Se a Alcatel pensa que poderá mudar a liderança no cenário da próxima geração de voz (VoIP) por meio da fusão com a Lucent, está mal orientada. A Lucent solidifica a posição da Alcatel nos mercados óptico e de banda larga, mas não na área de VoIP, opina a analista de provimento de voz de próxima geração e núcleo móvel da Infonetics Research, Stéphane Téral. O mercado de US$ 2 bilhões de gateways e softswitches é liderado atualmente por Nortel, Siemens e Huawei. A Lucent e a Alcatel nem mesmo aparecem no ranking, diz Stéphane. Combinadas, as duas empresas aparecerão em 6º ou 7º lugar, na melhor das hipóteses, diz a analista, que aponta como única saída para a liderança a aquisição de uma empresa independente, como a Sonus.
Especializado em banda larga e IPTV, outro analista da Infonetics, Jeff Heynen, opina que a fusão será profícua porque a Alcatel é líder no market share de instalação de acesso fixo de banda larga, enquanto a Lucent é forte em instalação de rede wireless CDMA. Juntas, as companhias tornam-se um player sólido na área da convergência fixo-móvel e de redes wireless. Com os provedores de serviços comprometidos com suas redes fixas e móveis, e os serviços de dados em alta velocidade e de vídeo sendo implantados nessas redes, a combinação das empresas resultará num provedor de serviços único que atenderá a todos esses quesitos em todo o mundo.
Para Virgílio Freire, presidente da Lucent de 1996 a 1999, esta marca desaparecerá. Além disto, ele acredita que o impacto da fusão será forte em relação a demissões porque há muitas áreas, cargos e produtos repetidos nas duas empresas. O anúncio oficial é de que serão eliminados 10% dos funcionários em três anos no mundo todo. Em relação aos produtos, Freire, atualmente consultor de empresas, destaca que como a Alcatel está na frente com tecnologia e preços no segmento de roteadores, talvez esta área na Lucent seja extinta. Em centrais telefônicas, a fragilidade de produtos fica com a Alcatel, o que poderá fazer com que sua área desapareça em favor da Lucent, que é superior neste segmento, acredita ele.
Novas fusões
Freire arrisca ainda o palpite de que a fusão abalará o ranking atual de fabricantes e provocará novas consolidações. Em sua opinião, a empresa mais ameaçada em curtíssimo prazo é a Nortel, que é forte em infra-estrutura de TDMA e poderá ser comprada pela Nokia (GSM) ou Siemens (GSM). Outra possibilidade é que a Nortel adquira a área de infra-estrutura de telecomunicação da Siemens, sugere Freire. Quanto à Ericsson, o consultor acredita que a empresa já é muito grande, tem infra-estrutura GSM e CDMA, o que dificulta encaixar outros produtos por meio de fusões.
No lugar certo
Segundo a assessoria de imprensa da Cisco, com o contínuo movimento das redes estanques convergindo para uma única plataforma IP, a empresa acredita que está no lugar certo, na hora certa para se beneficiar dessa transformação e que o desenvolvimento geral das redes tem validado a arquitetura IP da companhia.
A Cisco é forte em media gateways, mas fraca em softswitches. Então, a empresa quer crescer no mercado de VoIP para operadoras, e para isto precisa se fortalecer em softswitch com outro player, pondera Heinen, da Infonetics. Ele diz que a Cisco observa os passos da Nortel e da Siemens, as líderes em media gateways e softswitch. A Siemens pode se desfazer deste grupo de comunicações, o que trará grandes problemas para a Nortel, disse Heinen. ?Mas as duas empresas combinadas poderiam criar um gigante de VoIP?, concluiu.
Para o vice-presidente da Siemens, Aluízio Byrro, o grande desafio da fusão será a integração das culturas da Alcatel, européia, com a Lucent, norte-americana. ?É aí que devem centrar energias nesse período?, analisa. Ele destaca que duas empresas combinadas no Brasil não perfazem um terço da base instalada de infra-estrutura da Siemens. ?Vamos acompanhar o desenvolvimento de sua estratégia e quais as sinergias de produtos?, explica. Para ele, o mercado é feito de consolidações e alianças, a exemplo da própria Siemens, que fez uma parceria com a NEC, para redes 3G, e com a Microsoft.
Entre as vantagens da fusão anunciada, está a atuação no mercado de sistemas GSM, pela Alcatel, e a oferta de produtos CDMA pela Lucent. ?Agora elas podem atuar nesses dois mercados?, opina Byrro. Outro ponto complementar será o fortalecimento no mercado corporativo onde a Lucent tinha pouca atuação ao separar-se da Avaya. No entanto, Byrro vê problemas de sobreposição de linhas de produtos no segmento de banda larga (ADSL) e no de serviços: ?Nesse caso terão que resolver o que farão com sua força de vendas em áreas duplicadas.?
Para o sócio-diretor da Accenture, Carlos Henrique Rocha, o mercado está atento sobre quanto tempo as empresas levarão para unir as linhas de produtos e efetivamente virem a atuar juntas no Brasil, já que o principal objetivo da fusão foi fortalecer os negócios da Alcatel nos Estados Unidos, e da Lucent na Europa. ?A maior vantagem será o ganho de escala conseguido pelas empresas para diminuir o custo dos equipamentos e oferecer soluções de maior performance para os clientes?, diz Rocha. ?O setor de alta tecnologia exige investimentos intensivos em desenvolvimento, sendo necessário diluir esse montante em grandes operações.?