Data centers: Brasil deve agir rápido para não perder 'oportunidade única'

Redes privativas. Divulgação: Siemens

O Brasil precisa colocar em prática nos próximos meses uma estratégia que resolva gargalos para a implementação de data centers no País, sob o risco de perder uma "oportunidade única" de atração de investimentos no segmento.

Esse foi o consenso de especialistas, empresas de tecnologia e players do mercado financeiro que participaram nesta semana de debate sobre oportunidades e desafios no mercado de data centers. O encontro foi promovido na última quarta-feira, 27, pelo escritório de advocacia Cescon Barrieu e pela consultoria Oliver Wyman.

Para a head de ESG e pesquisa temática do Santander, Maria Paula Cantusio, mesmo possuindo menos de 2% do mercado global de data centers, o Brasil possui uma série de vantagens competitivas para investimentos da cadeia. Entre eles, energia barata com matriz de baixa pegada de carbono, água abundante e estrutura de fibra óptica bem desenvolvida, sobretudo no Sudeste. 

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Estes seriam trunfos frente a alta demanda global por infraestrutura de dados, sobretudo para suportar a inteligência artificial generativa. O cenário representa desafio para empresas de tecnologia, que precisam "colocar na mesma página metas de crescimento e de sustentabilidade", afirma Cantusio. Nos países com maior parque de data centers, o consumo de energia tem sido grande fator de preocupação. 

"Os custos lá fora vão começar a crescer e para processar a genAI, eles vão transferir os dados para outros países", projetou a analista do Santander. "Essa é uma oportunidade única para o Brasil aproveitar". A avaliação, contudo, é que o País precisa se movimentar de maneira rápida. 

"O setor produtivo e governos têm que se posicionar em 12 a 18 meses, se não esse espaço vai ser tomado. O jogo já começou. Se no primeiro semestre do ano que vem a gente não tiver bandeira fincada, vamos começar a ficar pra trás", cravou o presidente executivo da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), Affonso Nina, durante o debate.

"Devemos resolver rápido o timing, porque a janela de oportunidade é agora e se não pegarmos, vamos ter que esperar a próxima", concordou Marcelo Mendes, da Associação Brasileira de Data Center (ABDC). Ainda que o Brasil já seja o centro do processamento de dados na América Latina, existem desafios a serem superados.

Entre eles, a necessidade de novos investimentos para expansão do sistema elétrico, sobretudo na cadeia de transmissão de energia para novas geografias. A ampliação tem ocorrido, mas uma maior integração com a estratégia brasileira para data centers é vista como necessária.

Em paralelo, há o desafio da tributação. Segundo a Brasscom, o cenário atual pode levar a um aumento de até 30% nos investimentos (capex) para data centers no Brasil, na comparação com outros competidores globais.

Para a ANDC, parte do problema já seria resolvido com uma revisão da tributação sobre as unidades de processamento de gráfico (GPUs). Os chips de alta performance respondem por boa parte dos investimentos em novos data centers e não possuem similares produzidos no Brasil, o que justificaria incentivos para a importação.

Financiamento

Durante o evento, Luiz Felipe Hupsel, do BNDES, notou que o banco vê o segmento de data centers como um tema quente. Ele recorda que a entidade pode financiar até mesmo a aquisição de equipamentos importados, desde que não haja similar nacional.

Um dos instrumentos que o BNDES tem mobilizado são recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust). Há entre R$ 500 milhões e R$ 600 milhões do fundo destinados ao mercado de data centers, como parte de uma linha maior para o segmento. Além do crédito corporativo, algo que também surge como alternativa são operações de equity, estratégia que tem sido retomada pelo BNDES.

Quem também tem acompanhado de perto do mercado de data centers é a Anatel, que tem realizado mapeamento sobre o segmento e a integração com as redes de telecom. Superintendente de competição da agência, José Borges apontou que uma das preocupações da agência é fomentar uma descentralização das estruturas de dados, hoje ainda concentradas em alguns pólos como São Paulo ou Fortaleza.

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