O Memorando de Entendimento entre o governo brasileiro, Telebras, o governo da Espanha e a Hispasat está inserido em um contexto mais amplo, em que a operadora espanhola reforça sua estratégia de parcerias governamentais na América Latina.
Um documento similar foi firmado durante o Mobile World Congress com o governo da Colômbia. Na mesma ocasião, a empresa recebeu (e deu divulgação nas suas redes sociais) ainda o presidente do Paraguai, Santiago Peña, e o ministro dos transportes e telecomunicações do Chile, Juan Carlos Muñoz Abogabir.
No mesmo evento, o ministro Juscelino Filho já havia antecipado a assinatura do MoU, o que foi concretizado na visita oficial do presidente espanhol, Pedro Sánchez, ao Brasil, esta semana. Além de Brasil e Colômbia, os outros países ainda não anunciaram acordos com a Hispasat.
Os termos do Memorando de Entendimento entre Brasil, Espanha, Telebras e Hispasat, divulgados pelo portal Telesíntese, estabelecem que será um satélite operado no regime de "condosat", modelo de exploração em que várias empresas compartilham o mesmo satélite, mas com capacidades divididas (inclusive para fins contábeis) e operadas de maneira autônoma. A expectativa, segundo o MoU, é de que o artefato entre em operação até o final de 2027.
Com isso, essa capacidade não resolveria por si só o problema mais urgente da Telebrás, que é atender às demandas do programa GESAC, cujo contrato da estatal vai até o final de 2028, mas que tem metas a serem cumpridas ao longo de cinco anos.
A Hispasat
Ao jornal Valor, a Hispasat divulgou um custo estimado de US$ 300 milhões na construção e lançamento do satélite, o que está em linha com projetos padrão para satélites geoestacionários (é o mesmo preço estimado do Amazonas Nexus, lançado pela espanhola em 2023). "É pouco provável que alguém viabilize uma constelação de órbita baixa com esse orçamento", diz uma fonte do setor.
Ainda segundo fontes de mercado ouvidas por este noticiário, também seria praticamente impossível que um projeto, cujos estudos se iniciem só agora, esteja contratado, lançado e em operação no final de 2027, devido à fila de lançamentos e aos recorrentes atrasos de fabricantes. Isso significa que, para atender o Brasil, muito provavelmente o satélite será algum já em processo de construção pela Hispasat. O que precisaria ser definido é a capacidade dedicada ao Brasil, à Colômbia, eventualmente ao Paraguai e Chile, e à própria Hispasat.
Outra questão que teria que ser definida é o controle e a operação do satélite, se feita pela Hispasat integralmente ou se a capacidade brasileira seria operada pelo COPE, que foi construído para controlar e operar o SGDC. O MoU entre Brasil e Espanha, Telebras e Hispasat fala que o satélite será controlado a partir de seu centro de controle da Hispasat no Rio de Janeiro.
Um trunfo da Hispasat, contudo, é o acesso ao Fundo para a Internacionalização da Empresa (FIEM) gerido pelo Ministério de Economia, Comércio e Empresa da Espanha, e ao projeto Global Gateway da União Europeia, destinado a apoiar investimentos no setor digital, energético e de infraestruturas.