O presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura para Telecomunicações (Abrintel), Luciano Stutz, entende que o Brasil corre o risco de não aproveitar todo o potencial do 5G caso não haja avanço nas políticas públicas voltadas à expansão da infraestrutura de rede.
A declaração foi feita com base em gargalos estruturais identificados na cobertura de quinta geração no País, especialmente fora dos grandes centros urbanos. Na avaliação de Stutz, os próximos leilões de espectro devem considerar não apenas a densidade populacional, mas também critérios como produtividade, impacto socioeconômico e inclusão digital.
"É urgente revisar as condições para os compromissos de cobertura da rede móvel", disse o executivo. Ele defende que regiões menos lucrativas, como zonas rurais, polos logísticos e áreas periféricas, sejam priorizadas para garantir um modelo de implantação mais justo e alinhado ao desenvolvimento regional.
ERBs 5G
Entre os estudos destacados pela Abrintel está trabalho recente realizado pelo Instituto de Pesquisas para a Economia Digital (IPE Digital), após sugestão da entidade. Divulgado no início de maio, o estudo revelou um número de estações rádio base (ERBs) 5G abaixo das recomendações da União Internacional de Telecomunicações (UIT) em importantes cidades brasileiras.
Para a associação, essa defasagem afeta tanto o consumidor final (B2C) quanto o uso empresarial (B2B), repetindo um padrão de atraso já observado no 4G. "O 5G e as próximas tecnologias podem ser instrumentos poderosos para a inclusão digital e o aumento da competitividade nacional. Por isso, é fundamental um modelo de implantação orientado ao desenvolvimento regional e produtivo", contou Stutz.
São Paulo
Em nota, a entidade deu como exemplo o estado de São Paulo. "Apesar de concentrar 30% do PIB nacional e 21% da população, conta com apenas 22,8 mil ERBs (de todas as gerações), contra 227,5 mil ERBs da Alemanha, por exemplo — país com o dobro da população", lembrou a Abrintel, desta vez citando estudo da Telco Advisors.
Na quinta geração de redes móveis, a discrepância é ainda maior. Enquanto 93,82% do território alemão é coberto, por exemplo, essa taxa é de apenas 10,11% no território paulista, diz o estudo.
Em manifestações junto ao Supremo Tribunal Federal (ADI 7.708), a Abrintel tem defendido o compartilhamento obrigatório das torres, principalmente com afastamentos até 500 metros, como ferramenta essencial para acelerar e tornar mais eficiente a expansão do 5G. Segundo a entidade, mais de 80% das ERBs 5G instaladas utilizam estruturas pré-existentes.