O movimento de questionamentos das condições da compra do iG deve começar a surgir nas próximas semanas, como reflexo dos termos de aquisição do provedor anunciados pela BrT no dia 24.
A principal dúvida que já começa a correr entre os acionistas minoritários da BrT, especialmente fundos de pensão, e analistas de mercado, é sobre eventuais conflitos de interesse em função das participações societárias no iG detidas pelo próprio Opportunity, controlador da BrT. Segundo o fato relevante anunciando a compra, foi firmado um acordo para a aquisição de todas as ações do provedor de acesso gratuito, e estas condições permanecerão válidas até agosto de 2005 para que os sócios não contemplados nesta operação agora exerçam o direito de venda. O item 4 do fato relevante é claro: "A BrT Bermuda logrou adquirir o controle após negociações com os diversos acionistas do iG, inclusive para a renúncia de direitos previstos em acordos de acionistas, tendo estendido, até agosto de 2005, a oferta com o objetivo de adquirir até 100% das ações do capital do iG que ainda não detém, pelo mesmo preço unitário e nos mesmos termos deste Fato Relevante. A aquisição de participação adicional alinha-se com o já anunciado interesse estratégico da BrT e suas subsidiárias no iG, permitindo potencializar ainda mais as sinergias referidas acima". Conforme o fato relevante, por enquanto a BrT já se dispôs a pagar US$ 104,9 milhões aos acionistas do iG, que permitirão à tele controlar 73% do provedor (incluindo os 10% que ela já controla). O fato de as condições para a aquisição do restante das ações estarem colocadas poderia caracterizar que o Opportunity já negociou com a Brasil Telecom (da qual ele é controlador) as condições de venda de suas próprias ações no iG.
Ações diferentes
Além disso, há alguns pontos pouco claros no fato relevante. Por exemplo, a Brasil Telecom diz ter pago US$ 104,9 milhões para adquirir ações que, somadas aos 10% do iG que já tem, a farão controlar 73% do provedor gratuito. Ou seja, ela pagou esse valor por 63% das ações. Acontece que ela afirma ter avaliado o iG com um valor total de US$ 144,9 milhões, de forma que o valor a ser pago pelos 63% deveria ter sido US$ 91,28 milhões. A explicação para isso, segundo fontes de mercado, é o fato de as ações adquiridas serem de classes diferentes, com mais direitos e, portanto, terem recebido um prêmio adicional (como um prêmio de controle). Outra aparente inconsistência é o fato de a Telemar ter recebido US$ 18,913 milhões pelos seus 17,6% do iG. Deveria ter recebido US$ 25,5 milhões, se o iG vale realmente US$ 144,9 milhões. De novo, a explicação possível é a categoria das ações. O problema é que o fato relevante não discrimina que tipo de ações cada acionista do iG detinha e quanto foi pago a cada um. A área de relações com o investidor da Brasil Telecom não estava disponível para responder às dúvidas levantadas por esse noticiário até o fechamento da edição, mas se comprometeu a fazê-lo assim que possível.
Fundos de pensão e a Telecom Italia entraram, em maio, com representações junto à CVM questionando os critérios de compra do iG, mas até hoje não houve manifestação do órgão. Tudo indica que esse movimento vá se repetir agora.
Também não é de hoje que as operações com o iG são controvertidas. Em 1999 a Telemar pagou cerca de US$ 50 milhões pelos ativos do provedor, mas ficou apenas com essas ações que foram agora repassadas à BrT por US$ 18,9 milhões e com os computadores e o cadastro de usuários do serviço gratuito. Naquela ocasião, a polêmica se deveu ao fato de o iG ter como controladores os mesmos controladores da Telemar, que aliás, permaneceram sócios e agora venderam suas participações para a Brasil Telecom.
Vários negócios
A Brasil Telecom vem, desde o final de 2002, se mostrando agressiva na compra de novos ativos. Primeiro, foi a licença de celular adquirida em dezembro de 2002. Depois, em fevereiro de 2003, adquiriu a MetroRed, por US$ 68 milhões. Em junho de 2003 adquiriu a GlobeNet por US$ 48,8 milhões. No mesmo mês, celebrou acordo para comprar o provedor de acesso iBest, por US$ 36 milhões. Em maio de 2004 foi a vez da compra do iG (concluída agora) por US$ 104,9 milhões e da Vant, por US$ 15 milhões. Ao todo, desconsiderando os investimentos na rede e na licença para a BrT GSM, a Brasil Telecom já investiu US$ 266,5 milhões em novos ativos.