É raro que, em encontros setoriais de telecomunicações, representantes de trabalhadores e representantes de empresas compartilhem uma mesma mesa. Mas o encontro FeninfraLive, realizado nesta sexta, 25, mudou um pouco essa tradição. O encontro, que teve a TELETIME como organizadora, trouxe a perspectiva da Feninfra, que congrega as empresas instalação e manutenção de rede e call center, e também as preocupações das principais entidades representativas dos trabalhadores em telecomunicações: a Fenattel, a Fitratelp e a Livre, e também a UGT (União Geral dos Trabalhadores).
Além da Feninfra, que promoveu o encontro, outras entidades empresariais também participaram, como Conexis (que congrega as grandes operadoras) e a Abrintel (que congrega as empresas de torres e infraestrutura).
Mesmo com eventuais divergências, há muitos pontos de convergência que unem trabalhadores e empresas. O primeiro ponto, obviamente, está relacionado ao reconhecimento da essencialidade do setor de telecomunicações, dos esforços para que as redes se mantivessem plenamente funcionais durante a pandemia e, por óbvio, a atenção que precisa ser dada ao setor de telecomunicações na questão da vacinação, sobretudo para os trabalhadores que estão na linha de frente de instalação e manutenção das redes e atendimento aos consumidores. Essa prioridade foi defendida pela Feninfra, pelas entidades trabalhistas e até pela Anatel, que encaminhou ofício nesse sentido ao Ministério da Saúde sugerindo que fosse dada prioridade ao setor.
Outro ponto comum é o da capacitação. Os trabalhadores em telecomunicações, conforme reconheceram as entidades, estão desafiados pela chegada de novas tecnologias, sobretudo com o 5G, que têm o potencial de eliminar postos de trabalho baseados em habilidades não mais necessárias. Mas abre-se um novo universo de postos de trabalho que envolvem outros tipos de capacitação, como sistemas de TI e software. Outra oportunidade é o desenvolvimento de um complexo ecossistema de empresas e serviços que se viabilizam com o 5G e que atuarão na integração de diferentes pontos da cadeia de valor. Nesse sentido, um esforço de capacitação que envolva operadoras, empresas de infraestrutura, prestadores de serviços, sindicatos trabalhistas, fornecedores e governos é considerado essencial.
O tema da precarização também foi objeto dos debates no evento. Tanto precarização da mão-de-obra quanto a precarização da própria qualidade das redes de telecomunicações, decorrente da atuação de trabalhadores e empresas pouco capacitadas e uso de equipamentos de procedência duvidosa na implantação de infraestrutura de telecomunicações. Nesse sentido, Feninfra e as federações Fenattel, Fitratelp e Livre defendem a criação de um selo de qualidade, que "ateste que determinada empresa que atue em serviços de telecomunicações de qualquer natureza, provimento de Internet, instalação, manutenção de redes e equipamentos e call center, utilizem somente profissionais treinados e capacitados, seguindo as normas técnicas, jurídico-fiscais, boas práticas de construção, respeitando a legislação e convenções trabalhistas e utilizem equipamentos certificados e de procedência legítima".
Mas vale aqui uma reflexão sobre o problema da precarização em si. Ele decorre de dois movimentos: de um lado, o surgimento de milhares de empresas de todos os portes prestando serviços de banda larga, muitas delas utilizando equipes de instaladores e empresas na implantação de redes que atuam na informalidade e sem o cuidado técnico necessário. O outro é a crescente pressão por reduções de custos nos contratos de instalação e manutenção, o que acaba se refletindo no final da cadeia em condições mais precárias, seja na contratação de profissionais, seja na construção das redes e atendimento aos consumidores.
Outro ponto que parece unir trabalhadores e empresas é a expectativa de dinamização e crescimento do mercado com o 5G. Todos acreditam que o edital e as promessas da nova tecnologia levarão à necessidade de mais investimentos em redes, na multiplicação da infraestrutura de fibra, antenas e torres, e no desenvolvimento de novas serviços. Essa é a promessa do 5G e por isso pedem pressa na realização do leilão. Mas a expectativa é que os benefícios cheguem a todos os elos da cadeia: operadores, fornecedores, prestadores de serviço e, obviamente, consumidores.