Globo vê 2021 desafiador mas mantém previsão de investimentos e aposta na Internet

Manuel Belmar, diretor financeiro da Globo

Os resultados do grupo Globo referentes a 2020 trouxeram os impactos da crise que afetou toda a economia e o setor de publicidade, especialmente. O faturamento do grupo foi de R$ 12,5 bilhões, contra R$ 14 bilhões em 2019, representou uma queda de 11%. Mas esse número poderia ter sido pior, se não fosse o crescimento do Globoplay e a consolidação da oferta de conteúdos pela Internet, que têm sido a principal aposta estratégica do grupo nos últimos dois anos. Segundo Manuel Belmar, CFO da Globo, a queda das receitas com publicidade foi de 17% (isso inclui publicidade na TV aberta, canais pagos e Internet). Já a queda do bolo de publicidade na TV aberta, segundo estimativas do CENP, foi de 20%. E a queda de base de TV paga em 2020 foi de 5,6%.

O que compensou a retração de mídia para a Globo foi a manutenção das receitas com conteúdos, o que inclui os canais lineares de TV paga e a plataforma Globoplay de distribuição pela Internet. Segundo Belmar, o crescimento de mais de 100% em receitas do Globoplay em 2020 (acima inclusive do crescimento de 75% da base) compensou a queda no mercado de TV paga.

A Globo não abre os números, mas este noticiário apurou que a base de assinantes pagantes do Globoplay estaria em torno de 8 milhões, o que já pode significar uma receita anual de quase R$ 4 bilhões (considerando um ticket médio de R$ 40). Boa parte desta base teria sido conquistada nos primeiros meses da pandemia, quando houve um pico de consumo de conteúdos por streaming, e a partir do quarto trimestre, sobretudo com o Big Brother, a parceria de distribuição do Disney+ e entrada dos canais lineares nos pacotes do Globoplay. Portanto, os resultados mais efetivos deste crescimento do produto de Internet poderão ser sentidos ao longo de 2021. Outras fontes ouvidas por este noticiário dizem, contudo, que a base do Globoplay ainda não chegou a este patamar entre assinantes pagos, ainda que o volume de usuários na modalidade gratuita seja bastante expressiva. Manuel Belmar não confirma nem comenta estas informações. "O crescimento do Globoplay está em linhas com as projeções, que já eram muito agressivas", resume o executivo.

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Hoje, segundo Manuel Belmar, a proporção de receitas do grupo está em 56% para publicidade, 40% conteúdo e 4% outras receitas. Isso significa que a receita publicitária da Globo está em R$ 7 bilhões (somando TV aberta, TV paga e Internet). Já a receita dos canais lineares e do Globoplay estaria em cerca de R$ 5 bilhões.

"Estamos indo bem não apenas com o VoD, mas com a venda de canais D2C (diretamente ao consumidor, pela Internet) e com as parcerias, que devem ganhar novidades em breve", diz Belmar. 

Foi um ano atípico em todos os sentidos, diz Belmar, "mas acho que podemos considerar o resultado excepcional diante das circunstâncias".

Custos ajustados e investimentos mantidos

Ele explica que houve um forte esforço do grupo de adequar os custos à nova realidade de receitas. "A paralisação temporária da produção e dos eventos ajudou um pouco com os custos, mas houve um ganho de eficiência e passamos a gastar de maneira mais compatível com o que o mercado pode absorver", disse, em referência aos conteúdos esportivos.

Com a retomada das atividades esportivas e de produção, a tendência é que parte destes custos volte a acontecer, mas os ganhos de eficiência devem permanecer, diz Belmar.

A Globo ainda é hoje uma das maiores detentoras de conteúdos esportivos do mundo, diz Belmar, mas abriu mão de alguns eventos relevantes, como Fórmula 1 e Champions League. "Fizemos escolhas mais racionais e seletivas, mas seguimos comprometidos com os parceiros", diz o CFO.

De acordo com Belmar, o segundo e o terceiro trimestre de 2020 foram ruins, mas no último trimestre houve uma boa recuperação com a retomada econômica. Ele ainda não arrisca fazer previsões para 2021, mas ressalta que há muitas incertezas sobre a situação econômica e sanitária e que um cenário similar ao de 2020 é plausível, com queda de receitas e suspensão momentâneas do ritmo de produção. "A gente esperava um Brasil melhor esse ano, mas já é possível que tenhamos recessão neste trimestre".

Para 2021, a referência de investimentos é similar à de 2020, quando foram investidos R$ 4,5 bilhões em conteúdos e tecnologia. "O nosso plano estratégico segue o mesmo e a referência de investimentos é de valores semelhantes para este ano".

A Globo alongou a sua dívida em 2020 e captou mais recursos em condições melhores. Com isso, ganhou um conforto de caixa, que foi de R$ 10,5 bilhões em 2019 para R$ 13,5 bilhões em 2020.

Já a redução no lucro, que passou de R$ 752,5 milhões em 2019 para R$ R$ 167,8 milhões em 2020, se deve à desvalorização cambial e à redução da taxa de juros, "mas em termos de caixa estamos com uma posição confortável", diz o executivo.

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