PF divulga áudio sobre saída de delegado

A tentativa do governo de se defender dos comentários de que a saída do delegado Protógenes Queiroz do comando da Operação Satiagraha foi gerada por uma intervenção superior acabou criando diversos desencontros ao longo desta quinta-feira, 17. Depois de várias idas e vindas, a Polícia Federal decidiu divulgar três trechos da reunião onde teria ficado decidida a saída do delegado. Estes trechos confirmam as declarações do governo de que Queiroz informou aos seus superiores que não pretende presidir mais nenhuma operação.
Logo no início do dia, circulou a informação de que o próprio Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, havia pedido a divulgação dos áudios da reunião. A idéia teria surgido após uma reunião entre o presidente, o ministro da Justiça, Tarso Genro, e o diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa. Porém, no início da tarde, o Palácio do Planalto resolveu desmentir a informação. Segundo fontes do Palácio, o áudio não seria divulgado porque, durante a reunião realizada na última segunda-feira, 14, foram discutidas outras operações além da Satiagraha e a fita poderia comprometer as investigações.
A própria PF informou oficialmente que não havia recebido pedido algum para a liberação das gravações por parte do Ministério da Justiça. No entanto, no final da tarde, a polícia mudou de idéia e tornou público três pequenos trechos do encontro que durou mais de três horas. Ao todo, os áudios mostram 3 minutos e 43 segundos das conversas, sendo que a mais longa das seqüências (2'44") possui um nítido corte no meio do diálogo travado entre o delegado Protógenes Queiroz e o diretor de Combate ao Crime Organizado, Roberto Ciciliati Troncon Filho.

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Seleção

A seleção feita pela PF encaixa-se quase com perfeição à nota divulgada pela autarquia na tarde de ontem sobre a saída de Queiroz. No primeiro trecho (veja abaixo a degravação completa), o delegado faz um mea culpa dos "erros" cometidos durante a operação, como o vazamento de informações sobre o momento da prisão do banqueiro Daniel Dantas, do investidor Naji Nahas e do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta.
"Houve a presença da imprensa aqui em São Paulo? Houve. Falhou? Falhou. Quem falhou? Queiroz falhou. Porque o Dr. Troncon me depositou e eu firmei compromisso com ele. Mas falhou ao meu controle", afirma o delegado Protógenes Queiroz.
As informações sobre a saída estão no segundo e no terceiro trechos divulgados. Pelos áudios, Queiroz afirma que não continuará nas investigações após sair do curso da Academia Nacional de Polícia, onde já iniciou sua especialização. "Eu não vou ficar presidindo, eu não pretendo presidir nenhuma investigação", afirma. Importante ressaltar que o nome "Satiagraha" não é pronunciado em nenhum momento nos três áudios.
Queiroz, no entanto, demonstra que pretende ficar até o final da investigação. "A minha proposta é: eu fico até o final da operação, até o final, porque eu criei um problema pros meus colegas delegados, né?", comenta o delegado. Mas o diretor de Combate ao Crime Organizado esclarece que ele tem até sexta-feira para concluir o trabalho ou a operação será repassada para outro investigador. "Se não conseguir, dentro da melhor técnica, falar 'ó, isso requer mais tempo, requer maior análise', ai a gente passa para um dos colegas", afirma Troncon.

Substituição

A substituição de Queiroz foi anunciada ainda na quarta-feira, 16. Em seu lugar, assumirá o delegado Ricardo Saad, atual chefe da Delegacia de Combate aos Crimes Financeiros da Superintendência de São Paulo (Delecin). Saad participou também da reunião onde foi debatida a saída de Queiroz e o andamento das investigações.
Em um dos trechos, Troncon demonstra que já existia um interesse, pelo menos do superintendente da Polícia Federal de São Paulo, Paulo de Tarso Teixeira, para que Saad entrasse na operação. "O Saad tá aqui, porque eu pedi que ele participasse, porque ele está como chefe da Delecin. O superintendente está entendendo que ele vai permanecer, isso ai é problema deles ai…", afirma o diretor.
Veja abaixo a transcrição completa dos trechos divulgados pela PF:
Trecho 1
Queiroz: Eu não preciso nem falar com relação ao Dr. Troncon, que é um chefe ímpar (inaudível). Eu devo praticamente 100% da execução dessa operação a dois homens de bem dessa Policia Federal. Primeiramente eu destaco o Dr. Troncon, Dr. Roberto Troncon. Em segundo, o Dr. Leandro. E em terceiro, como coadjuvante dos dois, eu não poderia me esquecer aqui do Dr. Luiz Fernando Corrêa, que também eu prezo e tenho um carinho muito grande. Ele era sabedor dessa operação e correu tudo bem, na minha avaliação, tirando os erros que a gente está avaliando hoje aqui – hoje aqui é uma avaliação de erros para nos corrigirmos, nos policiarmos. Houve a presença da imprensa aqui em São Paulo? Houve. Falhou? Falhou. Quem falhou? Queiroz falhou. Porque o Dr. Troncon me depositou e eu firmei compromisso com ele. Mas falhou ao meu controle.

