CEO da Ericsson quer substituir diesel por energia solar em ERBs rurais

O setor de telecomunicações também tem a sua contribuição a dar para o meio ambiente, seja provendo conectividade para automóveis inteligentes que evitam engarrafamentos, seja trocando seus geradores a diesel por painéis solares. Em visita ao Rio de Janeiro na semana passada em ocasião da Rio+20, o CEO mundial da Ericsson, Hans Vestberg, concedeu uma entrevista exclusiva para o noticiário Mobile Time sobre o tema e disse que uma das metas da empresa é diminuir em 10% por ano o gasto de energia de seus equipamentos ao longo dos próximos três anos. O executivo também comentou sobre o leilão de 4G do Brasil, a poluição visual das torres celulares, a produção de ERBs em miniatura disfarçadas de bolas de futebol e uma nova tecnologia de transmissão de dados pelo corpo humano.

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Mobile Time – O senhor está no Rio de Janeiro esta semana por causa da Rio+20. Como o setor de telecomunicações pode contribuir para o meio ambiente, na sua opinião?

Hans Vestberg – Há tantas maneiras… O mundo está chegando à segunda fase dessa tecnologia, na qual dentro de cinco anos teremos quase 9 bilhões de assinantes móveis e, o que é mais importante, 5 bilhões de usuários de banda larga móvel. É importante usar o poder da tecnologia e da mídia social para compartilhar ideias e soluções para os grandes desafios do nosso planeta. Há um ganho para a educação, que passa a ser acessível independentemente de onde você está ou para onde você vai. Com banda larga móvel, chegará um dia que se poderá obter qualquer informação de qualquer lugar do mundo. É uma ferramenta de inclusão. Em saúde, tendo 90% da população coberta por redes celulares, será possível cuidar remotamente do atendimento mais básico, como o acompanhamento à distância de dados como a pressão sanguínea de pacientes etc. Quanto à emissão de CO2 propriamente dita, que é uma das grandes questões ambientais hoje em dia, a indústria de TI e telecomunicações pode contribuir com a redução de 15% das emissões, a partir de iniciativas variadas, desde carros conectados que conseguem evitar congestionamentos alertando os motoristas para esperar um pouco mais ou pegar outro caminho, até smartgrids (redes elétricas inteligentes) que indicam quando é a melhor hora para ligar a máquina de lavar de acordo com a produção de energia do sistema. Isso já é possível hoje, porque temos conectividade móvel. Falta apenas criar aplicações para aproveitar essa conectividade. E isso vai guiar esse planeta para a resolução de vários dos seus problemas. Nós acreditamos que a tecnologia móvel pode desempenhar um papel fundamental na busca pelo desenvolvimento sustentável. É por isso que estamos aqui. Mas ainda estamos no começo. Nos próximos dez anos haverá mudanças radicais nesse sentido.

O uso de energia renovável em torres celulares ainda está restrito a locais isolados, onde a rede de distribuição de energia não chega. Quando haverá o uso de energia renovável em torres nas grandes metrópoles?

Antes de mais nada, a nossa indústria está comprometida a continuar usando energia renovável e representamos entre 1% e 2% das emissões de CO2 no mundo. A Ericsson nos últimos três anos reduziu em 50% o consumo de energia em nossas estações rádio-base (ERBs). E temos metas para os próximos três anos…

Que metas são essas?

Nossa meta é continuar a reduzir em 10% ao ano o consumo de energia dos nossos equipamentos, o que é um grande desafio, tendo em vista o crescimento da base de usuários de telefonia celular no mundo. Quanto ao uso de energia renovável, é verdade que hoje ela é usada em casos críticos, onde não há abastecimento regular de eletricidade. Estamos analisando outras possibilidades de uso de energia renovável, junto com as operadoras, especialmente envolvendo energia solar.  A única certeza que tenho é de que a tecnologia vai evoluir e teremos mais opções de energia renovável para atender às ERBs do futuro. Isso será muito útil em áreas rurais, principalmente em países africanos, como a Nigéria, onde 90% das ERBs não estão conectadas à rede elétrica e por isso precisam usar geradores a diesel. E sabemos que diesel não é o melhor combustível, além de ser difícil de transportar. Mas temos que encontrar maneiras de resolver isso.

No Brasil há muitas leis municipais restringindo a instalação de torres celulares, em razão de preocupações dos cidadãos quanto a poluição visual e ao medo de eventuais problemas de saúde provocados pela proximidade com as antenas. Qual a sua opinião sobre essas duas preocupações da sociedade?

Na telefonia celular, 40% da infraestrutura do mundo é Ericsson e 50% do tráfego de telefones móveis no mundo passa por redes fornecidas por nós. Diante disso, investimos muito em pesquisa para avaliar se existe algum impacto na saúde do consumidor final. Os níveis (de potência de sinal) foram baixados drasticamente de forma a ficar bem distante de qualquer risco à população. Até agora não  há nenhuma indicação de que exista qualquer risco para a saúde. Mas vamos continuar a acompanhar muito de perto, como uma empresa responsável que somos, para assegurar que não haja qualquer perigo.

E quanto à poluição visual?

O próximo passo para as redes urbanas é não construir novas macrocélulas. A expansão estará em micro e picocélulas, com design especial que as camuflem. Já desenvolvemos picocélulas que parecem bolas de futebol, para serem postas em estádios. Podemos até pintá-las com as cores do Flamengo, se você quiser.

Preferiria que fosse com as cores do meu Fluminense…

Tudo bem… (risos). Enfim, o próximo passo é passar de macro para microcélulas. Vale lembrar que 60% do tráfego móvel nos próximos anos estará concentrado nas grandes cidades do mundo.

Tivemos recentemente o leilão de 4G no Brasil. Até então, o País estava acostumado a aderir com relativo atraso às novas tecnologias de telefonia celular. Foi assim no GSM e no 3G, que tardaram muitos anos para chegar aqui. No 4G, porém, será diferente: teremos essa tecnologia antes mesmo de países desenvolvidos como o Reino Unido. Quais as vantagens e desvantagens de ter o 4G tão cedo em um país emergente como o Brasil?

Há hoje três países que estão implementando o 4G massivamente: Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul. São esses mercados que estão conduzindo o ecossistema de 4G atual.

Mas em frequências de espectro diferentes da nossa…

A frequência não é um problema, eu diria. O mais importante é que haverá handsets, tablets e minimodems para o 4G. Essa desvantagem existiu no 3G enquanto não havia um ecossistema montado para esse padrão. Agora, com 4G, já existe um ecossistema montado. Acho que é positivo. E com o ganho de escala os preços cairão e se tornarão mais acessíveis. Hoje se compra um aparelho GSM por US$ 20. Há dez anos não custava menos de US$ 200. É tudo uma questão de escala. Um smartphone hoje já custa perto de US$ 100. Em cinco anos talvez vá custar US$ 20. Claro que 4G começará caro. É verdade que hoje há poucos países trabalhando em 2,6 GHz (frequência adotada no Brasil), mas quando a rede no Brasil se tornar comercial, haverá muitos outros países usando essa frequência também.

Em uma recente apresentação internacional, o senhor demonstrou uma tecnologia de transmissão de dados através do corpo humano. Quando isso se tornará disponível comercialmente e que tipo de utilização poderemos ter?

Fizemos isso apenas para ter algo legal para mostrar em Las Vegas, na CES deste ano (risos). Estamos tendo um monte de ideias do que fazer com isso, desde trocar cartões de visita apertando as mãos até trancar ou destrancar uma porta. Ainda não há uma utilização comercial e não sei ainda quanto tempo falta para isso acontecer.

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