Ericsson: disputa na OMC pode levar a fechamento da fábrica no Brasil

A Ericsson sinalizou ao governo que existe a possibilidade concreta de fechamento da sua fábrica no Brasil caso o país perca a disputa na Organização Mundial do Comércio (OMC) em relação às políticas estabelecidas na Lei de Informática (que concede benefícios para a produção local de equipamentos eletrônicos de telecomunicações em troca de investimentos em pesquisa e desenvolvimento). A conversa aconteceu durante o encontro de representantes da indústria com o ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Gilberto Kassab, esta semana, durante a Futurecom. Sérgio Quiroga, presidente da Ericsson para a América Latina, confirmou a este noticiário a conversa. Segundo ele, a fábrica em São José dos Campos existe desde 1955 e gera 1,5 mil empregos diretos. Segundo Quiroga, "não só a Ericsson, mas muitas empresas se beneficiam do Processo Produtivo Básico (PPB). Mas o maior beneficiado são os operadores e seus consumidores, que conseguem comprar mais equipamentos por uma tributação conveniente. E tem a outra componente de pesquisa e desenvolvimento. Isso permite manter a fábrica, que é a mais longeva do mundo, com quase todo o nosso portfólio, e um centro de pesquisa de mais de 400 pessoas".

Para o executivo, "quando (a produção local) deixa de ter vantagem no 'total cost of ownership', não tem benefício, eu posso importar. Quando a gente tem uma discussão em que o governo brasileiro é o representante da indústria na OMC, nós torcemos pelo desempenho do governo brasileiro, para manter o nosso centro de pesquisa e desenvolvimento e nossa fábrica no Brasil. Se o governo perder, e eu conversei isso com o ministro Kassab, as nossas ações e o centro de pesquisa no Brasil deixam de fazer sentido", disse Quiroga. Isso não quer dizer que a empresa já tenha tomado a decisão de fechar a fábrica, mas a pressão é grande. Segundo ele, é preciso que essa questão se resolva no prazo de no máximo seis meses, pois há decisões de investimento e expansão que precisam ser tomadas e uma previsão sobre os benefícios é essencial. "Quero acreditar que o governo vá em favor da industrialização local da cadeia produtiva, de uma vantagem de ter os equipamentos produzidos aqui, e o governo é o nosso representante", diz Quiroga, ao ser questionado se o país teria mais benefício em retirar o incentivo (que implica isenção de IPI) do que em manter o benefício e a produção local. "A receptividade do ministro foi boa e ele prometeu conversar com o ministro Henrique Meirelles (Fazenda). Mas é um risco que estamos passando, e não gostaria que fosse na minha gestão que a ameaça iminente (de fechar a fábrica) se concretizasse".

"Na Suécia, a empresa fechou as fábricas locais, com mais de 3 mil empregados. É difícil defender a fábrica no Brasil sem vantagens claras", diz Quiroga. "Por enquanto a conta ainda é positiva em continuar com a fábrica, mas é um limite muito tênue. Se tirar o benefício, é melhor importar".

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A Ericsson não comenta os resultados do trimestre pois ainda está em período de silêncio, mas recentemente a empresa já antecipou ao mercado uma queda expressiva no lucro por conta de uma retomada mais lenta do que o esperado no mercado mundial de telefonia móvel, com grande peso para o resultado negativo do Brasil, Rússia e Oriente Médio, sobretudo na área de redes. "Os investimentos das empresas esse ano foram impactados negativamente pela variação cambial do final de 2015. Vamos ver como ficam os investimentos de 2017 com o câmbio mais estável".

Disputa

No começo de 2015 o bloco da União Europeia, com apoio do Japão, questionou na OMC a política industrial brasileira, detonando um processo de investigação que deve levar cerca de dois anos, com conclusão prevista para o começo de 2017. O foco da reclamação é sobre a indústria automobilística, mas os mecanismos pegam também a indústria eletroeletrônica. Recentemente, contudo, os setores beneficiados pela Lei de Informática passaram a temer que o governo, pressionado pela questão fiscal, esteja desistindo de uma defesa mais aguerrida de suas políticas em troca de algum ganho de arrecadação.

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