Do ponto de vista tecnológico, a edição deste ano do Mobile World Congress, que aconteceu esta semana em Barcelona, orbitou em torno do LTE, como não poderia deixar de ser. As primeiras operações com a tecnologia estão completando o segundo ano de existência e alguns resultados podem ser extraídos. De tudo o que se comentou no Mobile World Congress, o que fica claro é que os casos de maior sucesso são aqueles que não tratam a quarta geração como uma tecnologia de hot-spot, ou seja, cujo acesso só funciona em pequenas regiões. Hoje, há cerca de 65 milhões de usuários 4G espalhados em 146 redes (contando cerca de 10 operações em TD-LTE). Operadoras que optaram por fazer redes mais extensas e com cobertura mais completa estão tendo resultados excepcionais, com curvas de adoção superiores às registradas com 3G quando esta tecnologia começou a ficar disponível, há cerca de 10 anos, robustez no serviço, menores custos de operação. Mas em praticamente todos os casos de maior sucesso, estão sendo usadas frequências baixas, de 700/800 MHz, 900 MHz e em alguns casos 1,8 GHz. Poucas são as operações que operam na faixa de 2,5/2,6 GHz que estão tendo o mesmo desempenho.
Um exemplo de sucesso é o da operadora Tele2, que está presente na Suécia, Rússia e em um total de 11 mercados europeus. Segundo Joachin Horn, CTIO da operadora, este mês de janeiro o tráfego total nas redes LTE na Suécia já bateu o tráfego total nas redes 3G. "A experiência até aqui tem sido fantástica. Encontramos (no LTE), uma tecnologia muito mais simples e madura do que foi com 3G, e mais eficiente. A rede é muito mais robusta, consome menos energia e é muito mais simples de gerenciar", diz o executivo, que assegura que o LTE irá, rapidamente, permitir custos menores para os usuários por ser muito mais barato para a operadora. A Tele2, contudo, tem uma rede que opera em 900 MHz. "Quando lançamos, havia um problema sério de terminais, mas hoje eles já estão disponíveis e o número de aparelhos só cresce".
Faixas baixas
A constatação prática de que LTE bom é LTE em faixas mais baixas está colocando uma pressão pesada sobre as operadoras fazerem o refarming de frequências, liberando as faixas de 1,8 GHz, hoje ocupadas na maior parte dos casos com redes 2G. A maior operadora inglesa, a EE (Everything Everywhere), deve liberar a sua faixa de 1,8 GHz em breve para o LTE. Será o refarming de maiores proporções já realizado e só foi possível porque surgiram handsets que suportam essa frequência. Outros mercados devem acompanhar, inclusive o Brasil.
No Brasil, o refarming da faixa de 1,8 GHz, que deve ser autorizado pelo governo, vai beneficiar a Oi, que tem cobertura quase nacional na faixas sem um legado de usuários expressivo. Mas será mais complicado, por exemplo, para a Vivo, que tem uma grande base 2G ainda ativa.
VoLTE
Com a pressão para o remanejamento do espectro de 1,8 GHz, as operadoras precisam operar voz em cima da rede LTE, o que ainda não é simples. Apesar dos avanços e das incontáveis implementações de VoLTE (voz sobre LTE) que já podem ser vistas no mercado e que inundaram os pavilhões dos fornecedores no MWC, ainda há problemas. Segundo Horn, da Tele2, os handsets ainda não vêm com o padrão de VoLTE, o handover (passagem de uma célula para outra) e o fallback (quando o celular muda de frequência) entre redes 2G, 3G e 4G ainda é problemático com uma chamada de voz ativa. "Quando você usa VoLTE, não quer mais voltar para os velhos sistemas de voz. A qualidade é excepcional e o tempo de completamento de uma chamada é quase instantâneo. Mas ainda há problemas de interoperabilidade entre as redes", diz Joachin Horn.
Outro problema que a experiência da Tele2 mostra é que o roaming em LTE ainda é algo complexo, já que as frequências estão fragmentadas e as operadoras ainda têm políticas de roaming de dados pouco favoráveis aos seus usuários.
O executivo também aponta a necessidade de adaptações nas redes. "Com o LTE, é preciso que a ponta das redes tenham mais inteligência e sejam capazes de tomar decisões sem que isso precise ser decidido e processado no core das redes", diz ele.
CDN
Já a operadora coreana SK Telecom diz que a solução tecnológica que mais ajudou na implementação da rede 4G foi a distribuição de conteúdos pela rede, por meio de CDNs (Content Distribution Network). Tivemos que desenvolver uma forma de colocar as CDNs espalhadas pela nossa rede para que o conteúdo demandado pelo usuário de 4G não fosse jogado para o core", disse Jae Byun, CTO da SK Telecom. Ele disse que o fenômeno dos tablets populares e a reduçÃo do custo dos smartphones está ampliando ainda mais a demanda por dados nas redes 4G e que é preciso refazer o planejamento já antes que seja tarde. "O tsunami de dados do LTE ainda está chegando", disse ele.