Onde Dantas diz a verdade: na CPMI ou na Justiça de NY?

A declaração dos advogados do Opportunity apresentada à Justiça de Nova York no dia 13 de abril em que o grupo de Daniel Dantas diz ter sido pressionado pelo PT a contribuir com "dezenas de milhões de dólares" ao partido é falsa, ou falso é o depoimento de Daniel Dantas na audiência mista das CPMIs dos Correios e do Mensalão no dia 21 de setembro de 2005. Segundo a transcrição do depoimento de Dantas, o que foi dito na CPMI foi o seguinte:

"Deputado Relator Ibrahim Abi-Ackel (PP/MG): (…) alguém da parte do Governo tomou a iniciativa de procurá-lo para que o senhor ajudasse no pagamento de dívidas de campanha ou, de qualquer modo, fosse útil nas finanças de um determinado grupo ou partido?

Daniel Dantas: Não, ninguém do Governo nos procurou para pedir contribuição de campanha."

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Dantas, então, relata à CPMI um episódio em que, "antes do governo" (presume-se, na época da campanha de 2002), Ivan Guimarães teria apresentado um kit de contribuição do PT a Carlos Rodemburg (que "trabalha" no Opportunity, segundo Dantas). Ele diz que pode ter havido algum ressentimento porque Rodemburg teria devolvido o kit "pelo fato de não ter compreendido direito". Mais adiante, no mesmo depoimento, Dantas foi questionado novamente sobre o tema:

"Senador Álvaro Dias (PSDB/PR): (…) O senhor foi achacado pelo PT?

Daniel Dantas: Eu gostaria de dividir essa resposta, se V Exa. me permitisse, em duas. Se, porventura, nós tivéssemos sido extorquidos, ser extorquido não é crime. Crime é apenas extorquir. Isso não me motivaria a ter necessidade de pedir o habeas corpus. Nós não fomos achacados pelo PT.

Senador Álvaro Dias (PSDB/PR): Não houve extorsão? Não houve achaque?

Daniel Dantas: Não houve."

Dantas depôs à CPMI, em setembro passado, protegido por habeas corpus do Supremo Tribunal Federal. Não era obrigado, portanto, a dizer algo que o incriminasse. À Justiça de Nova York, seus advogados disseram: "Esse ódio e a perseguição (do governo e do PT) relacionavam-se à recusa do Opportunity a partir de 2002 e 2003 de aceitar a sugestão do Partido dos Trabalhadores de pagar dezenas de milhões de dólares ao partido governante para evitar novos assédios do governo ao Opportunity e ao Fundo CVC e por causa da decidida defesa do Opportunity do Fundo CVC contra ataques aquisitivos".
Não é a primeira vez que Dantas entrega à Justiça de Nova York "evidências" que não podem ser comprovadas. Há dezenas de emails e cartas supostamente enviadas por Dantas a outras partes, como ao Citibank ou a autoridades brasileiras, cuja autenticidade não pode ser verificada. Dantas começou a se dizer vítima do governo quando a Justiça de Nova York passou a impor-lhe ordens que o impediam de continuar na gestão das empresas brasileiras das quais foi demitido pelo Citibank e pelos fundos de pensão. Em vários momentos, chegou a insinuar que a suposta "perseguição" era uma orquestração do PT, da Telemar, da Telecom Italia e até mesmo da Telefônica contra ele.
As declarações dos advogados do Opportunity em Nova York sobre o suposto achaque a Dantas foram usadas pelo Senador Arthur Virgílio (PSDB/AM) como evidência de que o PT teria tentado extorquir o Opportunity. Nesta quinta, 11, o assunto foi tratado como uma grave denúncia pela imprensa brasileira.

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