Venda da PT só servirá para pagar dívida se não houver consolidação para Oi

Mesmo com uma dívida chegando a R$ 47,8 bilhões em setembro e com receita em queda, a Oi espera que seu plano de turnaround coloque todos os astros alinhados para conseguir vender seus ativos, especialmente os ativos das operações portuguesas, para financiar sua busca contundente pelo papel ativo em uma eventual consolidação do mercado brasileiro. Não ocorrendo isso, aí sim, o montante seria destinado para abater a dívida. Mas a intenção original é manter o plano de crescimento inorgânico: durante teleconferência para analistas nesta quinta, 13, o presidente interino e diretor de relações com investidores, Bayard Gontijo, repetiu inúmeras vezes o mantra: "Vamos ser protagonistas na consolidação do Brasil – aliás, já somos", disse ele.

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A justificativa de Gontijo é que o próprio mercado leva a esse movimento com sua competitividade crescente, alta demanda por investimentos e peso regulatório. "Assim, melhoramos a equação de retornos, investimentos e demanda de tráfego. A melhor maneira de fazer isso é com a consolidação", argumenta, acrescentando que há no momento um alinhamento entre todos os players. O executivo não definiu ainda exatamente como isso seria feito, mas afirma estar aberto a qualquer possibilidade. "Não temos preconceito em como isso vai acontecer, o que queremos é criar o máximo de valor ao acionista no processo".

O plano da Oi envolve necessariamente a venda da PT Portugal, atualmente com duas propostas na mesa, ambas valoradas em cerca de 7 bilhões de euros cada (da Altice e dos fundos Apax e Bain), para ajudar no financiamento. "É muito difícil alinhar e garantir que as coisas vão acontecer, mas assumimos compromissos que vamos usar o caixa da venda de ativos para, ou participar da consolidação, ou para pagar a dívida. O que podemos garantir é que será usado apenas para esse propósito", destaca. Ele garante também que não serão necessários empréstimos. "Se vendermos os ativos, não vamos gastar capital adicional para fazer isso, vamos vender sem acessar o mercado de equity". Vale lembrar aqui também que a Oi já está no limite de sua alavancagem, o que dificultaria tomada de mais empréstimos, embora destaque em sua apresentação de resultados que tem uma "sólida posição de liquidez e baixa necessidade de financiamento até ao inicio de 2016".

Ainda assim, o CEO interino diz não ter pressa para escolher entre as duas. "A coisa boa é que temos duas propostas. Estamos negociando, não quero colocar um deadline. Não estou preocupado com o tempo, e sim em entregar um bom valor para os shareholders", afirma. Ele diz reconhecer que a venda desse ativo é importante para o plano de consolidação, mas garante que tem "um bom espaço para entregar um bom negócio".

O executivo diz não ter preferência entre as duas propostas, mesmo em relação a impactos regulatórios no caso da Altice, que já tem atuação portuguesa. "A pergunta tem que ser feita ao regulador em Portugal (a Autoridade Nacional de Comunicações – Anacom). Eu não consigo ver, e é a opinião da Oi, nenhum tipo de risco com nenhum dos dois pretendentes", declara. A possibilidade de haver um veto dos acionistas portugueses, que poderiam estar interessados em manter o plano original de fusão com a brasileira, é minimizada. "Assim como outros acionistas ainda controladores da Oi, eles têm acordos de acionistas que votam alinhados. Nesse sentido, têm que estar todos de acordo com a proposta. Se algum deles se mostra conflitado no evento, ele pode deixar que outros decidam ou a gente pode submeter o assunto a uma assembleia", explica.

Gontijo é claro em rechaçar a oferta pública de aquisição (OPA) de ações da PT SGPS feita pela bilionária angolana Isabel dos Santos. A OPA, realizada através da empresa Terra Peregrin, totaliza um negócio de 1,21 bilhão de euros e tem como alvo as ações da empresa que tem como ativos apenas os títulos da dívida de 897 milhões de euros da Rioforte e a participação de 26,7% na Oi. "Não sabemos se será OPA ou tender offer, mas rejeitamos todas as condições e não queremos mudar nenhum ponto".

Mais vendas

Da mesma forma, há a venda de ativos na África, a Unitel, outra operação que Bayard Gontijo afirma não ter "constrangimento em relação ao tempo que essa transação vai levar". Segundo ele, a empresa não tem proposta, mas diz que continua avaliando o negócio e se mantém aberto. A empresária angolana Isabel dos Santos é sócia da Oi na Unitel, com 25% do capital da empresa, a mais problemática das operações africanas herdadas da PT.

Há também outros ativos na manga. Um deles é a venda de torres de celular anunciada em junho e que deverá ser concluída em dezembro, no valor de R$ 1,2 bilhão e um impacto no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBTIDA) "de rotina" de R$ 1 bilhão no último trimestre. Além disso, a operadora conta com aproximadamente mais mil torres que deverá vender também em 2015. Até o momento, a venda de ativos, que incluem mais torres, imobiliário e a companhia de cabos submarinos GlobeNet, durante os últimos 12 meses, afirma a empresa, gerou R$ 5,3 bilhões e um ganho de R$ 3 bilhões no EBTIDA de rotina.

Tiro ao alvo

Até pelas condições financeiras e por supostamente oferecer um valor menor (por ser partilhado), o objeto da compra, ao que tudo indica, continua sendo uma fatia da TIM, ainda que esta tenha rejeitado por inúmeras vezes haver negociações ou sequer uma real intenção de efetuar tal transação, que ainda precisaria ser aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e pela Anatel. A própria controladora, Telecom Italia, até reconhece que poderia ceder a uma proposta de valor irrecusável, mas diz que continua com os planos de operação normalmente. "Eu respeito eles (a TIM), acho que, novamente, eles têm a visão deles no processo. Até então, contratamos o BTG para ser nosso comissário, mas nosso negócio é criar valor", declara Bayard Gontijo.

"Estamos conversando com potenciais compradores, estão vendo conosco. Mas nada em termos de propostas concretas até então. É um processo longo, mas estamos andando e achamos que vamos cristalizar essa venda de ativos", conclui.

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