A interferência do Tribunal de Contas da União no trabalho da Anatel tem sido alvo, nos últimos anos, de muita discussão, mas o tema se intensificou em 2017 por conta de atuação do TCU em processos mais críticos, como a celebração dos Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) entre as concessionárias de telecom e a Anatel, especialmente no caso da Telefônica. Este foi o tema de um dos painéis do Seminário Internacional ABDTIC, realizado nesta quarta, 8 em São Paulo, com organização da TELETIME e da Associação Brasileira de Direito das Tecnologias da Informação e das Comunicações.
Coube ao conselheiro Otávio Rodrigues, da Anatel, trazer dados e números para ajudar a entender o cenário. E o levantamento feito pelo conselheiro é revelador.
Foram abertos, até hoje, 455 processos no TCU contra a Anatel (ao longo dos 20 anos de existência da agência), dos quais 428 foram concluídos e 27 ainda estão em curso. Cerca de 27% destes processos dizem respeito a representações ou denúncias, 26% tratam do processo de desestatização, 23% de atos de aposentadoria ou pensão e o restante se divide entre solicitações, monitoramento e representações do Congresso Nacional.
Para Otávio Rodrigues, os dados em si não permitem conclusões, pois muitas vezes um processo do TCU pode gerar um efeito de muito maior impacto sobre a confiança dos servidores da agência e repercussão pública do que um grande volume de processos de menor visibilidade. "A abertura de um processo tem uma carga simbólica e metajurídica profunda, mas difícil de quantificar", disse.
Para o conselheiro, a sociedade, hoje, não aceita mais a falta de supervisão sobre atos administrativos, e é importante que o TCU desempenhe sua função constitucional, mas seria desejável que os técnicos da Anatel, sobretudo o corpo diretor, pudessem ter imunidade sobre os atos regulatórios e decisórios típicos da atividade. "Um juiz, por exemplo, não é investigado por absolver ou condenar nem por aplicar determinada dosimetria na pena".
Rodrigues chamou ainda a atenção para a discrepância das carreiras de regulador em relação à carreira do TCU. A remuneração final de um técnico da agência, de R$ 19,5 mil, é inferior à remuneração inicial de um técnico do TCU, de R$ 19,9 mil, sem contar benefícios. A Anatel conta com 1,58 mil funcionários, dos quais 865 para a atividade de fiscalização, enquanto o TCU tem 4,07 mil, sendo 1,6 mil para controle externo. "Mas o dado mais preocupante é que no corpo técnico da agência tenhamos apenas 21 funcionários com doutorado, o que mostra a necessidade de fortalecermos a carreira e a formação destes reguladores", disse Rodrigues.
Vácuo
Para o professor da FGV Carlos Ari Sundfeld, parte dos conflitos entre Anatel e órgãos de controle decorre do fato de que agência de fato se burocratizou muito nos últimos anos, ampliando o poder de uma agência que já tinha uma grande autonomia decisória. "Esse fenômeno se encontra com outro mais importante que é uma luta dentro do Estado Brasileiro sobre quem exerce a função e a coordenação do Poder Executivo. O Palácio do Planalto é uma fantasia, o jogo é muito mais complexo", disse Sundfeld. "Há autonomias, é preciso partilhar o poder para governar. Houve um vácuo da coordenação da gestão pública. E alguns órgãos tentam ocupar esse espaço, como TCU, que passam a disputar espaço com a chefia do Poder Executivo".
Para Marcelo Cunha, técnico do TCU e assessor especial do gabinete do ministro Alberto Cedraz, há muitos anos o Tribunal de Contas da União indica que é preciso um norteamento político para as decisões da agência, e que a falta desse referencial contribui para decisões que podem ser questionadas.
"O TCU não busca o enfraquecimento das agências. Já fomos demandados pelo Congresso para fiscalizar, por exemplo, tarifas de concessionárias. Não o fizemos. O TCU não deve passar por cima do regulador", disse Cunha, que foi responsável pela diretoria da SeinfraTelecom até o começo do ano . Ele reconheceu que em alguns casos houve excessos, como no caso do TAC da Telefônica, em que um parecer da área técnica foi tornado público sem a avaliação do ministro Bruno Dantas, que acompanhava o setor de telecomunicações (hoje está responsabilidade está sob a tutela da ministra Ana Arraes). Mas lembrou que em todos os países há supervisão administrativa sobre as agências e que "a autonomia decisória das agências não tira a obrigação de prestação de contas, inclusive em sua atividade fim. Isso não tira sua discricionariedade técnica e política de tomar decisões", disse Cunha. Ele lembrou ainda que no TCU há um conjunto de seis ou sete auditores acompanhando o mercado de telecomunicações. "Não teria nem como substituir o trabalho da Anatel que tem 1,8 mil servidores".
O tema é interessantíssimo, mas o texto está horrível. Os números não batem ("Foram abertos, até hoje, 455 processos no TCU contra a Anatel, em 20 anos de agência, dos quais 428 foram concluídos e 287 ainda estão em curso"), algumas frases estão desconexas ou mal encaixadas. Difícil de ler.
Você tem toda a razão e já fiz ajustes no texto. Peço desculpas e espero que agora esteja mais claro. Onde se lia 287 leia-se 27. Houve um erro de digitação, e também melhorei algumas outras passagens que estavam confusas.
Prezado Sr. Possebon,
muito obrigado por considerar minha crítica ao seu (sempre pertinente) trabalho.
Att.