Com o edital do leilão 5G em consulta pública na Anatel, fornecedores de equipamentos de comunicação como a Motorola Solutions têm acompanhado com atenção a possibilidade de uma reserva de espectro para redes privadas destinadas a aplicações de segurança ou operações críticas. Em encontro com jornalistas realizado nesta quinta-feira, 5, o presidente da empresa no Brasil, Elton Borgonovo, defendeu que a opção seja levada em conta na formatação final do edital.
"A Anatel está ouvindo o mercado e o nosso posicionamento é que haver uma faixa de espectro para redes privadas é importante, seja para defesa, governos, grandes empresas ou operações críticas", afirmou o executivo. "Se não acontecer [a reserva], nós perdemos a oportunidade de ter redes privadas em 5G. É uma decisão estratégica que vai depender da agência".
Segundo Borgonovo, o tema foi endereçado na contribuição da Motorola Solutions à consulta pública em curso: entre as faixas de frequência que devem ser disponibilizadas no certame, o 3,5 GHz foi citado como principal possibilidade. Ainda assim, o presidente da fornecedora reconhece que a alternativa não agradaria as operadoras de telecomunicações.
"É sempre assim: as operadoras não querem que abra nada para as redes privadas, ainda que empresas e governos entendam que é necessário o espaço". Uma solução, contudo, poderia se espelhar no modelo adotado no leilão de 4G, quando a Anatel "abriu quatro pacotes de 10+10 MHz para as operadoras e destinou 5+5 MHz para segurança pública, defesa e infraestrutura crítica".
No caso do 3,5 GHz, o modelo proposto pela Anatel até o momento prevê um total de 300 MHz disponibilizados para leilão, sendo dois blocos nacionais de 100 MHz, um bloco nacional de 80 MHz e dois blocos regionais de 60 MHz, com um deles restrito a PPPs e novos entrantes. Questionados sobre opções para redes privadas em outras frequências, executivos da Motorola Solutions se mostraram céticos.
Gerente de desenvolvimento de negócios da empresa, André Fadel reconheceu que o uso do 450 MHz seria "muito interessante", mas pontuou que uma solução para o dilema sobre o uso da faixa – até então subutilizada pelas incumbentes e cuja retomada pela Anatel já foi considerada – "seria algo muito difícil". Já uma possível destinação em 26 GHz (como aventado na proposta do conselheiro da Anatel, Vicente de Aquino) esbarraria nas limitações de cobertura da frequência.
Equilíbrio
Segundo Elton Borgonovo, a operação brasileira da Motorola Solutions teria superado em 2019 o consolidado global da empresa – que registrou crescimento de 7% durante o ano passado. Hoje, a atuação da companhia no mercado doméstico estaria "mais ou menos equilibrada" entre contas de governos (com destaque para o fornecimento de soluções de comunicação para forças de segurança) e empresariais, onde grandes projetos com empresas como a Klabin (do ramo da celulose) estão em curso.