Um grupo de cineastas, representando 55 entidades e 349 pessoas ligadas ao cinema e ao audiovisual, entregou ao presidente da República nesta quinta, 28, um manifesto de apoio à criação da Ancinav como agência reguladora e fiscalizadora do setor de audiovisual como um todo. Trata-se do mesmo manifesto distribuído à mídia na terça, 26, e já divulgado por este noticiário. O presidente Lula considerou saudável que o governo receba todas as manifestações da sociedade e afirmou que desta forma ele estará tranqüilo porque o projeto que será encaminhado ao Congresso Nacional não será mais o projeto do ministro Gil, mas o resultado da capacidade de produção da sociedade. Usando o exemplo das dificuldades que teve para discutir a questão da transposição das águas do Rio São Francisco, Lula afirmou que a delicadeza do tema e sua importância, pela diversidade do País e a necessidade de agradar os diversos setores envolvidos, exigem muita conversa e muita discussão. ?A nossa disposição é de fazer, vamos ouvir todos, quantas vezes for necessário, mas temos a decisão política de fazê-lo, e isso é o que marca a passagem de um governo pelo poder?, afirmou o presidente. Lula manifestou aos cineastas ainda a confiança de que, nesta discussão, vai "acertar mais do que errar?.
Além do grupo de cineastas, estiveram na audiência com o presidente da República, o ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, o secretário executivo do ministério da Cultura, Juca Ferreira, e o secretário de audiovisual, Orlando Senna. Para o ministro Gilberto Gil, o documento é um reforço político à iniciativa do governo para criar o conjunto regulatório audiovisual brasileiro. O ministro disse ainda que o consenso sobre o assunto será obtido a partir das entidades, consultas públicas e manifestações vindas de todos os setores e ainda do Conselho Superior de Cinema, que vem se debruçando sobre o assunto, e também a partir das discussões que ainda vão acontecer no governo.
História
Para o presidente do Congresso Brasileiro de Cinema, Geraldo Moraes, que fez parte do grupo que manifestou apoio ao projeto, a discussão sobre a Ancinav marca um momento histórico para a cultura brasileira, uma vez que o audiovisual é um setor estratégico para a construção da nacionalidade. De acordo com Orlando Senna, o presidente afirmou que apoiará a agência que a sociedade e o setor quiserem que exista. Senna afirmou ainda que todas as manifestações sobre a futura agência servem a uma Ancinav que não está sendo construída pela vontade do governo, mas sim pela sociedade brasileira.
Críticas eleitoreiras
Segundo José Dirceu, ministro chefe da Casa Civil, a discussão sobre a Ancinav está tomando grande parte da agenda do governo. O ministro disse ainda aos cineastas que nos últimos tempos, por conta das eleições, o foco estava mal colocado, e muitas críticas foram feitas ao projeto apenas por razões eleitoreiras, criticando um possível autoritarismo do governo, por exemplo: ?vamos fazer o debate, mas é o Congresso que decide finalmente. Nosso objetivo será oferecer um consenso razoável ao Congresso. Não podemos fazer uma agência de faz de conta. O governo tem confiança no debate público. No grito, ninguém ganha nada neste país?, afirmou José Dirceu.
TCU
A respeito do documento divulgado pelo Tribunal de Contas da União ? TCU, questionando a forma de aplicação de recursos públicos no setor, o ministro sugeriu que fosse criado um grupo para ir ao tribunal de forma a descrever com clareza o processo de criação do cinema. José Dirceu acredita que a intenção dos ministros foi boa, mas eles precisam conhecer melhor o assunto. Para Orlando Senna, secretário do audiovisual, a manifestação do TCU leva uma reflexão importante para o ministério da Cultura: ?mostrou que falta elaborar uma nota técnica informando os ministros sobre o assunto, o que faremos com certeza o mais breve possível?, afirmou Senna.