O Índice Setorial de Telecomunicações (Itel) subiu 2,76% nesta quarta-feira, 4, e acompanhou a alta da Bolsa, de 3,07%. Mas, ainda assim, o Itel continua abaixo de outros setores como o elétrico e o de mineração, que subiram até 7%. O Ibovespa apresentou forte alta nesta quarta-feira sobretudo em função do alívio após o Federal Reserve (Fed), banco central norte-americano, anunciar elevação do juro dos EUA em linha com o esperado e também porque as expectativas de inflação de longo prazo continuam contidas no país.
Mas, o analista de telecomunicações da corretora Banif Primus, Roger Oey, afirma que, para o setor, com pequenas exceções, os resultados dos balanços até agora divulgados não causaram nenhuma surpresa (faltam ainda os balanços da Telesp fixa e da Telemig). Em sua avaliação, Oey diz que a recuperação econômica dos segmentos em geral não se reflete nas operadoras de telecomunicações.
O tráfego da rede fixa tem decaído, afirma o analista, e as linhas estão estagnadas. O crescimento dos acessos ADSL (banda larga), que poderia representar aumento de receita, também contribui para "canibalizar" uma possível segunda linha. Em dados, o mercado é um dos mais competitivos e o preço do bit também tem caído. "Assim, a receita não cresce", diz. "Esse cenário não contribui em nada para o investidor ficar estimulado."
Móveis
Os balanços do primeiro trimestre das operadoras móveis foram um alívio temporário, na opinião do analista da Banif. Mas, já com a divulgação dos resultados do primeiro trimestre, os executivos sinalizaram que o segundo trimestre será bastante agressivo.
Para o analista, a atual safra de balanços não produziu nenhuma grande mudança. Se o setor poderia se beneficiar da fuga do investidor de outros setores com a queda de commodities (como mineração), por outro lado, os resultados apresentados pelas teles não tendem a melhorar em curto prazo e, portanto, não são atraentes para esse investidor. Ainda, o governo federal já sinalizou que buscará redução de tarifas públicas e, entre elas, as de telecomunicações, o que deixa o investidor ainda mais apreensivo.
Com tudo isso, e até que se definam questões como a tarifa de público para as fixas, em meados deste ano, essas teles são mais penalizadas porque o risco regulatório sempre está inerente aos seus papéis. As móveis não sofrem tanto porque não têm esse fator de risco, diz o analista.
Complicações
Há, ainda, para o setor, o imbróglio das complicações societárias, cujo expoente principal é a Brasil Telecom (BrT). Mas, a BrT não está sozinha. O setor ainda passará por uma forte fase de consolidação e definições, como o destino da Telemar, a solução Embratel/Net/Telmex e a própria BrT.
Até lá, o universo das telecomunicações, que já foi parte importante da composição do Ibovespa, com 42% de participação no índice, caiu para 30% no ano passado e pode fechar o primeiro trimestre deste ano com apenas 25% de participação no Ibovespa.
Por outro lado, o setor tem crescido a taxas de 7%, 8% ao ano, o que já é sintomático dos resultados das teles. Na comparação, há setores, como o de exportação, que crescem a taxas de 30%, 40% ao ano, e outros, ainda, como bancos e mineração, com crescimento de 100%. Com tudo isso, e como o investidor evita qualquer exposição exagerada, não há como o setor não ser penalizado pela queda de investimentos, diz Oey.