Governo deveria incentivar software, e não apenas hardware, dizem fabricantes

As medidas de desoneração tributária do governo têm o alvo errado,  na opinião do diretor da Nokia Simens Networks, Mario Baugarten. “Nas redes de telecom, o valor em hardware foi totalmente capitalizado pela indústria da microeletrônica. A indústria de telecom é montadora de produtos microeletrônicos”, afirmou o executivo durante o workshop do 56° Painel TELEBRASIL que aconteceu nesta quarta, 29.

Notícias relacionadas
O comentário foi uma resposta à apresentação do diretor do departamento de política industrial do Minicom, José Gontijo, que listou todas as iniciativas do governo de desoneração das redes de telecom. Além do incentivo do Funttel à pesquisa e desenvolvimento, que está sendo usado, por exemplo, pelo CPqD para o desenvolvimento de um sistema LTE em 450 MHz, Gontijo mencionou políticas aprovadas mais recentemente, como o Regime Especial do PNBL, que exigirá percentual de conteúdo nacional nos equipamentos, e também a lei que dá preferência para os produtos nacionais nas compras públicas.

Em relação ao uso do poder de compra, Gontijo ponderou que a lei prevê que seja feita uma análise detalhada da viabilidade, que leve em conta o potencial de geração de renda e emprego e outros benefícios que compensem o custo adicional. O ministério está trabalhando na regulamentação da lei.

O impacto que as medidas têm na indústria foram resumidos pelo diretor do SindiTelebrasil, Carlos Duprat. “A nossa maior preocupação é que não é razoável nada que aumente o preço, por mais que os benefícios de capacitação sejam razoáveis, a sociedade não pode pagar  preços mais altos pelo produto nacional”, disse.

Duprat compartilha da mesma opinião de Baugarten, da Nokia Siemens. “O benefício de ter uma grande indústria de hardware é relativo. O software é onde o governo tem que trabalhar com incentivos globais. Trabalhar só no harware me parece que já passou”, disse ele. Duprat também argumenta que a indústria de telecom todo ano sofre pressão das operadoras para redução de preço, o que não acontece com outros segmentos, como o automotivo por exemplo. Essa pressão dos clientes por redução de preço somada à pressão do governo por desenvolvimento nacional, segundo ele, é “perverso”.

O diretor da Nokia Siemes acrescenta que o governo deveria centrar os incentivos nos mercados em que o Brasil tem “expertise”, como é o caso das redes óticas. “Temos que pensar em como inserir nossa expertise em ótica no mercado global”, diz ele. “Achar que vai conseguir instalar indústria microeletrônica aqui e achar que vai fornecer coisa de ponta para países industrializados nesse mercado ultracompetitivo eu acho muito difícil”, diz Baugarten.

Boa parte da expertise brasileira em redes óticas é detida hoje pela Padtec, companhia de capital nacional com contratos em mais de 40 países. O presidente da companhia, Jorge Salomão, saiu em defesa das medidas que estão sendo trabalhadas pelo governo e criticou a opinião daqueles que discordam do incentivo ao hardware. “O governo brasileiro se mostrou sensível ao hiato que o Brasil tem na área industrial. Fico surpreso com essa divisão hardware x software. O equipamento são os dois. O desenho do hardware é importantíssimo e é um conhecimento que não se encontra nos livros. A única coisa que eu peço é que essas medidas adotadas pelo governo sejam duradoras”, afirma. “A gente precisa ser forte na inteligência aliada aos equipamentos para ser competitivo”, completou

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
CAPTCHA user score failed. Please contact us!