Para a Brisanet, o novo leilão da faixa de 700 MHz em preparação pela Anatel precisa ocorrer já no início de 2025 e trazer como condição um recálculo no valor do espectro, na comparação com a licitação realizada no leilão 5G de 2021.
A avaliação foi feita pelo CEO e fundador da Brisanet, José Roberto Nogueira, em conversa exclusiva com TELETIME durante evento em Fortaleza na última semana. Para o executivo, se o novo leilão do 700 MHz não ocorrer no início do ano que vem, ele deve ser deixado para 2027 ou 2028. Já um cronograma intermediário foi considerado negativo.
A razão para a abordagem seria permitir um maior "conforto" para o uso da faixa em caráter secundário, após o direito no formato ser concedido para a Brisanet em 401 cidades do Nordeste e Centro-Oeste. A empresa, contudo, ainda segue "cautelosa no investimento", relata Nogueira.
"É uma situação complexa o uso secundário e ao mesmo tempo o leilão, então que ele seja logo ou bem mais para a frente, para dar um conforto. Se ficar para o final de 2025, fica a ansiedade se a gente pode acelerar o investimento agora ou não. Seguimos cautelosos, mas se tiver uma definição [rápida], podemos acelerar o investimento".
Vale lembrar que, pelos termos que a Anatel tem concedido o uso secundário do 700 MHz, as novas operadoras móveis têm 18 meses para iniciar ativações na faixa. No caso de um leilão no começo do ano que vem, a Brisanet teria visibilidade sobre o novo dono do espectro antes deste prazo de um ano e meio se esgotar.
Já na hipótese de leilão no fim de 2025, a empresa receia realizar os investimentos e depois ser obrigada a deixar a faixa pelo novo detentor. Por isso a defesa de Nogueira pela licitação no início do ano que vem, ou apenas dentro de alguns anos. "Se ficar para mais longe, ficamos confortáveis para o uso secundário no meio tempo".
Hoje, o que há de definido pela Anatel é determinação de publicar um novo edital de venda em caráter primário do 700 MHz até o último dia de 2025.
Valor
Os prazos, contudo, não são o único fator de atenção para a empresa cearense. A Brisanet também defende um recálculo do valor da faixa.
No leilão de 2021 o preço mínimo do lote nacional foi de R$ 157 milhões, mas acompanhados de relevantes compromissos de cobertura 4G em rodovias. A Winity ofereceu R$ 1,4 bilhão pela faixa, mas desistiu do lance dois anos depois.
"A expectativa para o leilão é que a agência faça uma reavaliação dos compromissos e do valor, pois já foram transcorridos três anos, e a cada ano o bloco perde relevância. Hoje o valor já tem que ser menor do que foi [em 2021]", afirmou Roberto Nogueira.
"E em mais três anos, a maior parte dos celulares vai estar em 5G, visto que cada celular novo adquirido é transferência de tráfego do 4G para o 5G", completou o empresário – projetando que nos próximos anos o espectro pode perder mais valor, no bojo da migração das tecnologias.
Hoje, contudo, a faixa é considerada essencial para a estruturação de novas redes móveis, sobretudo para serviços 4G, de voz e para cobertura em áreas de baixa densidade, como as rurais. Sem o recurso, a Brisanet iniciou sua rede móvel no Nordeste no espectro de 2,3 GHz, que exigiu maior quantidade de antenas para uma mesma cobertura.
Na Grande Fortaleza, o espectro nobre de 3,5 GHz também passou a ser utilizado pela empresa, mas nas áreas verticais e densamente povoadas onde a faixa opera em conjunto com o 2,3 GHz. Na capital e em outras importantes cidades na estratégia móvel da empresa, o 700 MHz não fez parte dos projetos.
Já no Centro-Oeste, o espectro poderá ter um papel mais relevante – visto que na região a Brisanet tem apenas o 3,5 GHz, sem a faixa de 2,3 GHz. Nestes estados, a empresa nordestina tem buscado um modelo de parcerias com outros provedores.
A própria licença de uso secundário dada pela Anatel ilustra o papel potencial do 700 MHz no Centro-Oeste: a Brisanet solicitou o recurso em 201 cidades da região, ou quase metade dos 467 municípios de lá. Já no Nordeste, o espectro foi concedido em 11% das cidades da região (as 200 maiores praças, dentre universo de 1,7 mil municípios).
(O jornalista viajou para Fortaleza convidado pela Brisanet)