Para Globo, digitalização complica depois de 2018

Raymundo Barros, diretor de engenharia da Globo

A Globo vem fazendo grandes esforços na digitalização de sua rede, e também na difusão do sistema digital, seja através de campanhas no ar ou de ações como as Patrulhas Digitais, grupos de jovens treinados para visitar as residências e explicar o funcionamento do sistema de TV digital (leia aqui).

A rede digital da emissora cobre hoje 140 milhões de habitantes, com 547 estações operando, sendo 107 geradoras e 440 repetidoras. A cobertura equivale a  68% da população e 23% dos municipios.

Ainda assim, haverá um grande desafio a partir de 2018, conta Raymundo Barros, diretor de tecnologia da Globo (foto), que falou nesta terça, 30, durante o congresso da SET.

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Isso porque a cobertura concentra-se nas cidades mais populosas, que serão as primeiras a terem o sinal analógico desligado. A partir de 2018 começa o desligamento, até 2023, das cidades menores, onde não há cobertura.

Para os desligamentos previstos para 2016, conta Barros, a Globo tem 100% de cobertura. Das cidades a serem desligadas em 2017, falta cobrir 3%. Das cidades a serem desligadas em 2018 falta cobrir 12%. Já para as cidades pós-2018, a proporção a ser digitalizada é de 74% dos municípios. "Teremos que cobrir 77 milhões de habitantes em 4244 municípios. Destes, cobrimos hoje 20 milhões de habitantes em 410 municípios. Serão necessárias quase 3 mil repetidoras para cobrir os 57 milhões de habitantes que faltam", relata Barros. Ele afirma que é possível atingir a meta, desde que seja feita a consignação das frequências.

Ele abordou a demora no processo de regularização das RTVs. "Em Recife e Belo Horizonte temos hoje 11 processos de RTV parados no ministério ou na Anatel, não andam. Em quatro deles está tudo pronto, instalado, falta só o ato de RF. O ministro Kassab tem demonstrado interesse em acelerar, mas precisa de ações, falta tempo", conta.

Este noticiário perguntou a Kassab, também presente ao evento, se este processos seriam passados à administração da Anatel. O ministro disse que por enquanto eles ficam no ministério, e que será feito um esforço de gestão para processá-los.

Medidas

Barros também sugeriu um modelo colaborativo entre broadcasters de forma a reduzir os gastos e acelerar a implantação. "Devemos não apenas compartilhar torres e infraestrutura, mas até mesmo transmissores", disse.

Embora tenha afirmado várias vezes estar alinhado com as decisões tomadas no âmbito do Gired, o diretor alfinetou algumas definições que estão sendo usadas pelo grupo. "O foco deveria ser na digitalização, não no desligamento, devemos pensar no consumidor. O Gired privilegia a limpeza da faixa, e não a recepção por parte do usuário. Não podemos correr o risco de usar modelos criativos de tabulação, como considerar convertido o domicílio apenas se tiver TV de tela fina. Estas TVs passarama  ter conversor obrigatório apenas a partir de 2012, há no mercado 10 milhões de TVs finas sem tuner", disse. "Tem que ver se o usuário está assistindo a TV digital, às vezes ele tem a TV, o set-top, mas não tem antena. As pesquisas têm que aferir a sintonia", completou.

A radiodifusão está colaborando com o processo, disse Barros. Flexibilizou muitas métricas, aceitou a contagem dos domicílios com TV a cabo, e estão satisfeitos com o kit atual distribuído aos inscritos no cadastro Único.

Interferência

Barros prevê um problema futuro em relação às interferências entre a rede celular e a TV digital, para além da atuação que a EAD (Entidade Administradora da Digitalização) possa fazer no presente. "Elas não acontecerão com o inicio do LTE em 700 MHz", diz. "No começo serão implantadas poucas células. Só quando as ERBs estiverem massivamente ocupadas as interferências aparecerão, e então não haverá mais EAD. Teremos que enfrentar o problema sozinhos e com a Anatel", disse.

Finalmente, Barros lembra que no Japão, para concluir o switch-off, agentes visitaram 20 milhões de domicílios fisicamente, orientando a população. Já no México, conta, "desligaram de forma atabalhoada e a TV aberta perdeu 15% de audiência. Não podemos repetir isso aqui de jeito nenhum", concluiu.

1 COMENTÁRIO

  1. "Grandes esforços"… aham… na minha cidade, com 165 mil habitantes, está tudo instalado e testado desde 2013 mas segue sem sinal digital. Tiveram 3 anos p/ resolver a burocracia em Brasília e até hoje nada.

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