Trecho 2
Queiroz: Evasão fiscal e outros crimes que porventura se relacionem…
Troncon: Formação de quadrilha…
Queiroz: Formação de quadrilha
Troncon: Informação privilegiada.
Queiroz: Informação privilegiada e formação de quadrilha também para esses crimes correlatos.
Troncon: A estrutura principal desse inquérito que você instaurou a questão do laudo que trata da gestão fraudulenta mais a corrupção?
Queiroz: Isso. É. Esse inquérito, ele tá sequinho. Como é que ele se materializou? Ele se materializa com a análise do HD com que as informações passadas, que foi estratificado através desse laudo da Polícia Federal; cotejado com dados atualizados que foram durante um ano e meio interceptação telefônica e interceptação de e-mail aonde transitaram documentos que dão, além de outros crimes, que dão fortemente a materialidade da gestão fraudulenta, tá? E a estratégia foi exatamente fazer três instrumentos para poder facilitar o trabalho. Até estruturei isso com o Fausto e ele achou boa idéia. Ainda que lá na frente, todos se convirjam em um canal só para a 6ª Vara.
(corte)
Queiroz: …não vai abrir
Leandro: Eu marquei com o (inaudível) de fazer até sexta-feira. Você consegue relatar até sexta?
Troncon: Tem que ouvir o pessoal…
Queiroz: Tem que ouvir só… Mas o advogado trás todo mundo ai (inaudível)
Troncon: Mas você consegue concluir até sexta? Se concluir até sexta, tudo bem
Queiroz: Depende de eu falar com o advogado. Só faltava o Humberto. Se o Humberto se apresentou… Acredito que não tem nenhum óbice não
Leandro: Então ele conclui até sexta… E a gente fica pra resolver os outros dois…
Troncon: Agora, outra coisa que é importante deixar muito claro aqui…
Queiroz: E esse inquérito…
Troncon: Esse inquérito foi tombado na Delecin (Delegacia de Combate aos Crimes Financeiros da Superintendência de São Paulo). O Saad (Ricardo Saad) tá aqui, porque eu pedi que ele participasse, porque ele está como chefe da Delecin. O superintendente está entendendo que ele vai permanecer, isso aí é problema deles aí… Bom, independentemente de quem tá aqui, de quem não tá, se é ou… O Decor (Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado)… Isso gente, será o básico do que a gente tem que seguir.
Queiroz: Dr. Troncon…
Troncon: O inquérito tá tombado… Eu fiz questão de falar assim: 'essa investigação, tem que falar, tem que inserir (inaudível)'. Tudo que o diretor está falando é tudo que eu acredito.
Queiroz: Deixa eu só fazer uma ressalva.
Troncon: Deixa eu concluir. Então, olha só. O local do crime é aqui, pelo menos parte dele…
Queiroz: A maioria é aqui
Troncon: O inquérito tombado lá… Então, pô, tem que ter um alinhamento, uma simetria completa com a chefia da delegacia, com a Decor, com o superintendente, com o Defin e comigo.

Trecho 3
Queiroz: Mesmo depois da Academia, eu não pretendo. A minha proposta é: eu fico até o final da operação, até o final, porque eu criei um problema pros meus colegas delegados, né? Porque é um grande problema, que eu criei pra você também e a minha proposta é esta. Permanecer a minha vinculação ao seu gabinete à sua disposição até o final deste trabalho, pra não ficar aquela pecha de que Brasília vem fazer a operação nos estados e deixa no meio do caminho; as minhas nunca ficaram no meio do caminho. As minhas nunca ficaram e, a exemplo dessa, não vai ficar. Só que com um diferencial. Eu não vou ficar presidindo, eu não pretendo presidir nenhuma investigação. Eu ficarei no apoio de um trabalho, colhendo dados
Troncon: Se eventualmente, dentro do desdobramento natural deste inquérito que você instaurou, se você conseguir concluir antes do seu período de ir para a Academia, sem nenhum problema… Agora, se não conseguir, dentro da melhor técnica, falar 'ó, isso requer mais tempo, requer maior análise', aí a gente passa para um dos colegas.

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