mais amigável não apenas para as empresas de cloud, mas para a população no geral, que consome esses produtos, e também precisa de incentivos. […] A população precisa se sensibilizar sobre a importância da IA, entender como a tecnologia funciona e quais são as barreiras que temos hoje para desenvolvê-la", afirmou.
Um dos exemplos de medidas apoiadas pela associação é o Processo Produtivo Básico (PPB), que institui um nível de nacionalização necessária para determinados produtos. Bertó argumento que sem o instrumento da Lei de TICs, a indústria nacional de computação não teria se desenvolvido. "Sem este incentivo, nós, nossos associados e a população estaríamos pagando substancialmente mais para processar e armazenar dados no Brasil", informou o executivo
Potência
Bertó disse que, apesar das barreiras e dificuldades, o mercado de provedores de cloud no Brasil conseguiu se tornar forte, potente e competitivo. "Hoje, empresas brasileiras podem contratar somente associados e provedores de cloud nacionais. Não é necessário contratar da Amazon [AWS] ou do Google", afirmou.
