A transformação digital depende de um ecossistema colaborativo, necessidade esta que une setores diferentes em torno de um objetivo comum. Foi o que indicaram líderes de diversos setores da economia durante debate realizado pela Huawei em São Paulo, nesta terça-feira, 27.
Segundo relatos da empresas como Itaú, Petrobras, Hospital Albert Einstein e Sonda, tecnologias digitais da área de enterprise da fornecedora chinesa vêm sendo aplicadas em diversas frentes – desde a personalização de serviços bancários ou até a democratização da conectividade para desenvolvimento social.
A Petrobras, por exemplo, está modernizando sua infraestrutura de armazenamento de dados, gerenciando mais de 160 terabytes e 1 trilhão de arquivos diariamente. A empresa busca gerar valor a partir desses dados, garantindo segurança da informação, eficiência energética e uso de tecnologias de ponta em suas operações globais.
Desde 2018, a companhia adota ciclos mais curtos de aquisição de equipamentos para se manter atualizada. Em junho de 2024, firmou contrato com uma parceira da Huawei para fornecer novos equipamentos de armazenamento e backup, já instalados em seus três data centers principais (dois localizados no Rio de Janeiro e um em São Paulo) e em fase de migração nas unidades remotas até julho de 2027.
"A ideia é que a gente sempre faça essa renovação de forma periódica, buscando atender novas demandas de cliente, novos recursos tecnológicos, segurança de dados e otimização de custos", explicou o gerente geral de Operações e Infraestrutura de TIC da Petrobras, Filipe Martins.
Entre os equipamentos adquiridos estão os storages utilizados nos data centers ou destinados às operações de borda (edge). No segmento de backup, também foram adotados appliances para os data centers e para o Edge. Atualmente, os equipamentos da Huawei representam 28% do parque de storage e 32% do parque de backup da Petrobras.
Os objetivos da Petrobras incluem implementar o modelo de proteção 3-2-1 para dados, garantir criptografia total e imutabilidade contra ransomware, manter detecção preditiva com IA, e reduzir significativamente o consumo energético e o espaço físico da infraestrutura. Essa transformação digital é parte de um plano maior, segundo o gerente, para tornar a Petrobras uma empresa de energia mais limpa, eficiente e sustentável.
Colaboração com setor público
Já a integradora Sonda destacou durante projetos como a Infovia Digital do Mato Grosso do Sul e o Programa Goiás Fibra, nos quais a empresa é parceira de governos estaduais. O VP de vendas da companhia, Rivaldo Ferreira, ressaltou que, no setor público, a conectividade não é apenas uma questão de infraestrutura, mas um fator diretamente ligado ao desenvolvimento humano e econômico.
Segundo o executivo, esses projetos invertem a lógica tradicional do mercado de telecomunicações, que prioriza regiões onde já existe demanda. O setor público, por sua vez, aposta em levar conectividade para gerar desenvolvimento econômico em locais ainda desconectados.
"Existe uma correlação direta entre acesso à Internet e o IDH. Quando levamos conectividade, criamos condições para que as pessoas desenvolvam negócios, tenham acesso a educação e saúde de qualidade", explica Pereira.
Apesar dos impactos positivos, os desafios são significativos. Barreiras como licenciamento ambiental, segurança pública e furto de equipamentos comprometem a expansão da infraestrutura, diz. Além disso, garantir a segurança de dados dos cidadãos exige investimentos em tecnologia de ponta, capacitação e processos robustos.
"Conectar órgãos públicos e disponibilizar Wi-Fi em praças é uma ponta do iceberg. A segurança dos dados, especialmente de câmeras que vão para centros de operações policiais, é uma das nossas maiores preocupações", reforça.
Hospital Albert Einsten
No setor de saúde, a transformação digital brasileira ainda está em estágio embrionário. Para Igohr Schultz, CDTO do Hospital Albert Einstein, o setor está muito aquém de outros, como o financeiro.
"A possibilidade de elevar o nível de digitalização na saúde é infinita. O setor está muito atrasado e há um mercado gigantesco e pouco explorado", afirma Schütz.
A atuação do grupo se dá não somente no setor privado, mas também em hospitais públicos. Enquanto no ambiente privado se nota o uso tecnologias avançadas como sistemas SIEM para proteger dados de pacientes, identificando acessos não autorizados, os hospitais públicos enfrentam grandes desafios.
O executivo detalha que os hospitais públicos frequentemente carecem de elementos básicos de infraestrutura, como Wi-Fi. Isso impede que equipamentos médicos modernos, que dependem de conexão, funcionem adequadamente. "Assumimos um hospital público que não tinha sequer Wi-Fi. Imagine operar um hospital onde não é possível conectar os equipamentos médicos", relata.
Além da precariedade, há o desafio da heterogeneidade tecnológica: equipamentos de última geração convivem com aparelhos antigos, alguns ainda com portas seriais. Isso obriga soluções criativas para proteger uma rede que inclui milhares de dispositivos, muitos deles obsoletos.
Por outro lado, a conectividade abre portas para avanços como a telemedicina, que permite levar especialistas do Einstein até plataformas de petróleo, comunidades amazônicas e outros locais remotos.
"A conectividade permite que um médico do Einstein esteja, virtualmente, em qualquer lugar do País. Mas isso só funciona se tivermos dados de qualidade. Sem dados bem preenchidos, nenhuma inovação tecnológica se sustenta", alerta.
Serviços financeiros
Já o Itaú Unibanco tem desde 2018 migrado seus aplicativos financeiros na nuvem pública, resultando em 65% de migração até o final de 2024 e uma redução de 42% nos custos operacionais, além de aumento de velocidade e estabilidade.
A Huawei tem sido parceira na jornada, contribuindo com soluções que suportam tanto a expansão da infraestrutura de TI quanto os desafios de inovação do banco. A meta do banco é ter 100% da operação na nuvem até 2028.
"A gente precisou mudar totalmente a cultura de como operávamos. Tendo cada vez mais a centralidade no cliente, passamos também para um time cada vez mais multidisciplinar", afirmou o ICT Architeture Director do Itaú, Anderson Mota.
O aplicativo do banco, que conta com 9 milhões de acessos diários, é hoje o principal canal de relacionamento, oferecendo uma experiência hiperpersonalizada impulsionada por uma equipe de 470 cientistas de dados que desenvolvem soluções de inteligência artificial (IA) para recomendações e ofertas customizadas.
Para o Itaú, a IA não é apenas uma tendência: ela já redefine a relação dos bancos com seus clientes. Segundo Mota, o uso de inteligência artificial permite oferecer recomendações financeiras personalizadas que, até pouco tempo, eram restritas a clientes premium.
"A IA vai proporcionar cada vez mais uma experiência personalizada. Informações de investimento que antes estavam nas mãos de consultores, hoje estão democratizadas dentro do aplicativo", defende Mota.
Além disso, chatbots evoluíram de simples respostas automáticas para interações contextualizadas, oferecendo um atendimento mais inteligente e eficiente. Já no back-office, a IA melhora processos como análise de crédito e detecção de fraudes, entregando respostas em tempo real.
Entretanto, a adoção da IA também traz desafios. Em um setor altamente regulado, o Itaú reestruturou sua governança para incluir diretrizes específicas sobre IA, trabalhando para mitigar vieses algorítmicos e garantir a transparência dos modelos.
"É inegociável trabalhar com ética. Nossos modelos são auditados constantemente para garantir que sejam justos e não reproduzam preconceitos", complementa o executivo. O futuro, segundo Mota, é um modelo híbrido, no qual a IA complementa e não substitui a inteligência humana, especialmente em decisões complexas.