Mão-de-obra, cultura e regulação no caminho da virtualização das redes de telecom no Brasil

A evolução das redes de telecomunicações, há alguns anos, tem sido orientada pelo conceito de redes e serviços controlados por software, e as siglas SDN e NFV (Software Defined Networks e Network Function Virtualization) dominam qualquer debate sobre os caminhos das operadoras de telecomunicações. Na Futurecom 2015 esse debate se repetiu. Mas na perspetciva brasileira, alguns aspectos que já aparecem em debates internacionais se intensificam. Existe ainda um longo caminho para que as redes inteligentes e sejam realidades, mas os desafios parecem bem claros para as operadoras brasileiras. E em essência elas se manifestam na necessidade de uma mudança cultural.

Diretor de inovação da TIM, Janilson Bezerra lembra que os conceitos de NFV e SDN trazem uma revolução na forma de pensar a tecnologia. "E isso é o que realmente muda. É uma nova mentalidade. Mudar essa mentalidade é como a (mudança) que vivemos na passagem do analógico para o digital ou dos celulares para os smartphones", disse ele. A vantagem, diz Bezerra, é que existe um know-how adquirido pela indústria de TI, que já passou pelo ciclo de virtualização das funções das redes e aplicações.

Para o gerente de tecnologia da Oi, Orlando Ruschel, é preciso construir a capacitação dentro das empresas para assimilarem os conceitos de NFVs e SDNs. "Estamos fazendo um time conjunto de rede e TI em um contexto em que as latências e capacidades de processamento para telecom são diferentes das que o pessoal de TI estava acostumado", explica o executivo. Ele lembra que existirão algumas inversões de papel nesse novo ambiente, com o pessoal de TI dedicado ao controle da rede virtualizada e o pessoal de telecom cuidando das funções virtuais. "Mas tem uma zona cinzenta, que é a parte operacional, que tem ainda dificuldade de monitorar e supervisionar a infraestrutura nesse novo ambiente", diz ele.

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Outra discussão importante é a forma de fazer essa transição. Para Bezerra, da TIM, o grande desafio é não criar novos legados. "Vamos fazer NFV sem criar novos legados. Não queremos modelos híbridos. Vamos fazer por parte, mas fazer ponta a ponta. O momento de transformação é agora. A transformação está acontecendo na ponta e se não preparar o core, não teremos capacidade. Mas tem que começar com o novo".

Para o gerente de tecnologia da Telefônica/Vivo, Celso Valério, ainda há uma questão de confiabilidade que precisa ser discutida para o ambiente de serviços e redes virtualizados. "Um dos desafios identificados é manter o carrier grade com equipamentos não-dedicados. Outro ponto é saber se esse ambiente é realmente aberto a novos vendors", disse ele. A Telefônica/Vivo tem um projeto global de virtualização, chamado Única, que pretende ter 30% dos elementos de rede virtualizados até 2016. Valério, contudo, ressaltou que esse percentual varia de país a país, em função das realidades locais, e não deu a meta para o Brasil.

Um último aspecto importante colocado nos debates entre os operadores brasileiros é o regulatório. Para Janilson Bezerra, da TIM, o regulador não precisa ser o facilitador desse processo de transição das redes e serviços, "mas não deve ser o complicador". Segundo ele, é preciso dar a liberdade necessária para que a indústria avance. "Esse processo tem muito a ver com a competição com as OTTs (over-the-top), com as assimetrias, e  essa discussão passa pela modernização dos marcos regulatórios. O IP é a maneira mais eficiente de conectar empresas e também de conectar as empresas de telecomunicações. Tivemos a discussão sobre o Marco Civil, e não sei se ele está adequado a SDN, NFV, mas entendo que pelo menos uma reflexão deva ser feita", disse ele.

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