Número de escolas conectadas no Brasil ofusca predominância de tecnologias legadas

Par de cobre

Quando se olha os números do total de escolas públicas no Brasil e em quantas não há nenhum tipo de conectividade, a sensação que se tem é que o problema é de fácil solução. Afinal, para um total de 138 mil instituições de ensino básico públicas, 8,3 mil estão, de fato, totalmente desconectadas, ou pouco mais de 6%. Mas o desafio é muito maior.

Segundo os dados compilados pelo próprio Ministério das Comunicações a partir do painel de monitoramento criado pela Anatel, nada menos do que 55,7 mil estão conectadas pelo programa Banda Larga nas Escolas. Trata-se de um programa de conexão a escolas estabelecido como obrigação para as concessionárias de telefonia fixa em 2009 que previa a conexão de até 6 Mbps nas escolas públicas. O programa vai até 2025, quando terminam os prazos das concessões, mas há muito tempo está obsoleto justamente porque a tecnologia utilizada na época era o obsoleto ADSL. Outra programa que ainda tem papel fundamental na conectividade de escolas  é o GESAC, com quase 15 mil escolas, mas que é limitado a 10 Mbps ou, em alguns casos, 20 Mbps por escola. E ainda há 37 mil escolas conectadas por meio dos compromissos do edital de 4G de 2012, também utilizando satélite ou a rede móvel com 3 Mbps por escola. Ou seja, há ao menos 108 mil escolas que hoje dependem de conexões muito mais limitadas do que aquelas servidas por fibra ou tecnologias de capacidade similar, como rádio digital, 5G ou FWA. Nas escolas públicas do ciclo básico, penas pouco mais de 20 mil estariam, hoje, em condições de oferecer conectividade com propósitos pedagógicos plenos. 

Hoje, o próprio governo trabalha com o parâmetro de 1 Mbps por aluno como referência de conectividade necessária para fins pedagógicos. Durante o Seminário Educação Conectada, realizado pela TELETIME em Brasília nesta terça, 11, Pedro Lucas Araújo, diretor de investimentos e inovação do Ministério das Comunicações, apresentou os dados e reconheceu a necessidade de atualizar os parâmetros de conectividade em boa parte das escolas, e aposta que os programas financiados pelo Fust, pelo edital de 5G, pelos programas Norte e Nordeste Conectado começarão a fazer a diferença em relação à conectividade significativa para educação.

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Erich Rodrigues, presidente do grupo Interjato, que é representante dos pequenos provedores no Comitê Gestor do Fust e também participa de projetos de conectividade em escolas no Rio Grande do Norte, traz um exemplo que mostra como os dados muitas vezes são enganosos. "No Rio Grande do Norte a gente tinha a informação de que 66% das escolas estavam conectadas, mas quando fomos olhar, eram só 22%", diz.

Visão mais ampla

Para Alexsander Moreira, diretor de apoio à gestão educacional do Ministério da Educação, é preciso tomar muito cuidado com os registros, até porque muitas vezes os dados declarados pelos gestores das escolas podem levar a equívocos de interpretação. "Há ocasiões em que o diretor diz que a escola não tem energia, mas tem de outras fontes, e não da rede elétrica". Ele aponta o PIEC (Programa de Inovação Educação Conectada) como uma política essencial para assegurar a conectividade permanente em escolas, já que ela destina recursos para a contratação de acesso pelas escolas, mas lembra que o problema vai além da conectividade. "Temos que olhar para o todo. Não é só conexão na porta da escola, mas precisamos pensar na capacitação digital, nos currículos escolares, no WiFi dentro da escola, nos dispositivos. Muitas vezes os diretores não sabem o que podem contratar e nem ao que têm direito porque desconhecem o processo", diz ele.

 

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