Operadoras no mundo inteiro lutam para não serem "dumb pipes", ou seja, meros provedores de banda. Certo? Errado. Pelo menos é o que diz o estudo "Mundo Conectado 2010: Levantamento de Mercados Emergentes", da empresa de pesquisas Frost & Sullivan em parceria com a Amdocs, fornecedor de serviços para as operadoras de telecom.
Realizado em maio deste ano, o levantamento procurou analisar como um mundo impulsionado pela demanda por conectividade afetará as operadoras de telecom nos próximos 10 anos e o papel das mesmas em mercados emergentes, como América Latina, Europa Oriental e Sudeste Asiático. Para isso, ouviu CEOs, CTOs e demais executivos de alto escalão de todas as operadoras de telefonia fixa e móvel do Brasil, México e Colômbia, que juntos representam 33% de todo o setor na América Latina. E, ao contrário do que dizem muitos especialistas, a imensa maioria das teles (88%) da região pretende continuar sendo apenas um provedor de rede até 2020 em vez de se aventurar pelo caminho do conteúdo e outros serviços de valor adicionado. O restante (12%) não soube responder.
Mauricio Falck, gerente de desenvolvimento de negócios da Amdocs, se disse surpreso com o resultado, que vai na contramão da demanda do mercado, ou seja, conhecer cada vez mais o perfil de cada cliente a fim de oferecer serviços adicionados e customizados e assim ampliar a fidelização e a rentabilidade do negócio. Mas acredita que essa perspectiva conservadora das teles deve mudar nos próximos cinco anos. "É uma questão cultural, muitas operadoras ainda têm receio. Na Europa e Estados Unidos, por exemplo, 50% querem ser mais do que provedores de rede. Mas isso não aconteceu lá da noite para o dia", analisa.
Mudança em curso
De acordo com o estudo, 75% das teles do Brasil, Colômbia e México crêem que a demanda por conectividade e informações a qualquer momento e lugar irá mudá-las nos próximos cinco anos. Nesse contexto, novos serviços como o mobile money e o mobile commerce surgirão como importantes drivers de negócio e o foco estará, cada vez mais, em smartphones (segundo 56% das respostas) e machine-to-machine (46%). Acreditam, também, que terão de lançar mão de novos modelos de negócio, como o revenue share (divisão de receitas com parceiros de conteúdo). A imensa maioria, 90%, prevê que novos modelos de preço irão subsidiar os serviços e a entrada de novos clientes, assim como a customização de planos; aposta em clientes híbridos (um mesmo usuário sendo pós e pré-pago); serviços voltados para usuários premium; baseados em advertising; mercados de nicho (ex: MVNO); precificação baseada no uso (para clientes de dados e pré-pago) e por tipo de operação e assinatura (pós-pago).
Não tão cedo
Todas essas mudanças devem ocorrer, segundo as operadoras consultadas pelo estudo, em um prazo de cinco a dez anos. Isso porque essas mesmas teles admitem que o ambiente operacional atual não suporta essa visão avançada de mundo conectado.
Além disso, aponta o estudo, há alguns obstáculos que precisam ser superados, como a melhoria da cobertura (geográfica e qualitativa) dos serviços de voz e dados, encontrar formas de fazer com que o cliente pague por serviços avançados e aspectos regulatórios, como o PL29 (atual PL 116).
Vencidos esses obstáculos, entre 2015 e 2020 o planeta deverá somar aproximadamente 7 trilhões de dispositivos conectados na web. Esse número é do Wireless World Research Forum. "Para se chegar a esse contingente, está sendo considerado o surgimento e amadurecimento da tecnologia machine-to-machine (M2M), que ajudará a proliferar exponencialmente o número de terminais plugados à rede", diz Falck.
Até lá, as operadoras entendem que devem investir 63% de seus recursos em rede; 33% em plataformas de tarifação; 8% em processos de negócios; e 13% em gerenciamento de parcerias. "Cerca de 50% das operadoras ouvidas acreditam que as parcerias serão fundamentais", acrescenta. O auto-atendimento (4%); a personalização (8%); desenvolvimento de ferramentas de análise do perfil do cliente (38%); e o suporte ao cliente (58%) deverão consumir o restante das verbas operacionais das teles, segundo elas mesmas.