A desaceleração do segmento de banda larga tem afetado os resultados de fornecedores de equipamentos listados na Bolsa. No primeiro trimestre de 2024, esse cenário ainda adverso foi marcante no desempenho da WDC Networks, da Padtec e, em menor medida, da Intelbras. 

A vertical de telecomunicações da distribuidora WDC, por exemplo, apurou novas vendas de R$ 91 milhões nos três primeiros meses do ano. Isso representa recuo de 54,6% na base de comparação anual, segundo números divulgados na última semana. A receita líquida consolidada da divisão de telecom foi de R$ 104,8 milhões, neste caso com queda de 15,1%.

Segundo a empresa, as quedas foram motivadas pela desaceleração da base de assinantes em fibra no País. "No primeiro tri de 2024, houve aumento de apenas 0,04% ou 14 mil assinantes em relação ao volume reportado no primeiro tri de 2023", justificou a fornecedora, em balanço. 

"O fato é que o mercado vem desacelerando em termos de base de assinantes, e nós somos bastante representativos dentro do mercado. Portanto, é natural que, na medida em que a base de assinantes desacelera, a gente sinta na nossa performance", afirmou o CFO da WDC, Felipe Meldonian, em uma conferência com analistas de instituições financeiras. Telecom representa 40% das vendas totais da fornecedora. 

Por outro lado, a comercialização de ONUs (Unidade de Rede Óptica) em 12 meses até março totalizaria 870 mil itens, representando 30% de market share para a WDC sobre os 2,9 milhões de novos assinantes líquidos do mercado de fibra, destacou a empresa.

"De maneira positiva, destacamos o crescimento da representatividade do fornecimento de ONU Wi-Fi 6, que no primeiro tri representou 15,3% do total de ONUs vendidas, versus 9,5% registrado no mesmo período do ano anterior", afirmou a empresa. A margem da unidade de telecom também melhorou, para 24,5% ante 23,7% um ano antes.

No geral, a WDC fechou o primeiro trimestre com vendas totais de R$ 224 milhões (-37,2%) e receita líquida de R$ 209,5 milhões (-14,2%). Ainda assim, a distribuidora atingiu lucro líquido de R$ 4,7 milhões e margem Ebitda de 32,5%, após crescimento em nas vendas de cibersegurança, segurança eletrônica e na filial na Colômbia.

Padtec

Na fabricante de soluções ópticas Padtec, houve uma queda de 26,3% na receita líquida do grupo, para R$ 58,3 milhões no primeiro trimestre. O resultado foi mais acentuado na unidade de negócios de equipamentos DWDM no Brasil, que apresentou queda de 33,3%, somando R$ 35 milhões. Esse é um negócio que gerou R$ 210 milhões nos últimos doze meses até março.

"Após a escalada de crescimento das redes de telecomunicações no período da pandemia do COVID-19, o mercado e a cadeia de valor de equipamentos de telecomunicações vêm apresentando sinais de saturação por ajustes dos estoques e capacidades", indicou a fornecedora brasileira, no balanço publicado na última semana.

"Isso ocorre desde o segundo trimestre de 2023 na conectividade nos últimos acessos (casa cliente e empresas), tendo atingido a infraestrutura das redes de alta capacidade no coração das redes (os backbones ópticos) no segundo semestre e início de 2024. Esses sinais de saturação refletem-se em contração nas vendas, com efeitos correspondentes nos faturamentos – situação vivenciada por diversos players que atuam no ecossistema de telecomunicações", relata a WDC.

"Assim, em alguns casos as redes de telecomunicação acabam sendo usadas no seu limite máximo, pois os operadores e os provedores de Internet buscam otimizar a alocação de seu capital. Desafios macroeconômicos e geopolíticos somam-se a este cenário e, assim, esta cadeia de valor ainda deverá enfrentar outros ajustes ao longo do ano de 2024", alertou a Padtec.

Para reverter o cenário desafiador, a fornecedora tem buscado novas frentes de negócios. Em conferência com analistas na última semana, o CEO da Padtec, Carlos Remar Schoeninger, afirmou que a companhia está em busca de parceiros, seja via comercial ou mesmo equity, para desenvolver novas soluções no segmento de telecom. 

"Nessas companhias, estamos observando a capacidade de produção de software, plataformas ou competências em serviços para essa nova área de telecomunicação mais data center que possam fazer a diferença. Nós já operamos isso no dia a dia, mas ainda não produzimos", disse Schoeninger.

Outra alternativa são as vendas no mercado internacional, inclusive a partir de parceiras. No primeiro trimestre a Padtec registrou R$ 11,6 milhões em receitas geradas com DWDM para fora do País, em alta anual de 2,6%.

Intelbras

Outra companhia cujos números – divulgados no final de abril – foram avaliados por TELETIME é a Intelbras. Neste caso, a divisão de Tecnologia da Informação e Comunicação (onde entre a demanda de operadoras) somou R$ 219 milhões, em queda de 2,1% no primeiro trimestre.

A empresa, contudo, pintou cenário otimista. "As parcerias anunciadas no final de 2023 têm um potencial significativo para impulsionar o negócio. Embora os benefícios ainda não sejam totalmente evidentes neste primeiro período de trabalho, é importante destacar que a homologação de produtos e tecnologias para a atual base de clientes e novos clientes está em andamento, e as atividades iniciais de abastecimento dos novos portifólios
foram realizadas", afirmava o balanço da companhia.

"As primeiras vendas reportadas, ainda que pouco relevantes no período, nos abrem portas para esses novos mercados e novas oportunidades de crescimento". Vale notar que entre as apostas da Intelbras estão parceria com a chinesa FiberHome para fabricação de cabos de fibra no País e a demanda por equipamentos para banda larga fixa sem fio (FWA). 

No primeiro trimestre, a receita consolidada da Intelbras cresceu 0,2% (para R$ 1 bilhão) e lucro líquido de R$ 153 milhões (+16,6%). O segmento de energia da empresa caiu ainda mais que telecom (-7,7%), mas foi compensado pela vertical de segurança (+5,3%).