Indústria espera poeira baixar para avaliar impactos da crise

A indústria está analisando a evolução da crise financeira global com diversas ações e planejamentos, à espera de que esse turbilhão se estabilize em algum patamar e, a partir daí, seja possível dimensionar o grau de impacto em todo o mercado. E haverá impacto. Por enquanto, a sensação é a de estar no epicentro do evento, sem uma visão clara do que está acontecendo, sem poder determinar a necessidade de redução de custos ou de investimentos, bem como do consumo.
"Essa crise surgiu no ano passado, foi administrada, empurrada para frente e começou a sair de controle nos últimos 30 dias. Não dá para saber se já está estabilizada", disse Benjamin Sicsú, vice-presidente de novos negócios da Samsung e diretor da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). Nem a indústria eletrônica nem a de telecomunicação sabe onde esse processo vai parar. Enquanto a poeira não baixar, é prematuro avaliar as conseqüências, diz ele. Cada empresa se protege como pode. O acompanhamento da economia e do mercado financeiro passou a ser de hora em hora, para ajustar estratégias, estudos são feitos para entender os impactos, mas tudo ainda está no escuro.
E de qualquer forma, o cenário deverá se apresentar diferente para segmentos diferentes. O setor conta com a fabricação de componentes, equipamentos, produtos acabados, tem um grau de insumos importados grande, que terá reflexo com a cotação de dólar e custos, diz Sicsú.

Notícias relacionadas

Impactos diferentes

A Samsung reduziu, nesta semana, o preço de impressoras multifuncionais a laser e de toner para esses equipamentos. A ação fazia parte de uma estratégia anteriormente planejada e que a empresa decidiu não cancelar diante dos eventos. Mas em outras áreas do grupo, estuda a situação e aguarda pela estabilização. O faturamento de US$ 2,1 bilhões da empresa no Brasil em 2007 ainda crescerá acima de 10% este ano.
Otimista em relação a uma saída sem arranhões da crise mundial, o CEO da ZTE, Eliandro Avila, acredita que os investimentos do setor de telecomunicação na primeira fase de implantação das redes de terceira geração, ao menos pelos próximos seis meses a um ano, não deverão ser afetados. Isto porque o trabalho já está em execução. Entretanto, ele admite que na segunda fase, com expansão para novas cidades, o cenário poderá mudar, com parte das empresas colocando o pé no freio.
Avila conta com a alta demanda por acesso em banda larga no País, baixa densidade do serviço (em torno de 10 milhões de conexões) e a oferta de preços atrativos para manter o investimento nas redes: "Não vejo a crise afetando a demanda, que é praticamente do varejo." Garantiu que a ZTE continuará a investir no Brasil. A empresa faturou cerca de US$ 5 bilhões em 2007, dos quais 60% no mercado fora da China, seu país de origem. Esta participação estrangeira deverá crescer neste ano para 65% a 70%. A expectativa da receita é de aumentar 50% em 2008.

Obstáculo à banda larga

Por outro lado, o professor da FGV e especialista em concorrência e regulação, Arthur Barrionuevo, opina que o cenário de instabilidade da economia mundial terá como conseqüência no Brasil a escassez de capital e crédito. Isso será um obstáculo à difusão da banda larga no País pois haverá menos investimentos das empresas estabelecidas. Para ele, o novo marco regulatório deve facilitar o acesso aos ativos das redes já existentes, acelerando o processo de competição e o crescimento do setor. "A revisão do PGO (Plano Geral de Ourorgas) e PGR (Plano Geral de Atualização da Regulamentação das Telecomunicações) deve trazer regras que aprimorem a competição entre empresas não detentoras da infra-estrutura", afirmou.
Tão logo a crise se estabilize, a Abinee deverá discutir medidas para superar os problemas e elaborar estudos para suprir investimentos e pedir liberação de amarras de mercado, como as regulatórias, que impedem que a tecnologia deslanche, diz Sicsú. É o caso do leilão de WiMAX, adiado sucessivas vezes, e que poderá representar novo estímulo para investimentos.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
CAPTCHA user score failed. Please contact us!