A Fundação Procon-SP divulgou nesta terça-feira, 29, os resultados de uma pesquisa que apontou como inseguro o pagamento de contas via celular. A pesquisa foi realizada com dois grupos: entrevistas com usuários de um centro de serviços populares (CIC Leste) e enquete disponibilizada no site da instituição. Entre os entrevistados pessoalmente, 75,56% responderam que não consideram o celular um meio seguro para pagamento de contas e, entre os internautas, esse contingente foi de 66,22%. No entanto, consultores e especialistas da área de segurança e mobile payment questionam a validade da pesquisa. Segundo o diretor executivo da Data Security, Marcelo Lau, a enquete tem problemas, a começar pelo local das entrevistas, frequentado predominantemente por pessoas de menor poder aquisitivo. "O local escolhido não foi o mais adequado. A maioria dos entrevistados não tem sequer computador em casa, a mínima parcela utiliza Internet banking, o que dirá então mobile payment", diz. "Trata-se de uma parcela da população que possui pouco acesso à informação sobre o mobile payment, e aí a tendência à opinião negativa é maior mesmo", acrescenta ele, que acredita que o resultado poderia ser positivo para o mobile payment se a aferição fosse feita entre jovens e outras pessoas com maior nível de acesso a novas tecnologias. O executivo questionou também o fato de a maioria esmagadora dos entrevistados (89,44%) ser cliente do sistema pré-pago de telefonia móvel. "O mobile payment só é viável para quem é cliente pós-pago e tem um plano de dados contratado", diz.
Outro especialista entrevistado pela TELETIME, que preferiu não se identificar, discordou de Marcelo Lau. Para ele, seja qual for o público selecionado para esse tipo de pesquisa, o resultado não alterará muito. "O mobile payment ainda é incipiente e tudo o que é desconhecido gera insegurança. Principalmente em se tratando de movimentação financeira", diz. "Porém, quando esse serviço estiver implantado em larga escala e as pessoas começarem a vê-lo funcionando efetivamente, as opiniões serão positivas", prevê o especialista, que acredita que o mobile payment com SIMcard é mais seguro do que qualquer outro meio. "O software é proprietário, a memória é específica, o chip é não-clonável, existem senhas de autenticação do usuário e da transação", explica.
Para Marcelo Lau, há outros entraves para que essa tecnologia, enfim, deslanche no País, a exemplo da Índia, Japão e África. "Não podemos nos esquecer que somente 20% a 30% da população brasileira tem acesso a meios de comunicação como a Internet. Além do mais, os serviços de telefonia móvel do Brasil estão entre os mais caros do mundo e o percentual de smartphones, que tem a interface adequada para o mobile payment, ainda é muito pequeno no país", diz.
A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) trabalha no desenvolvimento e na padronização de uma tecnologia de mobile payment para o País. Procurada por esta reportagem para se pronunciar a respeito da pesquisa do Procon-SP, a federação informou o seguinte, por meio de nota oficial: "O Mobile Payment ainda é uma tecnologia nova, que necessita de definições. Assim como outras tecnologias, houve uma gradual adaptação dos usuários e uma adoção cada vez maior dessas tecnologias".