Faixa de 700 MHz e RAN sharing seriam melhores para área rural, diz Everis

Uma das obrigações que a Anatel impôs às operadoras no edital da frequência de 2,5 GHz para o 4G no Brasil foi a de usar a faixa de 450 MHz para o atendimento à zona rural, mas isso não está disponível comercialmente. Prevista para acontecer até o final do ano, a padronização da tecnologia LTE nesse espectro ainda espera o aval do 3GPP para que dispositivos compatíveis sejam disponibilizados no mercado. Na visão da companhia de consultoria Everis, esperar e investir nisso não é uma boa saída para a escassez de frequências. "Não sei por que o Brasil está falando em 450 MHz quando se tem os 700 MHz", critica o diretor de telecomunicações da Everis Brasil, Marco Carrasco.

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O espectro ainda não está disponível por estar ocupado pela radiodifusão no País, mas o Ministério das Comunicações já indica para um possível leilão até o final de 2014. Mesmo assim, Carrasco argumenta que seria mais fácil esperar pela liberação do chamado dividendo digital, que já conta com equipamentos compatíveis e bem difundidos – a faixa de 700 MHz é utilizada nos Estados Unidos, maior mercado LTE do mundo. "O regulador tem que estudar bem as operadoras, saber quais são as tecnologias que vamos usar. Por geralmente importarem equipamentos, desenvolverem o que não é padrão para 4G poderia ser mais caro", argumenta.

Ele diz que a saída para a escassez de espectro estaria no compartilhamento, ou RAN sharing, algo que já está sendo colocado em prática pelas operadoras no Brasil (Claro com a Vivo e Oi com a TIM) no 4G. "Frequência tem e terá muito mais se começar a pensar em RAN sharing. Acho que esse é o caminho, porque se vai colocar uma faixa nova, precisará de mais investimentos. O compartilhamento precisa de estudo, entender bem as regras do jogo, mas vai trazer ganhos mais rápidos e a capacidade necessária", diz o executivo da Everis.

Para o diretor de negócios da Everis no Brasil, Eduardo Arbesú, o mercado tem condições de começar a pensar em compartilhamento como solução. "Tem frequências que podem ser fechadas assim, afinal isso já é realidade na Europa há oito anos", diz ele. "A Anatel não enfia o dedo, já que é bom para todo mundo. Mas acho que não vão falar muito cedo, pois o investimento é alto e elas (as operadoras) precisam falar em 4G enquanto ainda não conseguiram monetizar a rede 3G", declara Arbesú.

A cobertura na zona rural brasileira ainda pode ser preenchida com serviços de satélite, argumenta ele, utilizando a banda Ka para oferecer backhaul de alta velocidade. "É um serviço caro, mas tem (disponível). Há países que não têm", explica Marco Carrasco. Entretanto, ele reconhece que, em cinco ou dez anos, o mais provável seja o acesso por redes móveis 4G ou 5G.

Complexidade

Ocorre que, mesmo nas áreas urbanas, onde haverá mais antenas, há ainda o problema de como o consumidor receberá o serviço. A má percepção dos usuários com a qualidade do serviço de 3G provocou uma das ações mais agressivas da Anatel em sua história quando impediu as vendas de novos chips em 2012 das operadoras Claro, Oi e TIM. Carrasco diz que isso tem de ser evitado a todo custo com o LTE. "No 4G, ou faz bem, ou não dá para fazer muito", reclama. Mas ele espera que não haja sobrecarga na rede de quarta geração justamente por haver migração da base: "A parte boa é que possivelmente, como aconteceu em outros países, a qualidade do 3G que era ruim ficou um pouquinho melhor depois que liberaram o 4G."

Marco Carrasco considera o mercado brasileiro um caso à parte. Isso porque, na visão do chileno, comparando com outros países da América Latina e Europa, o Brasil é um dos países mais complicados para operações de telecomunicações. "Pelo tamanho e nível de evolução que já tem, realmente estamos em níveis acima de países europeus", compara. A questão é que há complexidade nas dimensões do País, na concentração de clientes e mesmo na competição. "Não acho que eu seja pessimista, mas se eu fosse uma operadora, pensaria que meu trabalho não é simples".

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