Associação de engenheiros vê problemas de topologia na rede da Telefônica

Em todos os episódios envolvendo falhas no Speedy, a Telefônica negou problemas sistêmicos em sua rede, tratando as panes como eventos isolados. Mas, para a Associação dos Engenheiros de Telecomunicações (AET) esse diagnóstico não é preciso. A associação diz ter investigado a estrutura da rede de dados da empresa e assegura que "a atual topologia da rede de dados (banda larga) já não atende à demanda crescente de tráfego". A análise foi encaminhada ao Conselho Consultivo da Anatel, por meio de carta em resposta à solicitação de participação do debate, ocorrido na última sexta-feira, 29, sobre os problemas em São Paulo.
A carta acabou não sendo lida durante o evento, o que fez com que a Telefônica não fosse confrontada diretamente com as análises da AET. Mesmo assim, surgiram perguntas dos conselheiros sobre a saúde da rede de dados da Telefônica. E a companhia negou a existência de uma degradação em sua infraestrutura capaz de comprometer sua operação de dados.
O diagnóstico técnico da AET aponta para uma troca intensa de tabelas de endereçamento do MPLS (rede de dados) em camada 3. Segundo Ruy Bottesi, presidente da associação, o método escolhido pela Telefônica de processamento desses pacotes via camada 3 é muito complexo e desestabiliza a oferta do serviços, chegando a inviabilizá-lo em alguns momentos. "É tanta troca de sinalização que o sistema está entrando em colapso. Do jeito que está, a rede não tem eficiência. A troca de sinalização é tão intensa que chega uma hora que ninguém mais tem Internet", afirma. "Se continuarem mantendo a rede como está, vai piorar."

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Além do sistema pouco eficiente, outros fatores contribuíram para que a infraestrutura da Telefônica chegasse a este nível de problemas, diz a associação. Soma-se à topologia ruim, uma dificuldade de integração de equipamentos, com o uso de diversos fornecedores, e a sequência de demissões promovidas pela empresa nos últimos anos, reduzindo seu corpo técnico especializado. Por enquanto, a AET não sabe se o plano antipane apresentado pela companhia à Anatel é capaz de solucionar as falhas localizadas até agora. Na breve apresentação da Telefônica à imprensa dos pontos principais de sua proposta não foi citada nenhuma mudança estrututural de sua rede.
Um indício de que a sobrecarga na rede da Telefônica tem sido gerada por ela própria, com o uso de um sistema de endereçamento complexo demais para sua infraestrutura, é a política da empresa de garantir apenas 10% da velocidade da banda larga vendida ao consumidor. Segundo a AET, essa postura conta com o aval da Anatel e é inexplicável do ponto de vista técnico. "Ainda não conseguimos entender porque, tecnicamente, a Telefônica, com o aval da Anatel, garante apenas 10% da velocidade do serviço prestado via ADSL para o consumidor final, enquanto em determinados momentos chega a consumir até 90% do recurso da rede dando prioridade à troca de tabelas de roteamento em relação à aplicação do usuário", critica a AET.
Essa sobrecarga na rede da Telefônica, segundo Bottesi, já vem sendo constatada por fornecedores da empresa há algum tempo. Essas empresas, em diversas oportunidades, teriam sugerido à Telefônica uma mudança do sistema de endereçamento, simplificando a rede, mas as propostas não foram acolhidas. De acordo com os fornecedores, as falhas na empresa estariam "fugindo da normalidade", contou Bottesi.
Por enquanto, a AET só constatou na rede de banda larga de São Paulo e não tem notícias de falhas semelhantes no resto do país. A última pane, registrada no STFC, também não teria nenhuma relação com as falhas na banda larga, segundo os engenheiros. "Essas redes não estão interligadas. O caso do STFC foi uma fatalidade", avaliou o engenheiro.

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