Avaliando condições técnicas sobre a possibilidade de equipamentos de Wi-Fi 6E operarem de forma não licenciada em todo 6 GHz (5,925-7,125 GHz), a Anatel tem ouvido pleitos para que uma banda de reserva de 500 MHz seja instituída na faixa, deixando espaço para uma eventual alocação para 5G no futuro.
A possibilidade foi mencionada nesta quinta-feira, 30, pelo superintendente de outorgas e recursos à prestação da Anatel, Vinicius Caram. Durante debate online promovido pelo portal Convergência Digital, Caram lembrou que Conselho Diretor já analisa proposta da área técnica para que em toda a faixa de 6 GHz seja permitido o uso indoor e não licenciado de equipamentos das novas gerações de Wi-Fi.
"Mas caso o Conselho entenda que seja necessário fazer algum tipo de análise para não conceder o 1,2 GHz [inteiro] por agora, ele pode avaliar qual o melhor uso para o espectro", pontuou. Neste caso, a reserva poderia ser considerada para uso licenciado de serviços móveis (IMT) como o 5G. Essa é inclusive uma das pautas a ser discutida na próxima Conferência Mundial de Radiocomunicação (WRC), em 2023.
Durante o debate, contudo, Caram pontuou que uma grande quantidade de espectro (3,2 GHz) já será leiloada para 5G no certame do ano que vem. Além disso, o superintendente da Anatel lembrou que o uso de 5G em espectro não licenciado (o chamado NR-U, ou New Radio unlicensed) também é possível em 6 GHz.
Indústria
O assunto dividiu representantes de empresas presentes no debate. Mesmo sendo fabricante de equipamentos de Wi-Fi, a Huawei defendeu a banda de reserva para uma eventual análise futura que permita o 5G.
"Nossa posição global é que a parte inferior da banda seja usada em não licenciado, e a parte superior seja deixada em estudos. Se liberar inteira para não licenciado, não tem mais volta, porque não daria para tirar os equipamentos depois", afirmou o diretor de relações governamentais e regulatórias da Huawei, Carlos Lauria.
"O risco é o Brasil ficar isolado caso [outros países] definam por essa banda para 5G no futuro", completou. Lauria lembrou que a banda de reserva é defendida pela grande parte das operadoras móveis.
A Qualcomm, por sua vez, quer o 6 GHz inteiro para uso não licenciado, seja para 5G NR-U ou Wi-Fi 6E. A empresa já tem prontos chips para produtos da nova geração de Wi-Fi e, segundo o diretor de relações governamentais Francisco Giacomini, fabricantes estão apenas esperando a decisão da Anatel para começar a produção local de equipamentos compatíveis.
Provedores regionais
Quem também se manifestou a favor do 6 GHz inteiro para uso não licenciado foi a Associação Brasileira de Internet (Abranet). Presidente da entidade, Eduardo Neger lembrou que, não fosse o uso não licenciado de espectros de 2,4 GHz e 5 GHz, o surgimento dos provedores regionais de Internet não teria sido possível.
"Com o Wi-Fi 6E, há possibilidade de empresas independentes e sem licença SMP criarem novos serviços. Defendemos o uso de faixas não licenciadas, inclusive em ondas milimétricas e white spaces. Quanto mais opções, mais competição e possibilidade de inovação no mercado", afirmou Neger.