Começa oficialmente nesta terça-feira, 26 de novembro, em Berlim, a 14a edição do Fórum de Governança da Internet (IGF, na sigla em inglês). Criado em 2006 pelas Nações Unidas para ser um encontro de debates políticos, sociais, econômicos e técnicos sobre a Internet, o IGF atualmente é o principal fórum multissetorial de discussão sobre políticas para o setor, apesar de não ter caráter deliberativo. Ou seja, os representantes de governos, de empresas, pesquisadores e integrantes de organizações da sociedade civil não aprovam documentos ou resoluções – como ocorre em geral nos eventos multilaterais da ONU. TELETIME acompanhará o evento ao longo da semana.
O encontro é, tradicionalmente, um espaço de troca de conhecimentos, articulações políticas e também para negócios. Este ano, uma das principais sessões será justamente sobre como aprimorar o modelo do IGF, tendo por base os resultados apresentados pelo Painel de alto nível da ONU para cooperação digital. (https://www.un.org/en/pdfs/DigitalCooperation-report-for%20web.pdf) Mais de cinco mil participantes são esperados no evento.
Com o tema "Um mundo. Uma Internet. Uma visão", o encontro
está organizado em três grandes tópicos do ponto de vista da agenda: governançade dados; inclusão digital; e segurança, estabilidade e resiliência da rede.Cerca de 60 workshops estão programados para os quatro dias oficiais deatividades em Berlim. A abertura oficial deve contar com a presença daChanceler Angela Merkel e do Secretário-geral das Nações Unidas, AntónioGuterres.Transformações e receios
"Todos estamos vendo como a Internet está se transformando,de uma rede descentralizada e colaborativa para um espaço concentrado, que temtransformado usuários em produtores de dados para aplicações e também paraempresas de infraestrutura. O problema não é só ter poucos entrantes nomercado, mas como garantir a autodeterminação dos indivíduos neste espaço",alertou Luca Belli, professor de Governança e Regulação da Internet na Escolade Direito da Fundação Getúlio Vargas, que veio do Brasil para o evento.
"Isso não é Black Mirror, não é o futuro, é o que jáestamos vivendo no presente", afirmou a indiana AnitaGurumurthy, da IT for Change, uma articulação baseada na Ásia, ao mostrar comofazendas tem funcionado em seu país sem a presença de agricultores, operadasremotamente. O uso da Inteligência Artificial e a Internet das Coisas serãoobjeto de muitos painéis em Berlim.
Num contexto em que a Internet tem permitido ao mundoacompanhar protestos do Chile a Hong Kong ao mesmo tempo em que muitos governostêm usado cada vez mais a tecnologia para monitorar manifestações e atéderrubado a rede para impedir a organização de pessoas nas ruas, a liberdade deexpressão também está na agenda do IGF. "Muitos países colecionam casos decensura na rede. Não só na China e no Irã, mas também na Suíça e na Alemanha",lembrou Mathias Jud, pesquisador em Zurique.
Eurocentrismo
A edição da Alemanha é a terceira seguida na Europa, o quetem levantado críticas, principalmente de países em desenvolvimento, que temmaior dificuldade de participar. Em 2015, o IGF foi sediado no Brasil, em JoãoPessoa. Em 2016, no México. Depois Suíça e França. Além da edição internacionalanual, há iniciativas locais e regionais em torno do IGF. A edição brasileirapreparatória para o encontro global aconteceu no início de outubro, em Manaus.A última latino-americana foi em La Paz, na Bolívia, em agosto passado.