A explosão de dados nas redes que deverá acontecer nos próximos anos já é conhecida e prevista pela maioria das empresas de pesquisas e análises, e todas falam na grande demanda gerada pelos vídeos over-the-top (OTT). Entretanto, o diretor de desenvolvimento de negócios da produtora Square-Enix, Jacob Navok, alarma para outra demanda de capacidade: o processamento na nuvem para videogames. "As redes não estão preparadas. Os jogos não podem usar CDNs (redes de entrega de conteúdo), e eles requerem latência muito baixa", apontou ele durante apresentação no Business Innovation Forum, evento da Ericsson realizado em Tóquio, nesta quinta-feira, 31. "Precisamos de uma nova visão de rede."
Segundo Navok, a latência não pode ser maior do que 13 milissegundos na rede, pois os jogadores precisam imputar os comandos e o jogo precisa reagir em tempo real. A necessidade de uma rede de servidores para processamento passa pelo backhaul das operadoras necessariamente, pois ele alega que já está se chegando ao limite do que pode ser feito localmente em consoles de videogames e mesmo em dispositivos móveis. "Há novas formas de jogos chegando, como a realidade virtual, duas telas ao mesmo tempo, resolução de 4K e 8K", diz. "A próxima revolução será na mídia interativa, por isso precisa ter investimento em cloud para o gaming OTT."
Apesar de não ser uma revolução para agora, ele a considera iminente. "Pode não ser hoje, nem no próximo ano, mas nos próximos dez anos eu garanto", aposta. E é bom que as redes estejam preparadas: a indústria de games já gera US$ 77,4 bilhões em receita, ainda que tenha pouco mais de 30 anos de história. A própria produtora Square-Enix é uma das líderes do setor em software, responsável por títulos das séries Final Fantasy, Tomb Raider e o clássico Space Invaders. "Games são a aplicação definitiva", alega Navok. "Quem investir nisso vai fazer lucros significativos, e os dados só vão aumentar. Quanto às telecomunicações, as empresas poderão conseguir muito mais análises de dados com comportamento do usuário", argumenta.
Carros
Outra aplicação que exige latência reduzida ao máximo possível é a de prevenção de acidentes automobilísticos. A fabricante japonesa Honda tem trabalhado em um padrão chamado MLIT de alta frequência na faixa de 5,8 GHz que, segundo o engenheiro chefe do departamento de pesquisas e desenvolvimento da empresa, Masashi Satomura, consegue uma cobertura semelhante (e de maneira eficiente) à da banda de 700 MHz. Em um teste na Europa na pista alemã Autobahn, onde não há limites de velocidade, o próprio Satomura testou a comunicação e o efeito doppler, que faz com que a distância relativa alterne a frequência. "Conseguimos conectividade a 320 km/h com o efeito doppler, e não temos que nos preocupar", afirma.
Soluções
Para o diretor da operadora sul-coreana kt Network, Yung-Ha Ji, a indústria de games é "extremamente importante", embora a comercialização no país seja complicada por conta da regulamentação que equipara os videogames com jogos de azar. "Temos dificuldade para desenvolver o mercado, mas (o game OTT) causaria um grande impacto porque tem relação com QoS (quality of service) e latência; a velocidade é muito crítica", declara. A operadora conta com um modelo de negócios para jogos baseado em propagandas online, no qual o usuário pode pressionar mais rápido os botões para conseguir mais velocidade de banda.
Uma solução para o problema de latência pode estar na próxima geração de redes móveis. "A Ericsson trabalha forte nisso, no 5G estamos trabalhando com latência abaixo de 1 ms. Isso não aconteceu ainda, mas estamos desenvolvendo", declarou o vice-presidente sênior e CTO do grupo sueco, Ulf Ewaldsson. Além da evolução na tecnologia móvel, há também a modernização da infraestrutura que dá a capacidade. "Estamos buscando como tornar horizontal a arquitetura da rede, em vez de deixá-la vertical. Vamos levar o core à nuvem, dar oportunidade ao data center para distribuir a virtualização", diz. "Isso vai requerer que a gente virtualize o core de rede, o que vai acontecer nos próximos dois anos", promete.