Na opinião de especialistas presentes em seminário sobre TV digital realizado nesta quarta-feira, 28, no Rio de Janeiro, sob a organização do Jornal O Globo, o esforço dos cientistas brasileiros na busca por um padrão nacional deve se concentrar no middleware, camada intermediária entre o hardware e o software da TV digital. "É no middleware que o Brasil tem chance de criar o seu padrão", aposta James Beveridge, diretor da Microsoft presente no evento.
A grande dúvida é se o país conseguirá criar um middleware 100% brasileiro ou desenvolverá uma extensão de algum dos três já existentes: Dase (EUA), Arib (Japão) e MHP (Europa). "Ainda é cedo para essa resposta", limitou-se a responder Ricardo Benetton, gerente de inovação do CPqD, órgão que coordena o projeto de desenvolvimento de um sistema brasileiro de TV digital. Carlos Capellão, diretor da SET (Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão e Telecomunicações) é mais incisivo: ele considera impossível criar um middleware 100% brasileiro.
Vale lembrar que os mddlewares já existentes vêm convergindo e permitindo interoperabilidade para os softwares que, na maiorira dos casos, mesmo desenvolvido sobre um plataforma específica, pode trabalhar nas outras duas. Para que não fique isolado, e sem a capacidade de exportar softwares e conteúdos interativos, o Brasil terá de usar um middleware que também permita essa interoperabilidade.
Com mobilidade
Em palestra durante o evento, o ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, destacou a importância da mobilidade como uma característica fundamental para o padrão brasileiro que está sendo criado. Questionado depois se isso significaria que o padrão americano está descartado, ele contemporizou: "queremos criar um padrão brasileiro. Não sabemos ainda onde vamos chegar".
Benetton, do CPqD, demonstrou preocupação em relação aos prazos. A Finep informou que precisaria de três meses para escolher as entidades que serão contratadas para participar do desenvolvimento do padrão brasileiro, mas o CPqD gostaria que o processo de seleção levasse apenas duas semanas. "A parte de inteligência precisa estar pronta em março de 2005", justificou Benetton.
TV X Celular
Mais uma vez, a convergência entre TV e telefonia celular entrou em debate. Wajnberg, que também é presidente da Telecom (Associação Brasileira de Telecomunicações), encerrou sua palestra afirmando categoricamente: "a função da operadora de telefonia é transportar, não produzir conteúdo".
Paulo Henrique Castro, gerente de projetos de transmissão digital da Rede Globo, destacou que a recepção gratuita dos canais de TV aberta nos celulares estimulará a compra de conteúdo exclusivo via rede celular, gerando receita para as operadoras de telefonia móvel. "Pesquisas da NTT DoCoMo comprovaram isso", afirmou.
A briga é mais séria, contudo: no seminário Tela Viva Móvel realizado em março, ficaram claras as duas posições existentes. De um lado, a Globo deseja que os handsets venham com um chipset capaz de captar o sinal de TV digital transmitido pelos broadcasters em UHF. A Vivo, por sua vez, afirmou que quem define os features do handset é o operador de telefonia móvel, pois é ele quem subsidia o equipamento e desenvolve os produtos. Para as operadoras de serviços móveis, o mais interessante é que o sinal de TV venha ao celular pela rede da operadora de telefonia móvel.