Em uma reunião com quorum altíssimo, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Escutas Telefônicas – ou CPI dos Grampos como é mais conhecida no Congresso Nacional – resolveu fechar um acordo para convocar o banqueiro Daniel Dantas para depor. A votação, no entanto, não chegou a ocorrer por conta do início da Ordem do Dia no Plenário da Câmara dos Deputados. Ficou para essa quarta-feira, 16, a apreciação efetiva dos requerimentos, em reunião agendada para às 10h.
Além de Dantas, a CPI deverá chamar para depor os delegados Romero Menezes, responsável pela Operação Chacal, realizada em 2006; e Protógenes Queiroz, que tem conduzido os trabalhos da recém-deflagrada Operação Satiagraha. O juiz da 6a Vara Criminal Federal, Fausto De Sanctis, também será ouvido caso o acordo prevalesça e as convocações sejam aprovadas. Os deputados chamarão ainda a juíza Flávia de Toledo, da 3a Vara Federal de Ribeirão Preto, que, segundo informações dos deputados, autorizou uma escuta telefônica por um período de dois anos e três meses.
Como resultado das negociações políticas em torno das convocações, na maior parte requeridas pelo deputado Gustavo Fruet (PSDB/PR), foram poupados o ex-ministro Luiz Gushiken; o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho; o ex-deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh; e o investidor Naji Nahas. A argumentação usada para evitar estas convocações é de que o foco deve ser apenas o uso ilegal de grampos e que a CPI não deve expandir sua atuação para a Operação Satiagraha em si.
Kroll
Nesse contexto, Daniel Dantas será convocado como contratante da Kroll e, portanto, responsável pelos grampos ilegais realizados durante a disputa entre Opportunity, Telecom Itália, fundos de pensão e Citigroup pelo controle da Brasil Telecom. Como "convocado", Dantas não poderá se recusar a comparecer na reunião.
No entanto, os depoimentos, mesmo que aprovados pela CPI amanhã, só devem ser tomados após o recesso parlamentar, que começa no dia 18 e termina dia 31 de julho. Como há eleições municipais neste ano, o presidente da CPI, deputado Marcelo Itagiba (PMDB/RJ), declarou que os trabalhos da comissão devem ser retomados somente após o mês de agosto. "Já é um bom roteiro para a retomada do trabalho em agosto", confirmou o relator, deputado Nelson Pellegrino (PT/BA).
Política
Os contornos políticos da iniciativa de convocar Daniel Dantas para depor na CPI não foram omitidos durante a reunião de hoje. O deputado Gustavo Fruet, responsável pela idéia de chamar o banqueiro, reiterou que sua intenção está em avançar nas investigações realizadas na CPI dos Correios, cujo foco na época era o "mensalão".
Para o relator da CPI do Grampo, a iniciativa de associar as convocações ao trabalho anterior, com a tentativa de chamar pessoas relacionadas ao governo, como o chefe de gabinete Gilberto Carvalho, faz parte de uma iniciativa da oposição de politizar as investigações da comissão. "A oposição quer que valha até gol de mão", brincou, referindo-se às convocações de Carvalho, Gushiken e Greenhalgh.
Já com o acordo fechado para convocar apenas Dantas dentre os presos pela Operação Satiagraha, o líder do PT na Câmara, deputado Maurício Rands (PE), reforçou que o governo não tem problema com relação à CPI ouvir o banqueiro, mas recusa-se a aceitar uma tentativa de ressucitar a CPI dos Correios. "Foi o PT que, na CPI dos Correios, apresentou requerimento para convocar Dantas e depois para incluir no relatório o indiciamento (do banqueiro). E foi o governo do PT quem prendeu o Daniel Dantas. Onde estava a oposição naquela época?", reclamou o líder.
Para Rands, é notório que uma investigação sobre Dantas necessariamente nasce na privatização do setor de telecomunicações e não no mensalão. "Começa na relação dele (Dantas) com o DEM, com o PSDB", afirmou. E que as iniciativas de agora são mais uma tentativa de atingir o governo.
