Há uma grande expectativa entre as operadoras de telecomunicações com a retomada dos testes de campo que o CPqD conduzirá a partir da semana que vem, até o dia 15 de setembro, para os filtros de LNB que poderão ser utilizados em antenas parabólicas dedicadas à recepção dos sinais de TV (TVRO) caso a Anatel opte, no edital de 5G, pelo caminho da mitigação de possíveis interferências. Depois do testes de laboratório, o CPqD concluiu que há três filtros produzidos com capacidade de filtrar interferências. Apenas um não teve resultados satisfatórios. Mas os testes realizados até aqui ainda não utilizaram equipamentos reais de 5G, o que começa a ser feito a partir da próxima semana no centro técnico de referência (CTR) da Claro no Rio.
A expectativa é porque, por parte das engenharias das operadoras, há a convicção de que o modelo de mitigar as interferências é perfeitamente viável tecnicamente e muito menos custoso do que a outra alternativa possível: a de migrar os sinais de TVRO para a banda Ku. Esse é o caminho pelo qual a Anatel tem se mostrada, até aqui, mais inclinada, pois considerava que os filtros não estavam entregando o desempenho esperado. Além dos testes dos filtros (LNBFs) para a recepção doméstica, o CPqD também fará testes com filtros profissionais, para as transmissões de banda C em aplicações corporativas.
O que as operadoras querem é que a Anatel faça a análise de impactos e compare detalhadamente os dois caminhos possíveis: utilizar filtros nas antenas de banda C ou promover a migração geral dos sinais de TV para a banda Ku. Na avaliação das operadoras, não há hipótese de o modelo da migração para a banda Ku apresentar vantagens ao interesse público, nem econômicas, nem estratégicas. Isso porque, acreditam, além de um custo muito maior e da imensa logística de ter que distribuir milhões de kits de recepção para a população de baixa renda, o modelo de migração para a banda Ku poderia comprometer em até 2 anos o tempo de liberação das faixas de 3,5 GHz para o 5G, poderia beneficiar determinados provedores de satélite em detrimento de outros e, por ter custos mais elevados, geraria muito menos benefícios para a ampliação da banda larga. Mesmo o principal argumento, que é a liberação definitiva da banda C para futuros usos de banda larga móvel, é questionada porque isso implicaria uma indenização muito maior para as atuais operadoras de satélites com vistas a antecipar um processo que, cedo ou tarde, acabará acontecendo naturalmente, pelo menos em parte da faixa.
Entenda o caso
Desde o ano passado, emissoras de TV e operadoras de telecomunicações travam uma batalha para tentar convencera Anatel sobre qual seria o melhor modelo para evitar os problemas de interferência que as transmissões de 5G na faixa de 3,5 GHz poderiam causar aos atuais sistemas de recepção de banda C, especialmente para serviços de TV via satélite. As emissoras querem a migração total dos serviços de TV via satélite para a banda Ku, com os custos de uma política pública para a baixa renda bancados pelas operadoras que vencerem a licitação de 3,5 GHz. As estimativa desse modelo giram entre R$ 2,5 bilhões e R$ 3 bilhões, a depender da quantidade de residências de baixa renda beneficiadas. O modelo das operadoras é pela instalação de filtros contra interferência, a um custo estimado em R$ 500 milhões. No começo do ano emissoras de TV e operadoras chegaram a soltar uma nota comum apoiando a continuidade dos testes, mas a Anatel tem se mostrado insatisfeita com os resultados dos filtros nos testes realizados até aqui.