O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta semana uma ordem executiva determinando a construção um escudo antimísseis equipado com interceptadores espaciais e com um sistema de satélites contra ameaças hipersônicas e balísticas.
Chamado por enquanto de Domo de Ferro da América (inspirado no sistema de defesa utilizado por Israel), a ordem do projeto multibilionário instrui o Departamento de Defesa dos Estados Unidos a avançar com o desenvolvimento do escudo e submeter um plano com proposta de arquitetura no intervalo de dois meses.
Entre os aspectos expressamente exigidos pela Casa Branca estão a aceleração do desenvolvimento e do lançamento de interceptadores espaciais (ou SBIs, na sigla em inglês). A ideia é que tais sistemas de defesa posicionados em órbita tenham a capacidade de interceptar ataques de inimigos.
Além disso, a ordem executiva da Casa Branca também determina a aceleração do lançamento de sensores espaciais de rastreamento de mísseis hipersônicos e balísticos (HBTSS, na sigla em inglês). Trata-se de um sistema de satélites para detectar ameaças hipersônicas e balísticas em tempo real; a tecnologia já tem movimentado esforços de governo e fabricantes nos Estados Unidos.
"Eu darei instruções aos nossos militares para começar a construção do grande escudo de defesa antimísseis Domo de Ferro, que será todo feito nos Estados Unidos", afirmou Trump pouco antes de assinar a ordem. Ainda não há data para o início da construção, mas o projeto deve ser incluído no orçamento do próximo ano fiscal de 2026 – estima a Casa Branca.
Em comunicado, a Casa Branca informou que essa ordem executiva inclui uma revisão da estratégia de defesa antimísseis para proteger as tropas americanas no exterior. Além disso, prevê o "fortalecimento da cooperação" com aliados no desenvolvimento, aprimoramento e operação de tecnologias de defesa antimísseis.
Sustentabilidade espacial
Esse tipo de projeto pode recrudescer discussões sobre a sustentabilidade espacial – bem como preocupações com o aumento de detritos que podem prejudicar satélites comerciais. O Brasil, por exemplo, é uma das nações que mais debatem a sustentabilidade no espaço.
A questão da governança espacial também deve entrar em voga. Em dezembro do ano passado, por exemplo, a Secure World Foundation (SWF) publicou uma declaração criticando a militarização do espaço e apelando em carta para que mais países se comprometam com a Resolução 77/41 das Nações Unidas, como forma de prevenir uma corrida armamentista no espaço e a criação de detritos espaciais que possam ameaçar a sustentabilidade das atividades espaciais.
Em paralelo, o desenvolvimento de novas armas antissatélite por demais nações como a Rússia também tem reacendido temores de um conflito no espaço, com riscos associados ao satélites e outros ativos.
Reação da Rússia
A Rússia foi o primeiro país a criticar diretamente o plano americano. Nesta sexta-feira, 31, o Ministério das Relações Exteriores russo condenou o projeto do Domo de Ferro. Para o Kremlin, o sistema de defesa ordenado por Trump militariza o espaço.
"Nós consideramos esse projeto como mais uma confirmação de que o foco dos EUA é em transformar o espaço em uma arena de conflito armado, colocando armas lá. Essa abordagem não contribui para a redução das tensões na esfera estratégica", disse a porta-voz do Ministério russo, Maria Zakharova.
Zakharova disse que o plano dos EUA aumentaria o poder de intimidação de Washington a um nível "comparável" com o polêmico programa militar proposto pelo ex-presidente americano Ronald Reagan nos anos 80 – que ela chamou de "odioso". Segundo ela, o principal objetivo dessa medida é "enfraquecer as capacidades de defesa estratégica da Rússia e da China".
(Colaborou Henrique Julião)