Embaixada dos Países Baixos mapeia desenvolvimento de IA no Brasil

IA, AI, inteligência artificial
Foto: Divulgação/Samsung

A Netherlands Innovation Network, parte do Ministério de Assuntos Econômicos da Holanda, em parceria com o Centro de Estudos e Gestão Estratégica (CGEE), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), realizou um mapeamento do cenário da política, pesquisa, desenvolvimento e inovação focados em Inteligência Artificial (IA) no Brasil.

Segundo o estudo, o País estaria fazendo progressos significativos em inteligência artificial por meio de estratégias nacionais, marcos regulatórios e expansão de iniciativas estaduais. O documento cita como exemplo a Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial (EBIA) e o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA).

As ações, diz o documento, devem seguir como fios condutores de orientação e desenvolvimento de IA no Brasil – que por sue vez, tem sua governança discutida no projeto de lei 2.338/2023, que já foi aprovado no Senado e agora está sob análise na Câmara dos Deputados.

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"À medida que a IA se torna central para a transformação digital, o Brasil está se posicionando para avançar capacidades tecnológicas, crescimento econômico e desenvolvimento social, ao mesmo tempo em que salvaguarda direitos fundamentais. Essas políticas e marcos regulatórios estão sendo traduzidos em investimentos públicos e privados concretos em IA em todo o País", diz o estudo da Embaixada dos Países Baixos.

Experiências estaduais

O estudo também mapeia experiências de estados brasileiros que criaram estruturas focadas em desenvolvimento de IA. O Piauí, por exemplo, se tornou o primeiro estado com uma Secretaria de IA dedicada, estabelecendo a Secretaria de Inteligência Artificial e Economia Digital (SIA).

São Paulo, por sua vez, lançou um projeto piloto usando IA para atualizar materiais didáticos por meio da Secretaria Estadual de Educação (Seduc-SP), enquanto Minas Gerais desenvolveu o projeto estratégico Automatiza.MG, que usa IA para automatizar processos de servidores públicos, exemplifica o relatório.

Para a Embaixada dos Países Baixos, tais iniciativas em nível estadual reforçam o potencial da IA como uma ferramenta estratégica para o desenvolvimento regional.

"À medida que as políticas nacionais amadurecem, espera-se que os estados desenvolvam estratégias de IA personalizadas para abordar as diferenças tecnológicas e econômicas regionais, aumentando o reconhecimento estadual da IA como uma ferramenta estratégica e alinhando-se com as iniciativas federais ao mesmo tempo em que abordam as necessidades locais", acredita o órgão.

Investimentos em IA no Brasil

Em termos de investimento, o estudo mostra que principal instrumento financeiro público para apoiar projetos de IA no Brasil é o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), operado por agências como FINEP e CNPq. Chamadas públicas e programas de financiamento têm sido usados para selecionar e apoiar iniciativas de empresas, startups e centros de pesquisa que operam na área.

Também é destacado que o Brasil assumiu um compromisso de investimento no desenvolvimento de inteligência artificial desde 2021, com previsão de aproximadamente R$ 24 bilhões alocados entre 2021 e 2028. "Essa abordagem financeira abrangente equilibra o desenvolvimento de infraestrutura de longo prazo com iniciativas de inovação responsivas ao mercado", diz o estudo.

Em relação ao investimento privado em inteligência artificial, o estudo aponta que em 2022, o investimento global ultrapassou US$ 90 bilhões, com os Estados Unidos liderando com US$ 47,5 bilhões, seguido pela China, que investiu US$ 13,4 bilhões.

A Embaixada dos Países Baixos explica que embora não haja uma estimativa consolidada do total de investimentos privados em IA no Brasil, vários indicadores sugerem um crescimento significativo neste setor nos últimos anos. É citado um dado da consultoria de tecnologia IDC, em 2022, que diz que as empresas brasileiras investiram US$ 504 milhões – aproximadamente R$ 2,61 bilhões – em inteligência artificial.

Embora seja apenas uma fração (0,6%) dos investimentos privados globais, o número representaria um aumento de 28% dos investimentos privados em IA no Brasil quando comparado ao ano anterior.

O setor de data center também atraiu investimentos substanciais, impulsionados pela crescente demanda por soluções de IA. Até 2030, o Brasil receberá aproximadamente US$ 6,5 bilhões em investimentos nessa área, consolidando sua posição como um centro estratégico para data centers na América Latina, aponta o estudo.

"Esses padrões de investimento privado revelam o papel emergente do Brasil no ecossistema global de IA, caracterizado por três desenvolvimentos principais. Primeiro, a rápida taxa de crescimento do investimento privado doméstico sugere um reconhecimento crescente da importância estratégica da IA entre as empresas brasileiras, apesar dos números absolutos relativamente modestos em comparação com os líderes globais", aponta o estudo.

"Segundo, os principais compromissos multinacionais estão acelerando o desenvolvimento de infraestrutura essencial para aplicações avançadas de IA. Terceiro, a valorização da tecnologia e os ativos de IA na Bolsa de Valores brasileira representam um amadurecimento significativo do ecossistema financeiro que dá suporte aos empreendimentos de IA", completa o documento.

Pesquisa em IA no Brasil

Um dado interessante do estudo é o mapeamento de Centros de Pesquisa Aplicada (CPA) focados em IA. É apontado que estes centros nasceram como resultado da EBIA.

No total, o Brasil possui CPAs em Inteligência Artificial, que estudam e desenvolvem tecnologia nas áreas de Agricultura, Saúde, Indústria e Cidades Inteligentes. O investimento total foi de R$ 160 milhões em centros de pesquisa, distribuídos ao longo de dez anos.

"Os CPAs representam um componente significativo da estratégia de IA do Brasil, conectando a pesquisa acadêmica às necessidades da indústria e às prioridades de políticas públicas. Esses centros apresentam compromisso de financiamento de dez anos da Fapesp, MCTI e CGI.br, fornecendo estabilidade de pesquisa por meio de parcerias entre academia, indústria e governo", diz o documento.

Os CPAs se concentram tanto em pesquisa quanto em aplicações práticas, ao mesmo tempo em que desenvolvem soluções de IA adaptadas às prioridades estratégicas brasileiras e treinam pesquisadores e profissionais de IA especializados.

Para a agricultura, estão sendo desenvolvidas soluções de IA para agricultura de precisão, monitoramento de safras e produtividade agrícola. Na área da saúde, tecnologia focada em diagnósticos, planejamento de tratamento e gestão de saúde. Para a indústria, os estudos de IA focam em manufatura inteligente, manutenção preditiva e automação industrial.

Para as cidades inteligentes, o foco é o uso de IA na mobilidade urbana, gestão de serviços públicos, entre outras aplicações. Também é visto o desenvolvimento de IA em áreas multidisciplinares, como segurança cibernética, energia renovável e educação. Mas o estudo não foca, por exemplo, nas experiências de IA na área da segurança pública, que têm sido alvo de questionamentos por diversas organizações de direitos humanos.

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