Conselho Empresarial Brasil-China: 5G vai redimensionar relação entre países

A decisão do governo federal sobre a participação de empresas da China no 5G do Brasil deve ser um marco nas relações econômicas entre os dois países. Essa é uma das conclusões de um estudo do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), que propõe uma nova estratégia brasileira para o parceiro asiático.

Apresentado nesta última quinta-feira, 26, em evento com a participação do vice-presidente Hamilton Mourão, o documento reconhece que, mesmo com o aprofundamento das relações comerciais entre Brasil e China, o momento atual é de "ambições de diálogo político redimensionadas" e de "aumento de incertezas em relação ao futuro".

"Esse é o caso das expectativas relativamente ao leilão do 5G, previsto para o primeiro semestre de 2021, cuja decisão constituirá um marco importante para o posicionamento brasileiro em relação ao binômio economia-segurança e à própria rivalidade estratégica China-EUA", afirmou o CEBC, que congrega tanto empresas brasileiras quanto chinesas.

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Cenário

O pano de fundo para o alerta é o impacto no Brasil da guerra comercial travada entre EUA e China, e que tem no mercado de telecomunicações uma de suas principais frentes. Nas últimas semanas, o governo brasileiro tem flertado com a adesão à iniciativa Clean Networks promovida pelos EUA e que defende o banimento de chinesas como a Huawei da infraestrutura 5G. O movimento gerou reações por parte da Embaixada chinesa no país.

Já nesta sexta-feira, 27, a Conexis (que representa as principais operadoras brasileiras) se posicionou contra uma eventual proibição de fornecedores no 5G brasileiro, sob risco de custos mais altos e preços maiores para o consumidor.

Reflexos

Segundo o CEBC, mesmo relações comerciais com outros grupos de origem chinesa podem ser "dificultadas caso se venham a estabelecer restrições à participação chinesa na área de infraestrutura de telecomunicações". Entre eles, Alibaba, Tencent, Didi e DJI.

"Por outro lado, essa pode ser uma oportunidade para o Brasil, se o país conseguir estabelecer plano e padrões de cooperação que sejam positivos para os dois lados e que se enquadrem nos objetivos de segurança nacional. Para a China, o mais importante é evitar atitudes discriminatórias. O parceiro conseguiria certamente conviver com regras horizontais e aplicáveis a todos", pediu o conselho Brasil-China.

De forma geral, o CEBC avalia que os resultados do comércio Brasil-China nos últimos anos "expressam uma agenda exitosa de complementaridade com poucos paralelos no mundo". Por outro lado, o grupo avalia que o Brasil não tem sido capaz de explorar todo o potencial da colaboração com o parceiro comercial. Entre as demais áreas exploradas pelo estudo do CEBC estão o agronegócio, energia e e-commerce.

Potencial

O CEBC admite como muito possível que se conviva com um "decoupling" (dissociação, em tradução livre) de produtos chineses em setores relacionados à segurança nacional ou tecnologias duais – motivado por iniciativas como a própria Clean Networks.

Mais prejudicial ainda seriam as restrições na área de microprocessadores, que impedem a importação do produto para o país e representam um forte baque sobre a cadeia de suprimentos. Para o CEBC, se as sanções perdurarem por muito tempo, elas representariam um forte golpe no ecossistema de inovação chinês.

"Estima-se que a China leve de cinco a sete anos para desenvolver tecnologias próprias para os microchips de que necessita. O país pode criar outros campeões nacionais, mas a sua expansão e avanço tecnológicos ficarão comprometidos se restritos ao mercado chinês", afirmou o conselho. Neste caso, haveria impacto sobre a adoção do 5G na China: o CEBC pontua que só em 2020, de 500 mil a 600 mil estações de base 5G serão instaladas no país asiático. Vale lembrar que isso afeta também o ecossistema internacional com ganhos de escala para equipamentos, padrões ou mesmo com a maturidade de pesquisa e desenvolvimento.

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