Para Ericsson, banda larga fixa é o caminho do 5G, mas bolso dos operadores e espectro serão limitadores

Eduardo Ricotta, ex-CEO da Ericsson

A Ericsson vê nas aplicações de banda larga fixa o caminho natural de desenvolvimento do 5G para o Brasil, pois é aquela que demanda menores investimentos, para o qual a tecnologia já está pronta e permite a seletividade de mercados enquanto as redes não estão totalmente prontas, explica Eduardo Ricotta, presidente da fornecedora sueca para o Brasil e Cone Sul da América do Sul. Ele vê como outras aplicações que demandarão 5G o acesso ao usuário individual a velocidades maiores e, em um segundo momento, as aplicações de IoT massivas (que envolvam grandes quantidades de dispositivos conectados) e as aplicações críticas (que envolvam, por exemplo, baixíssimos níveis de latência).

Mas o desenvolvimento das aplicações de banda larga fixa no modelo da Verizon, por exemplo, ainda dependem de espectro, pois as velocidades competitivas com a fibra são conseguidas nas faixas de 26 GHz e 39 GHz, ou seja, nas faixas milimétricas, que no Brasil ainda não entraram no planejamento de licitação (no país, o foco é o 3,5 GHz, por enquanto).  Segundo Eduardo Ricotta, no Brasil há uma grande quantidade de cidades que têm um atendimento de banda larga que não chega a 2 Mbps. "Metade das cidades com menos de 100 mil habitantes está nessa situação", diz ele. Nos EUA, a Verizon consegue com o serviço fixo 5G entrega 300 Mbps. "Mas o mobile broadband também será uma área importante porque as operadoras precisam diminuir  o custo por Mbps. O investimento do 5G é em geral 1,7 vez maior do que no 4G, mas não é necessariamente mais caro, porque há 100 vezes mais capacidade. O custo por GB trafegado é menor".

A  Ericsson aposta em uma solução de alocação dinâmica de espectro entre 4G e 5G para que a capacidade para cada uma das faixas seja dada, de maneira automática, sob demanda pela própria rede, a partir das aplicações e quantidade de usuários na rede. "Com isso a gente aproveita o investimento que já foi feito no 5G. O 4G já tem carrier aggregation e para fazer isso em 5G isso só pode ser feito de maneira efetiva com um único fornecedor".

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"Nossa estratégia está baseada em duas premissas: haverá um forte crescimento do tráfego das redes móveis balanceado com a baixo crescimento das receitas. Por isso o nosso foco está no gerenciamento inteligente da redes, para que a gente consiga, com ferramentas de inteligência artificial, manter os custos baixos, controlando os recursos e parâmetros".

Outro aponto que a Ericsson considera essencial para o desenvolvimento de 5G é o slicing network. "Precisa ter uma ajuste regulatório e de modelos de negócio e isso está sendo feito no mundo inteiro. Precisa definir as categorias e os parâmetros, e haverá uma monetização e precificação diferente".

Sobre as polêmicas envolvendo as garantias de segurança das redes 5G, em que os EUA estão colocando pressão sobre fornecedores chineses (notadamente a Huawei) versus a necessidade de manter uma quantidade competitiva de fornecedores para assegurar preço e inovação, Ricotta acredita que, do ponto de vista dos fornecedores, não há risco de concentração. "Nos EUA os chineses já não estão e é um  dos mercados mais competitivos e onde mais se briga por preço no mundo. Sempre surgirão novos fornecedores para ocupar espaços". diz. "Agora, a preocupação com segurança tem fundamento e é cada vez mais importante, sobretudo no mercado de IoT e conexões entre máquinas. Essa é uma questão cada vez mais crítica, e só a padronização do 3GPP não é suficiente".

Para a Ericsson, há espaço para o desenvolvimento de redes privadas em 5G, como aconteceu com a Rakuten no Japão ou outras indústrias na Alemanha. "É o mercado que vai dizer se esta oportunidade existe no Brasil, mas acho que as operadoras é que irão trabalhar para oferecer estas redes privadas. Mas não somos nós nem os operadores que controlamos isso", diz Ricotta.

Em relação aos leilões de espectro, a Ericsson acredita que o Chile será o primeiro a sair, mas nem aponta a questão do tempo de licitação como o problema. "O problema é o custo de espectro, que é o maior no mundo inteiro. Os operadoras só têm um bolso, ou compra espetro ou investe", diz Ricotta.

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