Nokia muda marca para chegar a novos segmentos de mercado

Pekka Lundmark - Presidente e CEO da Nokia

Entre os grandes e tradicionais fornecedores de equipamentos de telecomunicações, a Nokia talvez seja a empresa mais desafiada no mercado de 5G, com uma missão complexa de recuperar market share e tirar território das outras gigantes. Em reunião com imprensa e analistas na véspera da abertura do Mobile World Congress 2023, que acontece esta semana em Barcelona, Pekka Lundmark, presidente e CEO da fornecedora, reforçou a estratégia que vem sendo enfatizada pela empresa nos últimos anos, mas desta vez com uma nova roupagem: a Nokia lançou uma nova marca, justamente para poder ficar mais conhecida e próxima daquele que é o seu mercado cada vez mais prioritário: o de enterprise, ou seja, redes corporativas e privativas.

Para a Nokia, o crescimento passa por esse mercado. Segundo Lundmark, esse é um segmento que hoje ocupa 8% das receitas da empresa, mas a ideia é dobrar isso. "Nosso crescimento em enterprise foi de 21% e vemos potencial por todas as regiões". Para ele, a nova marca é parte da estratégia de buscar reconhecimento junto a outros setores da economia que tradicionalmente não consumiam diretamente soluções e equipamentos de telecom sem ser por meio dos serviços providos pelos ISPs.

A mudança veio com o 5G, explica Lundmark, mas esse é apenas o começo de uma transformação que tende a se amplificar com o 5G Advanced e com o 6G. "A transformação das indústrias nunca foi tão relevante e percebemos isso na diversidade que é o Mobile World Congress", se referindo à diversidade de aplicações de indústrias, saúde e automação que podem ser vistas no MWC 2023 (a exemplo do que acontecia em anos anteriores)

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O conceito que a Nokia busca trabalhar é o de "redes sensitivas", que tenham capacidade de entender o ambiente, "pensar" e agir por conta própria. E mais que isso, redes que possam ser fornecidas no modelo de "rede como serviço", ou seja, no modelo em que os consumidores das redes não precisem necessariamente ser operadores de telecomunicações. 

Outro aspecto importante que a fornecedora finlandesa quer aproveitar são os "ventos de popa da geopolítica", segundo palavras de Pekka Lundmark. É um tema delicado sobre o qual a Nokia não entra em detalhes, mas evidentemente o que ele se refere é ao fato de que restrições colocadas por governos a fornecedores chineses, sobretudo a Huawei, abrem oportunidades para empresas europeias, como a Nokia, ocuparem alguns territórios.

Essa estratégia, e o novo posicionamento de marca, se encaixam nas seis prioridades da empresa:

  1. Crescer junto a operadoras (CSP) acima da média do mercado. Segundo Pekka Lundmark, há uma oportunidade de fazer isso nos próximos anos por conta do portfólio da Nokia e aproveitando os "ventos geopolíticos".
  2. Crescer o mercado de enterprise. A operadora quer dobrar a participação de 8% do segmento, e mostra que isso já está acontecendo, com um crescimento de 21% em 2022. 
  3. Ampliar o portfólio, com pesquisa e aquisições
  4. Garantir a longevidade com os produtos Nokia em 5G Advanced e 6G e foco em segmentos específicos, como automotivo
  5. Construir novos modelos de negócio no modelo de prestação de rede "as a service"
  6. Desenvolver a agenda ESG como vantagem competitiva

Para chegar lá, a Nokia vê a necessidade de desenvolver talentos, focar em pesquisas de longo prazo, digitalizar as suas próprias operações e fortalecer a marca. Daí o lançamento da nova logo e identidade visual.

Metaverso e evolução do 5G

Para Nishant Batra, CSTO da Nokia, todo o processo de transformação que as empresas passarão está diretamente relacionado com a evolução da tecnologia, não só com o que já acontece hoje com o 5G, mas sobretudo com o que se espera do 5G advanced e do 6G, esperado para 2030. "Vemos um futuro em que as redes não irão apenas ter uma performance excepcional, mas também estarão disponíveis para serem  consumidas de novas maneirass, para que  outras áreas e outros setores econômicos possam consumir essa rede de acordo com suas necessidades".

Ele exemplifica com o problema da geolocalização. Hoje, as tecnologias móveis permitem uma precisão de alguns metros na localização dos diferentes elementos conectados às redes, mesmo sem o uso de GPS. No futuro, as redes permitirão a localização com precisão de poucos centímetros, tridimensionalmente. "Isso abre um novo universo de aplicações", diz Batra.

A Nokia também é uma entusiasta do conceito de metaverso, mas acredita que a parte mais significativa desse novo ambiente será nas aplicações empresariais, com imersão voltada para aplicações corporativas. "O tráfego das redes em 2027 será dominado por aplicações de realidade aumentada", prevê Batra. Mas é um ambiente que se desenvolverá, para a Nokia, em cima de parcerias. "O metaverso não será de apenas uma empresa, mas do sucesso de muitas empresas colaborando ao mesmo tempo. Interfaces abertas são para inovação, não para compras de equipamentos".

Interfaces abertas

O conceito de redes abertas também aparece em destaque na estratégia da Nokia. Ainda que evite o uso da expressão OpenRAN, fica evidente pela estratégia da empresa e dos lançamentos deste ano, como a plataforma AnyRAN e a estratégia de APIs, de que a empresa precisa ter tecnologia que permita aos operadores incorporarem todas as tecnologias legadas e uma multiplicidade de novos fornecedores que terão no futuro.

Para Tommi Uitto, presidnete da Nokia Mobility, os elementos centrais no desenvolvimento das tecnologias da Nokia hoje são: eficiência energética, soluções baseadas em núvem, tecnologias com flexibilidade para múltiplos fornecedores e portabilidade.

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