O compartilhamento de infraestrutura em telecomunicações não é fora do comum no cotidiano das empresas, seja para provedores de Internet (ISPs), seja para operadoras de telecom, sendo o compartilhamento de postes de rua a imagem mais conhecida e identificável desta prática. O aumento na procura por estruturas de redes neutras é outra face desse uso conjunto que está ganhando força nos últimos anos e que tende a crescer ainda mais diante da demanda por conexão 5G e Internet das Coisas (IoT).
A estrutura de uma rede neutra é conhecida e aplicada no Brasil desde o começo deste século, quando a expansão da Internet banda larga por fibra óptica desbravou e conectou todo o País. São infraestruturas compartilhadas que permitem a utilização por diferentes operadoras, mediante métricas estabelecidas por contrato, permitindo que ISPs usem esse arcabouço já existente para atender seus clientes sem a necessidade de construir sua rede própria – algo que demanda tempo e alto investimento para iniciar o negócio.
Um dos pontos de grande desconfiança na adesão à rede neutra por parte dos provedores era quanto à real neutralidade de grandes operadoras que ofertam este tipo de serviço, uma vez que ambas as partes competem pelo mesmo cliente final. Essa questão, contudo, ganha novos contornos diante do crescimento da procura dessas mesmas operadoras por outros fornecedores de estruturas de redes neutras, para poder expandir sua atuação em novas áreas ou em seu mercado atual, motivadas pela oportunidade de aumentar o market share ou pressionada para atender a demanda dos clientes atuais.
Em um exemplo prático: previsões do IoT Analytics, compartilhadas pela Associação Brasileira de Internet das Coisas (ABINC), indicaram 11 bilhões de dispositivos conectados no início de 2024, com previsão quase triplicar dentro de apenas três anos, somando 29 bilhões até o ano de 2027. O tempo necessário – fora o recurso financeiro de investimento – para construir a infraestrutura e começar a atender a necessidade de fibra óptica, postes, datacenter, sistema de monitoramento de segurança física e virtual, entre outros itens essenciais para a operação segura de uma rede, pode não ser tão ágil quanto à necessidade do cliente. Daí as operadoras de telecom, antes fornecedoras, passarem cada vez mais ao outro lado do balcão para contratar redes já prontas e aptas à escalabilidade, se novamente necessário.
5G para B2C e B2B
A implementação da rede 5G pelo Brasil é outro ponto que impulsionou ISPs e operadoras na adesão a estruturas compartilhadas de redes. Em quatro anos de vigência, esta tipologia de conectividade conta com um mercado domiciliar/final de 28 milhões de usuários em 589 cidades brasileiras com sinal ativo (cobertura média de 45%), segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Aproveitar estruturas já montadas para apenas redirecionar a frequência e abrir a conexão representou um ganho precioso em tempo de entrada no mercado, com a liberdade de poder focar no atendimento aos clientes e entendimento da relação deles com a nova tecnologia.
Além disso, permitiu agilidade junto ao mercado corporativo e sua necessidade por redes dedicadas ou privativas de 5G, que precisam de infraestrutura diferenciada para garantir estabilidade na transmissão, baixa latência e alta segurança para a circulação dos dados que automatizam e supervisionam máquinas no campo ou no chão da fábrica. Segundo a IDC, o impacto econômico do 5G no Brasil é estimado em R$ 590 bilhões por ano, transformando o trabalho em indústrias, agronegócio, saúde e transporte – e este mercado deve crescer acima de 35% ao ano até 2026.
Os números apresentados traduzem novas cidades conectadas à Internet e mais negócios preparados para o mercado do século XXI. Na Era da Informação, pessoas e empresas aprenderam que a economia e as relações crescem quando dados são compartilhados. Nos bastidores, entre os ISPs e operadoras de Telecom, a lição é parecida, porém aqui com redes neutras.