Com o aumento da base nos últimos anos e a elevada concorrência do lado das empresas, o mercado brasileiro de banda larga passou por uma desaceleração no ano passado, segundo relatório do BTG Pactual divulgado nesta quarta-feira, 26.
Carlos Sequeira, Osni Carfi e Tcha Chan, os analistas do banco responsáveis pelo relatório, frisam que o segmento ainda avançou, com uma expansão de 7% em 2024 na comparação com o ano anterior. Esse patamar de crescimento, contudo, fica um abaixo do registrado em 2023 (+8,9%).
"O aumento da penetração está claramente impulsionando a desaceleração do crescimento do mercado. Nesse sentido, alguns argumentariam, incluindo nós mesmos, que a penetração poderia, e talvez devesse, ultrapassar 72%. Sempre pensamos que a penetração de banda larga no Brasil poderia eventualmente chegar a 85%, apontando para 9 milhões de conexões adicionais", afirmam.
No entanto, o BTG ressalta que algumas empresas entendem que, na verdade, essa taxa de penetração pode ser muito mais alta que 72%, já que é grande o nível de informalidade no mercado, sobretudo entre os provedores, que podem estar minimizando suas bases de clientes para pagar menos impostos ou evitar fiscalizações regulatórias.
Os analistas lembram que 86,9% dos domicílios brasileiros reportavam conexões de banda larga fixa em 2023 (dados do IBGE) – e que a penetração deve se estabilizar em torno desse nível. "De fato, observando os dados da Anatel e do IBGE, o espaço para aumentar a penetração parece agora mais limitado."
FTTH deve avançar
Mas os analistas do BTG Pactual acreditam que a FTTH (Fibra até a Casa) continuará ganhando participação de outras tecnologias no País.
Hoje, essa tecnologia já representa 72% de todas as conexões no Brasil, um patamar bem superior que o visto há dez anos (4%). Por outro lado, as conexões de cobre, que somavam 55% do segmento, agora detêm apenas 1% do mercado.
A tecnologia "Híbrido Fibra-Coaxial (HFC ou simplesmente cabo) ainda representa 16% de todas as conexões de banda larga no País (contra um terço há 10 anos). No entanto, o HFC também tem perdido consistentemente participação, reduzindo em média 2 pontos percentuais por ano nos últimos anos. A principal operadora da tecnologia, a Claro, está há pelo menos dois anos em um processo intensivo de substituição de sua rede para fibra pura.
"Acreditamos que essa tendência continuará e pode até se acelerar à medida que as conexões HFC forem convertidas para FTTH", explica a instituição financeira. Atualmente, 8,3 milhões de usuários ainda estão conectados via HFC.
Em contrapartida, outras tecnologias, como a banda larga via satélite, mantiveram a participação de mercado "relativamente estável".
O papel da Claro
Com a maior base de banda larga do País, com 20% de market share e 10,3 milhões de clientes, a Claro que concentra os 8,3 milhões de acessos conectados via HFC. A operadora responde por 99,6% dos acessos conectados via essa tecnologia no Brasil.
Neste cenário, o BTG observa que é natural que os operadores de FTTH tenham como alvo os consumidores de HFC da empresa. "Temíamos que as desconexões HFC fossem mais pronunciadas, e a Claro conseguiu mantê-las relativamente contidas", reconhece a casa de análise.
"Em resposta, a Claro tem consistentemente acelerado o desenvolvimento de fibra – atualmente possui 13 milhões de HPs (Casas Passadas) com FTTH. De 2021 a 2024, a Claro aumentou de forma constante as adições líquidas de FTTH: 164 mil em 2021, 262 mil em 2022, 414 mil em 2023 e 562 mil em 2024. No final de 2024, a empresa tinha 1,9 milhão de clientes FTTH", também ponderam os analistas.
"Inicialmente, a oferta de fibra da empresa focou em áreas greenfield, mas depois começou a sobrepor sua rede HFC para tentar proteger sua base. Esperamos que a Claro intensifique a sobreposição de fibra em 2025 e continue pressionando seus clientes a migrarem para FTTH", finaliza o relatório do BTG Pactual.