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EUA vs. China: uma disputa entre sistemas?

O Mobile World Congress que foi realizado esta semana em Los Angeles (MWC19 Los Angeles) mostrou claramente uma diferença na forma como a questão da relação com fornecedores chineses é tratada pelos EUA e pela própria GSMA, organizadora do evento. Trata-se de uma associação global, da qual grandes fornecedoras chineses, como a Huawei, participam. E a mensagem da associação na abertura do evento, ainda que muito preocupada com a questão da confiança e da segurança das redes, foi clara em relação aos riscos de fragmentação do ecossistema caso governos estabeleçam barreiras comerciais, ainda que nenhum episódio ou empresa tenha sido diretamente nominado. A Huawei, contudo, esteve praticamente ausente do evento, com apenas um palestrante em uma sessão secundária. Um funcionário da empresa que circulava nas sessões confidenciou: a empresa tinha mais de 1 mil funcionários nos EUA antes das investidas de Donald Trump, mas depois do início da disputa comercial reduziu seu quadro a 400.

É compreensível a ausência dos chineses no evento: o MWC19 tem forte peso da CTIA na seleção de conteúdos e palestrantes. A CTIA é a associação de operadores móveis dos EUA e, obviamente, é muito mais próxima do governo americano. E autoridades governamentais daquele país estiveram em várias das sessões dando seu recado, também claro, sobre “fornecedores confiáveis” e “redes seguras”. A questão geopolítica estava implícita em todo o evento, como já estivera em Barcelona, quando acontece o principal evento do setor, o MWC Barcelona, mas lá sem o “peso governamental” dos EUA.

“Disputa de sistemas”

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Algumas falas, contudo, ilustram de maneira transparente o que de fato está em jogo nas ações norte-americanas em relação aos chineses. Uma das mais emblemáticas talvez seja o discurso do comissário da FCC, Brendan Carr (indicado por Trump para a agência reguladora norte-americana), que falou em uma das sessões sobre segurança do evento de Los Angeles.

Ele destacou o papel que o 5G pode ter na economia do futuro e na importância estratégica para os EUA, mas enfatizou: “Outros países também querem os benefícios, as oportunidades econômicas das plataformas de nova geração. Mas a China é um país que quer mais do que isso. Pequim vê a chance de conquistar e ampliar a dominância econômica para a próxima década”, ponderou o comissário da agência reguladora norte-americana.

O discurso de Carr, de certa forma, escancara o cenário de disputa em que se colocaram os EUA em relação a quem terá esta dominância tecnológica. “Assim como há alguns pessimistas que duvidam que o 5G trará um avanço significativo em relação ao 4G, há aqueles que duvidam que os EUA possam estender sua liderança global no 4G para o 5G. Eu não sou desses, e aponto alguns fatos”, disse o comissário, enumerando alguns aspectos na “disputa” com a China que, em suas palavras, “confirmam que os EUA estão vencendo a corrida para o 5G”. Entre eles, o fato de os EUA terem lançado serviços 5G em 14 cidades em 2018 e terem o serviço em 30 cidades hoje (contra zero da China). Citou também a expectativa de ter, em 2022, uma taxa de adoção do 5G duas vezes mais rápida do que a China, e o compromisso das operadoras de atenderem 99% da população dos EUA com 5G (“não ouvi nada da China nesse sentido”, disse Carr).

O comissário lembrou que algumas pessoas enxergam vantagens da China no seu modelo centralizado de governo e chegam a propor que os EUA façam o mesmo. “Afinal, é uma competição entre dois sistemas de governo diferentes, duas visões de mundo”. Entre as supostas vantagens da China, diz Carr, estariam o fato de o governo, “num estalar de dedos, encomendar milhares de células 5G para serem instaladas do dia para a noite”, ou a possibilidade de liberar espectro “sem discutir com quem ocupa a faixa ou com a interferência com os serviços de satélite que ainda nem existem”.

Carr diz que enquanto a Chinatem estas vantagens aparentes, algumas estratégias adotadas pelos EUA seriam maisacertadas. “Na China, 5G significa frequências intermediárias (mid-band, ou 3,5GHz), e apenas isso, aparentemente. Eles não licenciaram espectro de 5G parabanda altas”, o que seria, na visão do comissário, um grande problema pelaimportância das bandas altas para serviços que demandam velocidades maiselevadas. Também apontou a ausência de planos da China para bandas baixas, quereforçariam a cobertura. Esta política dos EUA, diz Carr, é movida poruma demanda real, não pela burocracia.

Subsídio indireto

Ele ainda destacou que o as operadoras chinesas são todas controladas pelo Estado, com estratégias coordenadas, e que compram equipamentos conforme a vontade do governo pagando mais caro por isso e indiretamente subsidiando os preços e margens (ele não diz de qual fornecedor). “Estas estatais não enfrentam questões de zoneamento ou estética urbana, não perdem tempo com questões ambientais e preservação de patrimônio histórico”. Ele cita ainda subsídios para a implementação de rede, descontos em energia, liberação rápida de permissões de construção de antenas, concessão de terrenos entre outras supostas vantagens dadas a operadoras estatais pelo governo central chinês como forma de vantagens.

“Mas isso não significa que o modelo chinês é um sucesso”, diz Carr. “Não cria valor. Não se mede o sucesso nessa corrida pela quantidade de caixas de metal que você coloca em uma torre”, diz o comissário. “Usar dinheiro do povo para uma rede 5G que não será usada, que não está alinhada com uma demanda real, é uma estratégia podre em sua essência”, disse o conselheiro. “A China não está construindo a melhor rede, nem a mais rápida, e por isso é apenas uma competição entre sistemas, algo que nos é familiar. E por isso sabemos que a China vai perder a corrida”, disse, exaltando que o modelo privado dos EUA é supostamente mais eficiente por estar diretamente vinculado a uma necessidade real do consumidor e como as pessoas efetivamente usam a rede e como as empresas inovam sobre ela. A íntegra do discurso de Carr pode ser lida aqui.

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