Conteúdos OTT pressionam operadoras e teles querem novo modelo

A apresentação de um estudo sobre a criação de um modelo sustentável de Internet, realizado pelo principal executivo da A.T. Kearney para o setor de telecom no Brasil, Tiago Monteiro, durante o 56° Painel Telebrasil nesta quinta, 30, reforçou o que já vinham dizendo as operadoras brasileiras sobre a necessidade de mudanças no modelo de negócios. Segundo Monteiro, as operadoras de telecom têm retorno de capital entre 20% e 30% menor do que outros setores, enquanto as receitas dos provedores de serviço online, over-the-top (OTT), cresce duas vezes mais do que as das teles. "Entre 2005 e 2011 foram investidos mais de R$ 115 bilhões de reais em redes fixas e móveis, com média de crescimento de 3% ao ano. Foi o suficiente para o perfil de tráfego até então, mas esse perfil mudou e faz com que os investimentos em rede que foram feitos até agora tenham que ser reforçados com outros mais e de acordo com os modelos comerciais atuais, dificilmente conseguirão ser rentáveis", diz Monteiro.

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O presidente da Telefônica/Vivo, Antonio Carlos Valente, acrescentou durante o debate que a média de investimentos feitos pelas teles desde a privatização, há 14 anos, corresponde a 21% da receita no período. "São muito poucas as indústrias que investem esse percentual sobre suas receitas. O Brasil tem uma das maiores redes de telecomunicações do mundo e não há elementos para dizer que fizemos investimentos insuficientes”, diz. O presidente da Oi, Francisco Valim, concorda: “A média mundial de investimentos é de 15% em cima da receita. O Brasil tem recebido investimentos acima da média mundial”.

Monteiro, da A.T. Kearney, lembra que os investimentos precisarão ser feitos de qualquer maneira, já que as redes são o core do negócio das teles: "Agora, podem investir e não ter retorno com receitas associadas e daqui a quatro anos o retorno sobre o investimento será baixo e não terão tanta capitalização para investir, alguns podem até desaparecer; ou vão investir com incentivos e receitas crescentes com novos modelos de negócio". A opinião foi confirmada pelo presidente da Embratel, José Formoso: “os investimentos terão que ser feitos. Precisamos de redes mais simples, ópticas e mais compartilhadas. Acreditamos muito na mudança IP e as empresas podem escolher se serão provedores de infraestrutura boa somente ou se vão querer desenvolver soluções para clientes".

Para Valim, a apresentação da A.T. Kearney traz um alerta para o mercado. “Vai acontecer, a conta não fecha, já não fecha hoje. Se descontarmos da receita os custos, os tributos e o investimento, o fluxo de caixa é muito perto de zero. Precisamos encontrar uma forma de todo o mundo sobreviver, de remunerar a rede e continuar investindo ou condenar as redes existentes à deterioração”, enfatiza. “Temos desafios importantes, a cada dia surgem novas aplicações consumidoras de banda e capacidade e dentro do modelo de negócio atual vão gerar um estresse muito grande na rede”, reconhece Valente.

Na opinião do presidente da Claro, Carlos Zenteno, o modelo tem que se adaptar e o grande desafio para os operadores é como os operadores podem participar desse conteúdo e não apenas ser 'tubos'. "Pelo que temos acompanhado é que existem conversas entre todos os participantes desse mercado para que o modelo feche e possamos garantir a experiência para o usuário no futuro”, diz Zenteno. Na mesma linha, o presidente executivo da Algar Telecom, Luiz Alexandre Garcia, reforça que apenas o trabalho conjunto entre as partes será capaz de reequilibrar o desbalanceamento entre os investimentos e os geradores de receita. "Temos que dar uma mordida na receita do lado de lá", afirma o presidente do conselho de administração da TIM, Manoel Horácio.

Modelos

Monteiro, da AT Kearney, acredita que não há apenas uma solução. Há quatro modelos possíveis e o ideal é uma combinação dos quatro.

Um modelo é basicamente o continuar o atual, focado no cliente. Em vez de buscar receita em outros pontos da cadeia, continuar buscando no cliente final, ele pagaria por mais velocidade, qualidade de serviço etc.

O segundo é passar a tarifar o provedor de serviço online cada vez que enviar tráfego em uma determinada capacidade para a minha rede, como se fosse um custo de interconexão. "O provedor OTT tem receitas. Então, em vez de pedir mais dinheiro ao usuário final, é buscar no online service provider", explica. Isso implica em um acordo entre o provedor de conteúdo e a operadora.

O terceiro modelo é a definição de SLAs e cobrar por um determinado tipo de tráfego dos provedores OTT na rede pública de Internet. O último, é um conceito de rede privada, utilizando a rede de um operador para garantir que o conteúdo chegue com qualidade para o usuário e o provedor OTT paga à operadora por isso.

"No mercado brasileiro vejo uma movimentação sobretudo de que operadoras têm que fazer coisas além desses modelos: compartilhar investimentos, ter tecnologias mais baratas, pensar em rever os pacotes agressivos de preço que existem hoje em dia e pensar em novos serviços”, diz Monteiro. Para ele, o Brasil ainda vive a realidade de crescimento dos acessos, mas do ponto de vista de receita, o crescimento Já começa a desacelerar. "Isso já é um sinal de que está mais do que na hora de pelo menos se começar a pensar esses novos modelos, já sabendo o que vai acontecer", conclui.

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