A Embaixada da China diz que está empenhada em melhorar a relação para futuras parcerias na área com o Brasil e aponta o leilão de 5G como um avanço. Em entrevista exclusiva ao TELETIME, o ministro conselheiro da embaixada, Qu Yuhui, destacou que o edital de 5G não colocou condições específicas contra uma empresa ou determinado país na operação da quinta geração, e que isso é uma boa notícia para a expansão da parceria.
"Isso é muito bom e propício para que o Brasil e a China possam aprofundar não só a cooperação de telecom, mas um novo horizonte entre os países, com áreas pioneiras como a economia digital, desenvolvendo parcerias para construir a nova infraestrutura", declara Yuhui. Ele ressalta que isso poderá ter significado maior ainda para a recuperação econômica dos países emergentes diante da crise global com a pandemia.
O representante do governo chinês enumera a utilização da tecnologia em outras verticais, como a aplicação de Internet das Coisas em agricultura inteligente, indústria 4.0 e mineração, além de novas infraestruturas de fibra e computação em nuvem. Embora os dois países tenham uma tradicional pauta de cooperação voltada ao comércio, agropecuária e infraestrutura, há uma intenção de estender o alcance. "Tem havido muitas críticas e reclamações porque a cooperação China-Brasil tem sido muito commodities e primários. Como podemos mudar? O mercado vai ditar isso, mas a chave para modificar a situação é utilizar as mais novas tecnologias, mais inovação", afirma. "Uma das peças chave é a tecnologia 5G."
A parceria sino-brasileira para explorar as novas áreas já conta com uma comissão de alto nível de cooperação bilateral (Cospan), que tem três subcomissões – informática e indústria; ciência, tecnologia e inovação; e finanças e agricultura. "Nossa tarefa é sempre promover a cooperação entre China e Brasil e salvaguardar os interesses dos dois lados e promover o desenvolvimento conjunto. Esperamos que o 5G seja uma grande oportunidade de cooperação em outras coisas também."
Rede privativa
Em relação à rede privativa do governo, o ministro conselheiro lembra que a tecnologia a ser utilizada ainda é o 4G, no qual a Huawei já é tradicionalmente fornecedora de rede no Brasil. Ele coloca que a intenção da China é que empresas chinesas possam participar, assim como as de outros países, em projetos desta natureza. "Claro, cabe ao governo brasileiro elaborar a política da rede privativa, é um assunto soberano do Brasil, e que creio que o País saberá o melhor interesse", coloca.
Há uma diferença interpretativa nas condições da Portaria nº 1.924/2020 que remetem à Instrução Normativa nº 4 do Gabinete de Segurança Institucional: enquanto o Ministério das Comunicações coloca como condições de de participação (na rede privativa) ter regras de governança iguais às da bolsa brasileira, a Huawei diz que já atende a normas de governança e transparência. Yuhui entende que caberá aos envolvidos "entender melhor e analisar a linguagem", mas manifesta desejo que qualquer empresa chinesa possa participar da concorrência em termos de igualdade. O ministro das Comunicações Fábio Faria declarou em audiência pública na Câmara que seu entendimento é o de que a Huawei não se enquadraria nas regras de governança exigidas para a rede privativa. Por outro lado, também disse que nenhum fornecedor desperta preocupações sobre segurança, conforme observação feita por comitiva brasileira à sede de vários fabricantes de 5G no mundo.
"Acho que 90% dos brasileiros não sabem que a Huawei já está há mais de 20 anos no País, e já atende a 80% da população brasileira. As principais operadoras já utilizam equipamentos Huawei", destaca. "Aos poucos, vamos investir mais nessa área, não só nas questões materiais e na cooperação econômico-comercial, mas também abstratas com conhecimento e divulgação científica."
Covid
No último dia 10, o presidente da Câmara, Arthur Lira, enviou uma carta para a embaixada chinesa fazendo um apelo pelo alinhamento entre os dois países, principalmente no combate à covid-19, alegando que os interesses dos países não podem ser afetados por ideologia. Ao comentar as diferenças culturais e políticas do governo da China com a proposta de governo ideológico do presidente Jair Bolsonaro, o ministro ressalta que não faz propaganda do sistema político chinês, mas reitera que o caminho de desenvolvimento do país tem sido "bastante exitoso ao longo dos últimos anos".
"Não queremos ser professores para os brasileiros, queremos respeito mútuo e ver o que se pode aprender com o outro lado. Se pudermos trabalhar nesse espírito, poderemos superar com tranquilidade as diferenças ideológicas e culturais. É um apelo que fazemos, para toda a sociedade brasileira e internacional, para que possamos nos concentrar no que interessa: combater a pandemia e a crise global."
Na visão do ministro da embaixada, há ainda uma aprovação alta do brasileiro em relação à China, mas ele afirma que deve haver uma maior divulgação do país asiático no Brasil "para ter uma visão mais objetiva, justa e parcial sobre a China". Ele destaca como um dos frutos positivos a parceria entre o Instituto Butantan e a Sinovac, além de doação de R$ 60 milhões em materiais para o Brasil e a entrega de quase 56 milhões de doses de vacinas, incluindo doses prontas e insumos.