Desligamento total do 2G depende de políticas públicas

TELETIME publicou, há duas semanas, uma reportagem sobre cenários possíveis para o desligamento total das redes 2G no Brasil. Em resumo, o que o levantamento do repórter Bruno do Amaral mostrou é que, se de um lado a queda na base 2G é acentuada (só nos últimos 12 meses a queda de base na tecnologia foi de 30%), de outro existem alguns obstáculos importantes a serem vencidos para que a tecnologia seja definitivamente descontinuada no Brasil, ainda que as operadoras de telecomunicações vislumbrem, no futuro, este cenário.

A Qualcomm, uma das principais empresas fornecedoras desta tecnologia para redes móveis, decidiu colocar esse tema como prioridade na sua agenda institucional. Para Francisco Giacomini Soares, diretor de relações governamentais da empresa no Brasil, se houver a combinação adequada de esforço da indústria e de uma política governamental, o Brasil poderia virar um exemplo mundial de desligamento da tecnologia. A empresa trabalha para mostrar para governo e Anatel que não só não existe nenhum obstáculo regulatório, como haverá ganhos importantes sobretudo para o desenvolvimento da Internet das Coisas e da banda móvel, com a liberação de mais faixas de frequência para o LTE sem a necessidade de novos leilões de espectro, que forçariam investimentos das teles em licenças, e não em infraestrutura. A Qualcomm não é a única com essa bandeira. A Huawei também defende essa ideia e a Ericsson acredita na necessidade de uma política para isso.

"O ideal é que cada um consiga fazer um pouco para que a gente consiga desligar o 2G. O governo ajudaria desonerando os equipamentos necessários para substituir a base instalada de terminais, as operadoras ajustam suas redes para os serviços 4G onde a tecnologia não está disponível e a indústria de terminais desenvolveria modelos mais baratos ajustados a esta nevessidade", diz o executivo. A ideia ainda é embrionária, mas se der certo poderia fazer do Brasil o primeiro país emergente a trocar a sair da segunda geração. Nos EUA, a AT&T anunciou, no começo do ano, o desligamento de sua rede 2G.

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Um fator que deve ajudar é o fato de que no país o ritmo de adoção de 4G é muito acelerado e existe um movimento forte de massificação da Internet por meio de terminais móveis, que em muitas localidades acaba substituindo a carência de uma infraestrutura fixa.

Não é um processo simples, lembrando que a tecnologia de primeira geração, analógica (o AMPS), até hoje não foi descontinuada no Brasil, apesar de não haver mais venda de equipamentos nesta tecnologia há muitos anos. A cobertura rural é o motivo pelo qual o serviço não foi totalmente interrompido, mesmo que desde 2004 haja previsão regulatória para isso.

No caso da tecnologia 2G o problema é bem mais complexo. A começar pelos 40 milhões de acessos 2G, que precisariam ser substituídos. Com o tempo, muitos deles naturalmente migram para o 4G. A previsão de empresas como a Nokia é que isso só aconteça por volta de 2022 seguindo o ritmo natural de substituições. Só que boa parte desses terminais 2G são para M2M, o que requer também uma adaptação de um ecossistema de empresas que hoje utilizam comunicação de dados em GPRS.

Outro problema é o custo de adaptação da rede, já que os serviços de voz estão todos em 2G. As operadoras precisariam acelerar o processo de adoção de plataformas de VoLTE (voz sobre 4G), e hoje o serviço está apenas dando os primeiros passos no Brasil, com anúncios recentes e pontuais da TIM e da Vivo. E precisam ampliar a cobertura do 4G. Nesse sentido, existe a previsão regulatória de redes 3G em todos os municípios até 2019. Seria necessária uma política que possibilitasse o uso da tecnologia LTE em substituição, pulando o 3G. Do ponto de vista dos fabricantes de terminais, ainda é preciso reduzir o custo dos equipamentos 4G. E nada disso parece funcionar se não houver algum incentivo tributário.

As vantagens, diz Francisco Soares, são a liberação de faixas de frequência em 900 MHz e 1,8 GHz, que ajudam muito na cobertura das redes 4G e deixam as operadoras mais preparadas para os serviços de IoT.

Ainda não se sabe quando, nem se, a Anatel irá vender as faixas de 2,3 GHz e 3,5 GHz para as operadoras móveis. São as duas faixas que ainda poderiam ser utilizadas para a banda larga móvel com tecnologia LTE. No caso da faixa de 2,3 GHz, existem serviços de link de TV operando na faixa. No 3,5 GHz, há um problema de interferência com a recepção dos sinais retransmitidos na banda C do satélite. São as chamadas TVROs, as antenas de recepção hoje utilizadas para pegar sobretudo os sinais analógicos das redes de TV nacionais. Ninguém precisa o número de terminais, falando-se em algo entre 5 milhões e 20 milhões. O problema é que a maior parte dessas antenas não tem filtro e acaba ficando muito suscetível a qualquer serviço terrestre na faixa de 3,5 GHz. A tendência, com o desligamento da TV analógica terrestre, é que os sinais sejam também interrompidos no satélite, onde o custo de operação é alto, mas não há certeza de que as emissoras tomarão essa decisão.

Com tantas dificuldades para liberar novas faixas para o LTE, pode fazer sentido antecipar o final da tecnologia 2G no Brasil. É um projeto distante e que exigirá um planejamento longo, mas que pode render resultados importantes para a massificação da banda larga. É uma bandeira que interessa aos fornecedores, mas é preciso ver se as operadoras embarcam na ideia.

 

3 COMENTÁRIOS

  1. Só quero lembrar que nem todos que tem parabólica em casa assistem apenas a sinais analógicos, hoje há receptores anadigi a preços acessíveis e uma oferta de canais HD que não para de crescer.

  2. Ainda há muitas pessoas no meu estado que usam o 2G, principalmente idosos e pessoas que moram em zonas rurais. EM lugares que o 3G esta congestionado eu uso o 2G.

  3. O meu celular é um positivo p30 ele é ótimo pega até a rede 3g e para falar a verdade ele pega mais sinal do que o moto g4 do meu pai, eu sou um cara que sabe mexer bem em todo tipo de celular mesmo assim prefiro os mais simples pois evitam o vicius de ficar no whats toda hora, afinal eu só uso o face mesmo não dá para desligar a rede 2g ela é a melhor em conexão do país e o fim dela seria terrivelmente um desastre…

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