NUH! Digital quer ser operadora multirrede

Uma das surpresas da primeira parte da licitação do programa Internet Brasil foi a presença da NUH! Digital, uma empresa mineira que se apresentou como operadora virtual (MVNO) mas que até aqui não vinha atuando diretamente nessa área. E, de fato, a empresa se credenciou apenas recentemente como MVNO pelas enablers Surf (autorizada que utiliza rede da TIM) e Vecto (autorizada que utiliza a rede da Algar). Segundo Laerte Magalhães, CEO da NUH!, em entrevista a este noticiário, a decisão de se tornar uma credenciada vem justamente como parte de uma estratégia maior.

"Eu trabalhei na Algar por 17 anos, e há quatro montei a NUH! Digital, mas a nossa proposta era outra, era ser uma empresa de desenvolvimento de soluções e inovação para MVNOs, e também como representante comercial das operadoras que estavam desenvolvendo o modelo de MVNO. Mas a gente tem um plano maior, que é nos tornarmos uma operadora neutra multirredes, tanto para o móvel quanto para o fixo", explica Magalhães. 

Magalhães conta que vislumbrou essa possibilidade quando a regra de MVNOs passou a permitir o credenciamento junto a mais de uma operadora de rede. "Já estamos com a rede da TIM e da Algar, estamos finalizando a homologação com a rede da Vivo e estamos buscando a Claro para fazer o mesmo", diz ele. E não para por aí: "também estamos conversando com as operadoras de redes neutras de fibra para desenvolver o modelo de FVNO (Fixed Virtual Network Operator)".

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Outro episódio recente da trajetória profissional de Laerte Magalhães foi ter atuado com o Consórcio 5G Brasil, que congregava cerca de 400 provedores, para formatar um plano de negócios para entrar no leilão de 5G realizado no ano passado. A vitória na disputa pelos lotes de espectro acabou não vindo, mas o grupo segue com planos de atuar no mercado móvel.

Na licitação do Internet Brasil, Laerte Magalhães não esconde que o plano é mais amplo. "Na verdade, o que nos interessa mais é a outra parte do leilão (cujos resultados devem ser homologados esta semana) para sermos o fornecedor e o operador do chip neutro", diz ele. Ele diz que a NUH! já tem uma parceria com um grande fornecedor de tecnologia (que ele não revela quem seja) e que opera 10 milhões de chips no modelo white label em outros países, e o próprio executivo trabalhou no projeto da Algar de desenvolver uma plataforma multi-operadora para IoT. "A gente viu na licitação da RNP uma grande oportunidade para desenvolver esse mercado que já estava na nossa cabeça", diz ele, reconhecendo que haverá um esforço de integração de plataformas de diferentes operadoras, o que não será simples. "É perfeitamente possível de fazer, nosso parceiro tem mais de 20 operadoras conectadas fora do Brasil, as interfaces são todas 3GPP, padronizadas, não tem mistério. Mas precisa de vontade para fazer, e entender que esse modelo pode ajudar a facilitar o acesso de quem não tem conectividade hoje", diz ele, citando sua experiência na Algar.

A colocação é uma crítica às posições manifestadas pelas grandes operadoras de que será muito complexa a integração de um operador de chip neutro. As principais teles ficaram de fora do leilão do Internet Brasil. 

O programa Internet Brasil pretende conectar, com acesso 4G, cerca de 700 mil alunos e estudantes de escolas públicas, adotando de maneira inédita o modelo de operador de chip neutro no Brasil. O programa tem orçamento de R$ 160 milhões e pode, em tese, ser ampliado para 22 milhões de estudantes. Magalhães vê espaço para um modelo semelhante, usando a rede 5G e os acessos na faixa de 26 GHz, para conectar escolas como parte dos compromissos do leilão.

Guimarães Rosa

Ele diz que a empresa não tem investidores de grande porte, nem tem ligações com a Algar ou com a Surf que não seja na condição de MVNO."É capital nosso mesmo", diz ele. NUH!, segundo ele, remete à expressão tipicamente mineira mas que também é a sigla para Negócios para a União Humana, o que segundo ele reflete o propósito do grupo. "É junto dos bão que a gente fica mió", diz ele, citando o escritor Guimarães Rosa. 

Laerte Magalhães não é um entusiasta do mercado de MVNO da forma como ele é estabelecido hoje no Brasil. "É um mercado de pouca margem, e por isso de nichos, e o nosso nicho é o de uma operadora multirrede", diz ele. Entre os problemas do mercado, diz, são as condições colocadas pelas operadoras de rede, que, segundo ele, praticam o modelo "retail plus", ironiza, ou seja, cobram das operadoras virtuais mais pelo uso da rede do que cobram dos clientes finais.

"Se a Anatel não adotar um modelo de 'retails minus', não vai vingar", diz ele, também cético em relação às ofertas de referência colocadas pelas operadoras até aqui. "Não mudou nada em relação ao que elas já pediam. Mas os remédios da Oi ainda podem ajudar a melhorar o mercado de MVNO, e o ideal seria colocar roaming e MVNO no modelo de custo, como foi feito no PGMC", diz ele.

Pressa

Como reconhece Laerte Magalhães, a NUH! não pensava em entrar na parte da licitação do Internet Brasil reservada aos planos de dados (perfil elétrico), mas acabou fazendo porque viu uma oportunidade, e com isso desbancou empresas como a Datora, que estava no pleito. De fato, a NUH!! Digital só pediu para ser credenciada da Surf (rede da TIM) no dia 11 de abril e foi homologada na Anatel dia 18 de abril. Tanto o início do processo quanto a homologação são, portanto, posteriores ao prazo inicial de entrega de propostas para o Internet Brasil. No caso da Vecto (rede da Algar) o pedido foi no dia  31 de março (dia de entrega de propostas), mas a tramitação demorou mais e a homologação saiu apenas no dia 16 de maio. Para Laerte Magalhães, contudo, as condições comerciais não são as ideiais. "O que a gente aposta é no desenvolvimento do modelo de chip neutro, mais do que no valor dessa licitação em si", diz ele.

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